domingo, 11 de maio de 2008

DESLUMBRAMENTO

Participei de uma palestra em que um dos maiores especialistas em engenharia de tráfego e acidentalidade, sendo constantemente chamado para dar seu parecer sobre as possíveis causas de acidentes, ao contar um episódio sobre um acidente em que um ônibus saíra fora da estrada, veio com uma conclusão no mínimo curiosa: o acidente aconteceu por deslumbramento do motorista.

Isso mesmo! Deslumbramento!

Ele contou que uma de suas técnicas é estar no local no mesmo horário e condições climáticas do dia do acidente.

Aquele acidente havia acontecido às sete e meia, quando o sol estava aparecendo bem de frente para o motorista, no horizonte, e era um lugar onde o sol ficava ainda mais bonito, como um quadro pintado a nossa frente.

O próprio especialista confessa que esqueceu por alguns instantes o seu ofício e ficou a contemplar aquela maravilha da natureza.

Concluído o seu relatório, lá estava grafado no papel como causa provável : “Deslumbramento do motorista com o cenário do local”.

Não sei dizer se o motorista foi condenado por essa falha inadmissível para um ser humano, que é se deslumbrar com a natureza, mas de qualquer forma foi encontrada uma causa para o acidente.

Eu acho que poderia usar esse episódio para outras situações em que falhamos tais como:

Se chegar atrasado ao serviço posso alegar extasiamento com o sonho maravilhoso que estava tendo.

Se falo mal do governo, posso alegar aturdimento pelas decisões deles.

Se chego tarde em casa, e a minha mulher briga comigo, posso alegar assombramento constante.

Se brigar com a minha sogra, posso alegar falha no encantamento (da serpente).

Se brigo com o meu chefe posso alegar ofuscamento do meu brilho.

Se sou flagrado olhando para os seios de uma mulher, posso alegar deleite.

Quanto aos governantes, para qualquer caso em que são surpreendidos em alguma situação embaraçosa, têm uma gama muito grande de alegações tais como: marasmo, debilidade, fraqueza, apatia, paralisia, fascínio (por enriquecimento), estagnação e, a mais utilizada delas, o desconhecimento.

Sérgio Lisboa.

ESPERAR QUEM NÃO VEIO



Uma das coisas mais patéticas, tristes, melancólicas, solidariamente constrangedoras, é a espera de alguém que não veio.



Todas aquelas expectativas, todo aquele aparato, todo aquele preparo, toda aquela dedicação, nunca antes feita, nem para nós mesmos, ficam ali a nos olhar como que mostrando o quanto somos extremamente dedicados e detalhistas para construir nossas próprias decepções.



Quando ficamos esperando somente um telefonema ou um encontro em algum lugar da cidade, ainda é um trauma um pouco menor do que quando preparamos um jantar especial, cheio de detalhes, chegando às minúcias de colocar até perfume na maçaneta da porta.



Aí, o prejuízo sentimental é bem maior.


Ficamos com a sensação de que não somos importantes, de que estamos sempre disponíveis e, por isso mesmo, somos descartáveis.



Aquela mesa de jantar maravilhosa vai desbotando à nossa frente, as flores murchando aceleradamente, parecendo uma mesa de jantar de um navio naufragado, no fundo do oceano, misturada com lama, ferrugem e tristezas.



A gente só lembra de um momento desses quando nós somos as vítimas desse abandono, dessa descortesia, dessa desconsideração.



Muitas vezes, talvez, tenhamos feito para alguém, essa mesma coisa que tanto detestamos, tido essa mesma postura, marcando alguma pessoa, um dia, com o ferro quente do descaso e do esquecimento.



Seja sem intenção, apenas porque surgiu um imprevisto, seja por deliberada vontade de fazer alguém não se sentir bem.


O sentimento de quem fica a esperar é muito duro.


Muitos tiram isso de letra e se sentam à mesa e jantam sozinhos, mais felizes ainda, por não ter que repartir a sobremesa.


Eu considero a melhor forma de encarar uma situação dessas para não se deixar afetar muito por comportamentos das outras pessoas e manter sempre, a auto-estima elevada.



Se alguém, um dia te der um “bolo”, enfie uma vela nele (no bolo) e comemore mais uma oportunidade de ficar consigo mesmo e, quando for cortar a primeira fatia, não se esqueça de fazer um pedido: que cada “bolo” que levar nessa vida sirva para comemorar a mais perfeita sintonia de amor e dedicação que conhecemos, que é a que temos por nós mesmos.


Sérgio Lisboa.





quarta-feira, 7 de maio de 2008

A FOTO DO BRAD PITT NO BOLSO



Quando eu era menino, eu ouvia dizer:


“Homem que é homem, não vai ao cabeleireiro e sim, no barbeiro!”



Aquilo sempre me martelou a cabeça e, apesar disso, eu sempre achei que o cabeleireiro era o barbeiro de última geração.


Por isso, eu sempre ia a um cabeleireiro e sempre dizia o jeito que eu queria que fosse o corte do meu cabelo, e todos eles, sem exceção, me diziam: “Deixa comigo!”


O que isso significava? Ficava pior do que estava.



Um dia, depois de muito penar por vários cabeleireiros procurando um corte de cabelo que eu mais gostasse, ou o que é melhor, o que mais as outras gostassem, acabei tendo que tomar uma atitude mais drástica.



Resolvi levar no bolso um modelo de corte de cabelo que eu julgava ser o mais adequado para mim.



Esse modelo era retirado de uma revista de moda, aquelas mesmo em que os modelos fotográficos, eram uma mistura de príncipes nórdicos com corpos apolíneos.



Sempre que eu mostrava para o cabeleireiro que eu queria ficar igual aqueles caras da foto, eles sempre vinham com aquela mesma infame piadinha: “Só se nós fizermos uma plástica!”



Apesar de eu conseguir passar por esse teste inicial de paciência sacerdotal, estando disposto a enfrentar o mico que é tirar do bolso uma foto do Brad Pitt e dizer que eu quero um cabelo igual e, geralmente quando acontecia isso, o salão estar cheio de fofoqueiras (apesar de ser comum) e, justamente naquele dia, todos os adeptos da academia de jiu-jitsu, que fica ao lado do salão, resolverem cortar os cabelos juntos (coisa de bichonas), e te olharem como você fosse um anabolizante vencido, o resultado final (adivinhem!) foi um desastre.



Os cabeleireiros nem olham para o que você pede e muito menos para alguma foto que você leva ou que tem no catálogo. Eles apenas dizem “ok” e mandam ver na única técnica que eles aprenderam que é a de terminar o mais rápido possível, sem tirar a atenção da novela das duas que está passando na televisão.



Sem falar no assunto que faz eles largarem a tesoura a cada trinta segundos, que é comentar a separação da Lurdinha com o Marcos para ficar com a Neiva.


- Não me conta! Logo a Neiva que nunca depila o sovaco!



Tudo isso acontecendo e você ali. Vendo seu cabelo ser tosquiado, sem critérios, sem um acompanhamento psicológico. Isso mesmo!


Você tinha uma identidade antes de se sentar naquela cadeira de torturas, antes de entrar naquela casa dos horrores.


Dependendo do “profissional”, você sai da cadeira uma outra pessoa. Dá pena de ver seus amigos lhe evitando, olhando para você como se você tivesse trocado de sexo, como se tivesse votado no Lula.



Mas o pior é quando você sai de lá desiludido, com o cabelo parecendo uma mistura de trilha de rato com porco-espinho e, por causa disso, acaba tendo um mal súbito e desmaiando na calçada.



Quando as pessoas param ao redor de você para tentar socorrê-lo e procuram em seus bolsos alguma identificação ou um número de telefone e se deparam com uma foto do Brad Pitt no seu bolso.


Nesse caso, o melhor mesmo é dar um suspiro e dizer: “Um homem desses não é para fazer a gente desmaiar, santa?!”


Sérgio Lisboa.








domingo, 4 de maio de 2008

EU QUERIA PERDER O MEDO

Eu queria perder o medo de tentar.
Eu queria perder o medo de inventar o futuro.
Eu queria perder o medo de ser o que realmente sou.
Eu queria perder o medo de tentar atingir uma condição sublime.
De me desapegar.
De deixar o outro voar.
De viver com base naquilo que realmente me importa.
De acreditar que posso ter o controle de minha própria vida.
De ser paciente.
Eu queria perder o medo.
De resolver tudo aquilo que está mal resolvido em meu coração.
De ter coragem.
De ir em frente.
Eu queria perder o medo.
De ser despido de orgulho.
De não esperar o fim para descobrir as coisas que eu gostaria de ter feito.
De ter um objetivo.
De viver sem sentido.
De pensar que ainda posso mudar o meu futuro.
De me reunir mais com minha família.
De adversidades.
De oportunidades.
Eu queria perder o medo.
De procurar a felicidade dentro de mim e não dentro do outro.
De felicidade.
De liberdade.
De descobrir as causas de meus sentimentos e emoções.
De assumir o meu papel que é único no mundo.
De fazer perguntas e procurar respostas.
De ser bem sucedido ou não.
De evitar o conflito com quem amamos.
De evitar odiar com quem nos conflitamos.
De mudanças.
De dizer adeus.
De coisas importantes.
De dizer que amo.
De desapontar.
De perder.
De me iludir.
Eu queria perder o medo.
De me desculpar.
De não me culpar.
Eu queria perder o medo de acreditar que não preciso nunca mais sentir medo.
Eu queria perder o medo de encontrar a paz.
Eu queria perder todos os medos que vivem em meus pesadelos e encontrar todas as alegrias que vivem em meus sonhos.
(Extraído do tanto que se lê na Web)
Sérgio Lisboa.

A PUREZA DE UM BALÃO



Padres acusados de pedofilia já não é novidade e bem que esse padre voador, que sumiu no mar, ao reunir um grande número de balões de festa para tentar voar com eles, usando um ícone da fantasia infantil, serviria de forma simbólica para redimir um pouco os colegas de batina.



Eu li que ele já havia sido expulso de um curso de vôo livre, por indisciplina. Eu sempre imaginei que a disciplina era o básico, seja para uma ordem religiosa ou para uma atividade técnica e perigosa como a aviação.



Pobre das crianças. Hoje estão cercadas de traumas cada vez mais fortes. De serem jogadas pela janela, de padres que levam seus balões, de pornografia infantil.



Eu acho que toda a criança sempre quis saber onde vão parar os seus balões que o vento arrancou de suas mãos.



Um padre resolveu fazer esse teste em nome das crianças.


Foi embora, levando consigo nossas fantasias, nossos sonhos, nossas dúvidas, nossos balões.



Qual a razão prática de alguém querer ter conseguido bater o recorde de vôo com balões de festa.



O próximo recorde a ser batido talvez fosse o de salto de pára-quedas só agarrado ao chapeuzinho de aniversário?



E o recorde de travessia sobre um precipício caminhando sobre uma “língua-de-sogra”, movida a compressor de ar?



Poderia ser a travessia do atlântico em cima de uma bandeja de brigadeiros?



Quem sabe o recorde de tempo de permanência sem respirar com a cara enfiada dentro de um bolo?



Também o recorde de distância percorrida, caminhando sobre velas de aniversário acesas, daquelas que sempre reacendem?



Quando as crianças forem a algum parque de diversões ou a uma festa infantil, passarão a olhar com outros olhos para os balões de festa. Elas sempre lembrarão que eles podem levá-las para bem longe e nunca mais voltar.



E quando avistarem, a partir de agora, um padre, os vendedores de balões estarão proibidos de vender para eles, sob a acusação de incitação ao suicídio.



Fica dessa experiência do padre voador, uma indagação que se mistura com a devoção e bondade de um sacerdócio com a pureza de uma fantasia infantil que representa os balões:



Se essa menininha que foi jogada pelos pais pela janela, ao menos tivesse em suas mãos um balão de festa?


Sérgio Lisboa.








sexta-feira, 2 de maio de 2008

O QUE É FELICIDADE?

A coisa mais procurada, perseguida e definida como o grande presente que queremos da vida se chama “felicidade”.

Todos querem ser feliz. Todos procuram a felicidade.

Mas, afinal, o que é a felicidade?

A felicidade do fabricante de cigarros é um número cada vez maior de viciados dispostos a morrer em nome do lucro da empresa.

A felicidade do agente funerário é um aumento no número de óbitos, seja por causas naturais ou não.

A felicidade do político é com a desinformação do eleitor e seu conseqüente nível cultural aprisionado a um assistencialismo aviltado.

A felicidade do catador é um lixo cada vez mais robusto e variado para ele se deliciar com os restos dos outros.

A felicidade do jovem é uma lanchonete globalizada e um beijo roubado, sem saber que se não tiver sorte, nunca mais fugirá de nada globalizado nem de coisas roubadas.

A felicidade da criança é um brinquedo que a loira do programa infantil disse ser vital para suas vidas e que o avô, deixando de tomar um de seus remédios, também vital para sua vida, poderá adquirir o brinquedo para ela.

A felicidade do comum é um programa de auditório, seja o milenar “Silvio Santos” ou o “ridículamente moderno, “Pânico”, cujo título, quero crer, foi criado com um último sopro de lucidez, legando para a posteridade o verdadeiro sentimento que viria tomar conta de todos os que assistem a essa maravilha.

A felicidade do presidiário é uma comida quente, por um só dia, pelo menos, e poder dormir com os dois olhos fechados, nem que seja por uma noite.

A felicidade do faminto é um prato com um bocado de comida, sorrindo para ele e só para ele, sem larvas.

A felicidade para o infeliz é ver mais gente não conseguindo mais ser feliz e ver cada vez mais gente sofrendo e chorando.

O governo pagou uma pesquisa para saber como o povo brasileiro se sentia com relação à felicidade.

O resultado foi que 75,5% dos brasileiros se consideravam felizes.

O interessante é que somente 28,0 % dos entrevistados acham que o povo brasileiro é feliz.

Para entender melhor, a maioria se considera feliz, mas acha que os outros não são felizes.

Quando a gente se sente feliz, mas acha que os outros não são felizes, só tem uma explicação: ou os outros não têm inteligência emocional ou não conseguiram ainda uma boquinha no governo.

Sérgio Lisboa.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

ARREMESSADO PELA JANELA

Eu fico pensando o que é capaz de fazer o ser humano com sua inteligência, força de vontade, capacidade de transformação e de adaptação.

Todos os caminhos estão abertos, os que levam para uma melhoria geral, uma evolução espiritual, uma vitória da mortalidade contra a imortalidade, da eternidade contra a finitude e outros que levam para o lado oposto, para uma decadência constrangedora, para um abismo escuro e assustador.

Qualquer um que já tomou uma taça de vinho um dia, ou qualquer alucinógeno abridor de mentes, ou mesmo sem nada disso, ousou pensar diferente do que está estabelecido, pelo tempo ou pela força, contestam o que é o bom e o mau, o que é o certo e o errado, o que é pecado ou não.
Contestar é preciso, abrir a mente é imperativo.

Me perdoem os filósofos. O dualismo ingênuo era mais fácil de assimilar.

Houve um tempo em que se era ou do bem ou do mal.
Ou se era bandido ou se era mocinho.
Ou se era da luz ou das trevas.

O mundo chegou a um novo tempo.
O tempo em que tudo é possível.
Qualquer notícia, hoje, por mais inverossímil, por mais fictícia, não nos causa impressão, pois tudo no mundo moderno é possível de acontecer.

Se é noticiado que um homem vai conseguir dar a luz, bocejamos diante da televisão.
Se lemos que Jesus nunca existiu, simplesmente mudamos para um canal de desenho animado.

Minha mãe, com um conhecimento psicológico de causar inveja a qualquer especialista, sempre que eu e meus irmãos brigávamos por algum brinquedo ela pegava esse brinquedo, quebrava e jogava pela janela do edifício em que morávamos, deixando todos nós estupefatos, a olhar lá para baixo, com o choro trancado e vendo o brinquedo destruído e espatifado na calçada. A briga cessava na hora, pois a razão da mesma não mais existia.


Não basta apenas ter bigode e chegar a uma certa idade para ter filhos. É preciso uma maturidade de caráter e um grau de sensibilidade divinos para enfrentar essa tarefa, que infelizmente muitos não têm, fazendo mais por uma imposição social ou o que é pior, para a preservação da “linhagem”.

Ainda bem que eu vivi numa época em que só os meus brinquedos eram arremessados pela janela do edifício.
Sérgio Lisboa.

sábado, 26 de abril de 2008

ABORTAR A EUTANÁSIA

Os holandeses estão preocupados com a sua liberalidade, tão conhecida mundialmente, entre outros motivos, por ocorrências de assassinatos terroristas, que eram incomuns, pelo grande afluxo migratório e pelo aumento no comércio de drogas, acima da quantidade permitida.

Os prostíbulos legais, os cafés, onde a maconha e o haxixe são vendidos para qualquer um, a legalização do aborto e da eutanásia e o casamento gay, são instituições legalizadas naquele país.

O governo holandês já está pensando em algumas restrições para essas atividades e posturas.

Na Holanda maconha e haxixe são consideradas drogas leves e o álcool droga pesada e a preocupação com o fechamento destes cafés, onde é permitido adquirir uma quantidade pequena de maconha e haxixe, é que essa venda passe para as ruas.

Há um desconforto em torno da globalização que socializa, também, peças defeituosas e inúteis, tanto de produtos quanto de pessoas.

O país, até então, símbolo da liberalidade e que mantinha tudo sob controle, está agora, revendo suas posições e preocupado com a perda do controle de sua situação.

Num país onde é permitida a venda e o consumo de drogas, quando alguém de fora se intromete e passa a aumentar a oferta, criando um mercado negro para algo permitido, visando o lucro, faz a gente acreditar que a história bíblica de Adão e Eva não são balelas.

Mesmo num mundo onde a permissividade mais absurda fosse possível, ainda assim, alguém viria propor uma distorção e uma quebra da regra, uma mudança no estado das coisas, seduzindo, por exemplo, com a origem da liberdade (alegando ser o aprisionamento) e visando sempre o ganho material.

O que chama a atenção é que, enquanto aqui no Brasil, nem sequer cogitamos debater assuntos como aborto e eutanásia, lá na Holanda o pessoal está pensando em dar uma diminuída nestas mortes provocadas pelo Estado, como quem diminui um limite de velocidade no trânsito.

Aqui o aborto e a eutanásia não são permitidos legalmente, mas instituídos primando pela utilização do princípio da economicidade, na forma mais maquiavélica: nossas crianças já nascem morrendo de abandono e nossos velhos e doentes terminais morrem mais rápido do que o processo de desligamento dos tubos.

Sérgio Lisboa.

sábado, 19 de abril de 2008

ENGANO A COBRAR



Não pode haver coisa mais absurda, mais nada a ver, do que uma ligação a cobrar por engano.
Primeiro que ligar a cobrar já é, por si só, uma invasão, uma prova de que não se consegue administrar suas necessidades, uma vez que precisa da ligação, mas não tem crédito para essa necessidade mínima.

Segundo que, obviamente, quem liga a cobrar está disposto a pedir alguma coisa.

Agora, não conseguir administrar suas necessidades, estando sempre precisando pedir algo para alguém e ainda não tendo o cuidado mínimo necessário de se concentrar e ligar para o número certo, é merecedor de um estudo antropológico para separar os seus genes, isolando-os, para impedir a propagação de sua espécie pelo universo.

Quando recebemos uma ligação a cobrar, enquanto toca aquela música horrível, o pior arranjo de notas musicais que alguém já conseguiu reunir, deixando ainda mais sádica a tortura dessas ligações, nos já ficamos na expectativa do que vem a seguir.

Normalmente quem liga a cobrar são os bandidos de dentro da cadeia, para nos extorquir com aqueles golpes de falsos seqüestros.
Essa é a prova irrefutável, de que, quando recebemos uma ligação a cobrar, só pode ser um golpe ou uma extorsão, seja de amigos ou parentes ou de presidiários.

Quando não é isso, só pode ser uma má notícia, de um acidente, de um assalto de algum familiar, de um mal súbito, da morte de algum conhecido, de alguma coisa que, certamente não é positiva.

Ninguém liga a cobrar para nós para oferecer um bom emprego, emprestar um dinheiro, para nos dar um elogio ou para iluminar o nosso dia.
Pode ser um cunhado querendo pedir algum dinheiro, algum amigo que ficou com o carro sem funcionar e que precisa que a gente saia de casa, passe num mecânico, leve o mecânico, traga uma bateria e qualquer coisa que não dure menos que uma tarde inteira.
Pode ser a empregada ligando para dizer que conseguiu tirar a mancha das nossas calças mais caras, só que tirou, também, um pedaço da calça que estava com a mancha.
Pode ser os filhos pedindo dinheiro, dizendo que bateram com o carro, a filha avisando que o resultado do exame de gravidez foi positivo e que o namorado dela ficou transtornado e largou o emprego, ou que você não encontrou a conta do telefone de casa por que eles esconderam, pois este mês realmente foi “um pouco alta”.

Existem variações dessa estratégia de ligar a cobrar, como dar só um pequeno toque, ficando a esperar que nós liguemos de volta.
Outro tipo é ligar para nós desligando em seguida, sem antes pedir para que liguemos para ele, pois ele está quase sem bateria.

Assim como Einstein, um dos inventores da bomba atômica, morreu de desgosto ao ver o uso de destruição em massa que iriam fazer com sua descoberta, Grahan Bell, inventor do telefone, quando soube que sua invenção seria usada para fins tão nefastos, como a ligação a cobrar, caiu em depressão e tratou apenas de esperar a sua morte.
O pior é que ele recebeu essa notícia de uma ligação a cobrar.
Sérgio Lisboa.

domingo, 13 de abril de 2008

A PAIXÃO NOS SORRI NA CONTRAMÃO



Às vezes a gente discute se está ou não muito apaixonado. Se vale a pena. Se está ou não, investindo demais na relação.


Temos que investir tudo. Temos que morrer apaixonados.



A paixão é a verdadeira forma de viver, talvez a única.



Paixão em todos os sentidos. Por cima, por baixo, pelo lado.



Paixão pelo que se faz, pelo que se deseja, pelo que se tem e por que se quer ter.



Paixão que faz trocar de vida em um minuto, que chuta o balde, a santa e todos os castelinhos de areia que incansavelmente cuidamos para ninguém pisar ou ser levado pelas ondas da mediocridade.



Azar, se vamos dar de cara num poste - o vento da velocidade da paixão no rosto é indescritível.



As obras mais maravilhosas que a humanidade nos deixou, foram feitas em momentos e com sentimento de pura paixão.



Ninguém tem dúvidas de que a Mona Lisa foi pintada com uma paixão irrefreável, com um sorriso nos lábios do Leonardo.



Que mulher maravilhosa não devia estar na cabeça de Michelângelo, quando pintou a Capela Sistina.



Quão apaixonados não deviam estar todos esses artistas maravilhosos das artes, da música, que nos legaram essas obras-primas, que nos deliciam até hoje?



A sorte da paixão sorri para a gente de um carro na direção contrária, quando estamos dentro do ônibus e é preciso descer e tomar um táxi, senão só nos restará a lembrança daquele sorriso, enquanto somos coxeados por um estivador da fila do meio do coletivo.



È preciso entrar de cabeça quando estiver apaixonado, para não morrer com uma lágrima seca e a garganta presa. Vamos morrer com aquela satisfação de que fizemos tudo, de que arriscamos, de que tivemos a nossa chance e não a desperdiçamos.



Quando a paixão bater à sua porta, peça desculpas para o teu passado e o teu presente, pegue em sua mão e vá. Não olhe para trás. A paixão sabe o caminho para a felicidade. Se vai durar muito ou se vai durar pouco, se a vida toda ou só meia hora, não importa. Se entregue a paixão. Saia do coma e retorne à vida. Reaja!



- Marido! Marido! Acorda! Você está falando dormindo!


- O quê foi mulher?


- O quê foi o quê? Levanta, pára de falar dormindo e vai arrumar a pia da cozinha que está vazando desde ontem!


Sérgio Lisboa.







sábado, 12 de abril de 2008

FORMIGAS CORRUPTAS



Uma nova pesquisa sugere que as formigas são traiçoeiras, egoístas e corruptas, contrariando a imagem de insetos de convivência harmoniosa e com pré-disposição para colocar o bem da comunidade acima de preocupações pessoais.
Cientistas descobriram que determinadas formigas conseguem burlar o sistema, garantindo que seus filhotes se tornem rainhas reprodutivas ao invés de operárias estéreis.
A descoberta dos cientistas prova que, embora colônias de insetos sociais freqüentemente sejam citadas como prova de que sociedades possam ser baseadas em igualdade e cooperação, elas não são tão utópicas quanto parece.
Até as formigas! Aqueles insetos minúsculos que todos nós apontávamos como os mais dedicados, os mais organizados, o exemplo do mais sagrado, do mais intocável, do mais divino procedimento que, apesar de tudo e de todos, estavam sempre ali para nos ensinar o que é um sacerdócio, uma abnegação (faz tempo que quero usar esse termo e não tenho chance!).

Aqueles seres que pareciam ser os mais puros representantes de Deus na terra, a coisa mais perfeita do universo, com ou sem explosões cósmicas, ela, a formiga, que sempre foi nosso exemplo.

O que eu vou dizer agora para os políticos corruptos, para as distorções da sociedade, para os apadrinhamentos, para as maracutaias, para todos aqueles que faziam tudo aquilo que nós execrávamos, dizendo que era antinatural, que era uma característica só do ser humano, que estávamos abaixo dos insetos.

A formiga tinha que estragar tudo. Que decepção, Dona Formiga!
Andando por aí como quem não quer nada, levando aquelas folhas sobre a cabeça, construindo formigueiros no nosso quintal (certamente super-faturado), levando nas costas os nossos doces, deixando a todos com um sentimento de compaixão daqueles pobres e indefesos seres, e ainda por cima nos dando umas picadas de vez em quando.

É preciso fazer uma retratação histórica para com a cigarra. Ficava do lado de fora daquele ninho de corrupção, cantando, certamente hinos vanguardistas, e lançando manifestos contra a corrupção (principalmente as espécies de cigarras mais raras como “Jaguaris” e “Ziraldis”), acabando abandonada à própria sorte durante todo o inverno, num exílio político na Sibéria.

Se eu fosse a cigarra, entrava com um pedido de indenização ao governo federal, por todos os maus-tratos sofridos, desde o descobrimento do Brasil até agora.

Bom, pelo menos agora podemos dizer, sem medo, que todo piquenique tem formiga, assim como todo banquete tem corrupção.
Sérgio Lisboa.

domingo, 6 de abril de 2008

PREPARAÇÃO FÍSICA

Estava assistindo a uma matéria em que o famoso BOPE, a tropa de elite da Polícia Militar do Rio de Janeiro, já retratada em um filme de muito sucesso, contratou um preparador físico, muito competente, por sinal, para dar-lhes preparo físico e trabalhar as articulações e os desgastes físicos que os mesmos enfrentam no seu dia a dia, prevenindo assim, futuras lesões que hoje contribuem para a baixa de um número considerável de policiais.

O trabalho desse profissional consiste em focar seus exercícios nas situações práticas que os policiais enfrentam no seu dia a dia, levando em conta, inclusive, o tipo de terreno e local onde estarão atuando.

Como o Rio de Janeiro, infelizmente, vive uma verdadeira guerra civil, com baixas dos dois lados, dizem, que o número de estiramentos provenientes de escorregões ao pisar nas vísceras dos mortos é muito grande e, inclusive, há um exercício específico para evitar essa lesão, considerada a maior causadora de afastamento dos soldados.

O dedo indicador é outro elemento anatômico que sofre muito o desgaste do constante uso, em função de ter que apertar o gatilho dos fuzis.

Esse trabalho, muito importante para a manutenção da saúde dos profissionais, logo será levado para outras profissões, que até então nem sequer pensavam na hipótese de terem junto de si, um preparador físico, principalmente se for levado em conta o custo que a perda temporária de um bom profissional acarreta.

A classe política já está abrindo um processo de licitação para a contratação de preparadores físicos (por enquanto estão sendo nomeados de forma emergencial, com um leve super-faturamento salarial), dada a necessidade que esse grupo tem de prevenções musculares específicas.

As partes musculares mais afetadas nos políticos, que gerou a necessidade destes profissionais são as mais variadas.

O dedo indicador, que é muito usado balançando lateralmente para negar com veemência qualquer deslize.

Além do dedo indicador, mais os dedos polegar e médio, que em conjunto, esfregando-se mutuamente, dão o sinal de que querem dinheiro.

Os músculos faciais também merecem uma atenção especial, uma vez que são forçados permanentemente a manter um eterno sorriso, mesmo quando a casa está caindo.

O pulso e a palma da mão sofrem muito também, pois são muito usados para dar tapinha nas costas dos eleitores e para aplaudir as outras autoridades.

Sem dúvida nenhuma, um músculo que merece uma atenção muito especial do treinador é a língua. A língua que é responsável pela maior parte do sucesso de um político. A língua é que faz ele arrancar o teu voto e é debaixo dela que ele esconde o salgadinho que você ofereceu (ele só come caviar) em sua casa, além de ser muito utilizada como garantia de emprego das estagiárias.

A maior dificuldade que o preparador físico terá de se preocupar com a questão da preparação física do político, é com o uso da linguagem técnica utilizada, sendo terminantemente proibida a expressão “trabalhar a musculatura”, uma vez que, trabalhar é um termo proibido entre eles.

Sérgio Lisboa.

TEMPO DE VIDA



Tem uma piada em que um médico diz para um paciente terminal, que ele tem só três meses de vida, e o paciente, ao dizer que pretendia pagar o tratamento com seis cheques mensais, o médico sai com essa:
- Tá bom! Seis meses de vida, então!

O ser humano nasce e já começa a sua luta até o fim de seus dias contra as várias doenças que o mundo disponibiliza. Até mesmo lá no útero, já está em contato com doenças ou problemas que porventura tenham surgido na concepção ou adquiridas da mãe.
Nascemos e vamos nos deteriorando aos poucos, desde o primeiro dia de vida.

Um pessimista dirá que não temos a vida inteira pela frente, e sim, a morte inteira nos esperando lá na frente. Então a nossa vida, por mais saudável que a levemos, marcará um encontro no futuro, com uma doença e, inevitavelmente, com um médico.

Sempre me chamou a atenção os casos em que os médicos decretam, proferem um “veredicto”, determinando um prazo máximo de vida aos seus pacientes. Eu sei que eles trabalham em cima da complexidade das doenças, de sua experiência, baseados em seu conhecimento acadêmico e científico e a mais forte das leis que é a lei das probabilidades.

Eu soube de uma história em que um médico disse a uma mulher que, com toda a certeza, não tinha mais do que seis meses de vida. Ela aceitou resignada e, a partir daí, mudou completamente sua rotina, passando a viver cada dia como se fosse o último, aproveitando cada minuto de seus últimos seis meses nessa vida.

Fez tudo o que sempre teve vontade, sorriu mais, brincou mais, viajou mais, se reconciliou e mudou radicalmente sua vida para melhor.

Nós estamos sempre sob a mira de pessoas que querem dar rumos às nossas vidas, com suas especialidades religiosas, políticas, científicas, técnicas, experimentais, sentimentais, etc., redescobrindo a roda a cada pneu furado.

Desde seu último encontro com o médico em que ouvira a pior coisa que alguém pode ouvir, o vaticínio de sua morte, quando ele havia lhe dito aquilo que todos, lá no fundo, mais tememos, que não viveria mais do que seis meses, ela respondeu que já se passava doze anos daquele encontro fatídico com seu médico. Doze anos! Onze anos e meio vivendo como se fosse morrer a qualquer momento.

Indagada se ela nunca havia pensado em processar o tal médico, ela olhou com o sorriso mais puro que já fora testemunhado e respondeu:
- Processar? Eu queria muito é agradecer a ele. Ele positivamente, transformou a minha vida.

Sérgio Lisboa.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

A MULHER DO CARTÃO DE CRÉDITO

Sabe aqueles dias em que te pegam completamente vulnerável, em que se um gato te lambe você já propõe casamento e só não passa teus bens para ele porque não sabe o seu nome completo?

Tocou o telefone. Foram só alguns minutos, mas aquela voz doce no ouvido valeram por anos:

- Senhor Gerson. O senhor sabe que o nosso cartão de crédito tem as maiores vantagens, não sabe?”

- Sei meu amor! O teu cartão enlouquece qualquer um.

- O quê senhor Gerson?

- Não, nada. Continue, por favor!

-Senhor Gerson?

- Por favor, minha querida! Repita!

O quê, Senhor Gerson?

-Ai! Esse “Senhor Gerson” me deixa louco!

Não tem problema. Nosso cartão cobre consulta psiquiátrica também, Senhor Gerson.

Continue, por favor! Quero saber tudo o que tens para oferecer!

- Então, Senhor Gerson. Além das vantagens que todo cartão de crédito oferece ao senhor, o nosso tem algo mais...

- Pára, pára, pelo amor de Deus!

- O quê foi Senhor Gerson?

- Esse algo mais, vai acabar comigo.

- Senhor Gerson, o Senhor sabe das coisas. Só o nosso cartão tem esse diferencial e além de tudo, não há cobrança de taxa de anuidade no primeiro ano e o Senhor tem chaveiro e encanador de graça.

- Chaveiro e encanador de graça? Eles vêm com essa voz e de mini-saia?

- O quê Senhor?

- Quero dizer: não dá para trocar um encanador e um chaveiro por uma atendente?

- Senhor Gerson???”

- Olha! Vou te dizer uma coisa: Minha mulher está dormindo. Estou aqui sozinho, carente, precisando de uma companhia, e você vem com essa voz suave e macia, no meu ouvido, me dizendo que tudo o que eu sonhei está sendo oferecido para mim, como se eu fosse o último homem do universo, e agora se faz de desentendida. Faz favor!

- Seu Gerson, eu devo lhe avisar que essa nossa ligação está sendo gravada!

- Que ótimo! Estamos sendo gravados! Aí pessoal!

- Eu quero fazer amor com essa atendente. Com a telefonista. Com o chefe de produção. Eu quero é ser feliz. Alguém aí quer me dizer que me ama?

- Alô! Alô! Tem alguém aí?

- Sou eu, meu amor! O Gersinho!

- Eu nem queria esse cartão mesmo!

- Esse cartão é de boiola!

- Vou fechar contrato com o concorrente que é cartão de macho!

- Não dão isenção nenhuma e na primeira oportunidade oferecem tudo.

- Uma loucura!

- Tchau! Não me liguem mais!

- Alô? Alô? É brincadeira! Alô?

- Me liguem de novo, por favor, que eu fecho o contrato!

- Não precisam nem dar isenção.

- Alô? Alô?

-Quem era amor?

- Ah! Querida! Esse pessoal que vive querendo enfiar cartão de crédito goela abaixo da gente. Cortei de cara. Comigo eles não tem chance nenhuma.

- Ai, Gerson! Sou obrigada a te dizer. Ligou um tal de Roberto, oferecendo um cartão de crédito, com um voz tão doce, com um jeito tão meigo, que eu não resisti e acabei aceitando a proposta.

Sérgio Lisboa.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

O NÚMERO DA BESTA

Todo mundo está careca de ouvir que a numerologia tem um efeito prático real nos nossos destinos.

Muita gente, para alterar suas personalidades, no sentido de se transformar em outras pessoas, geralmente melhores, descobriram que, assim como existe a lipoaspiração, que transforma barrigudos em tanquinhos, a simples mudança de algumas letras de seus nomes, passa a mudar a sua postura e o seu destino radicalmente.

O somatório das letras do meu nome totaliza quatro. As pessoas regidas por esse número são definidas com honestas, leais e perseverantes. Meu Deus do céu! Com essas características o mundo vai me comer vivo. O que eu quero é ser cruel, volúvel e ganhar na primeira. Preciso mudar minha numerologia urgentemente.

Vou procurar outro número. Quem sabe o número um? Independente, pioneiro e criativo. Tem a ver: não me apego a ninguém, consigo alguma virgem e vario de posições como ninguém. Não é tão mau.

Número dois: muito amoroso e compreensivo. Socorro! Número dois nem morto.

Número três: muito romântico e sedutor. Muito romântico? Estou fora. Eu quero é me dar bem!

Número cinco: aventureiro nato. Não é ruim, mas vou acabar pendurado em algum penhasco.

Número seis: carinhoso, compreensivo, meigo. Querem me derrubar!

A maior parte desses números definem verdadeiros anjos. Eu quero o número da besta! Vou prestar mais atenção nos números dos políticos (a maioria deve ter “666” escondido no couro cabeludo).

Número sete: frio, calculista e com personalidade. É isso! Não pode ser melhor.

Para transformar meu nome que soma quatro em sete, basta suprimir o “i”, enfiar um “J” no lugar do “G” e um “C” no lugar do “S” ou, ao invés de me chamar Sérgio seria “Cérjo”, ou mudo radicalmente e passo a me chamar Aderbal.

Minha última namorada, Célia Regina, fazendo as contas da numerologia de seu nome, somava o número dois, que era muito amorosa e compreensiva. Achei que tinha ganho na loto.
Ganhei foi uma raspadinha vencida. Não dava certo, de jeito nenhum e não sabia o porquê. Tempos depois que eu fui descobrir que a Célia, não era Célia com “C” e sim com “S”. Não me lembro que número deu mas era dominadora, cruel e com tendências homicidas.
O analfabetismo do pai dela e do escrivão quase causaram uma tragédia em minha vida. Célia com “S”. Veja se eu posso!

Vou lhes deixar um conselho: mesmo colocando tudo a perder no primeiro encontro, ao conhecerem uma outra pessoa, exijam a carteira de identidade e uma certidão negativa dos cartórios de registros, atestando que não houve nenhuma alteração no seu nome.
A propósito: fujam de Célias com “S”.
Sérgio Lisboa.

sábado, 29 de março de 2008

CASAIS QUE BRIGAM VIVEM MAIS



Um estudo realizado pela Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, sugere que os casais que resolvem suas diferenças e manifestam seus sentimentos de raiva ou revolta em relação ao outro, vivem mais.



Justamente agora que a Lei Maria da Penha surgiu como uma vitória, não só das mulheres, mas da humanidade, vem uma notícia destas.



Já tem marido que batia na mulher, hoje separados, que está exigindo uma reposição financeira pela melhoria proporcionada na qualidade de vida da ex-esposa, garantindo vários anos de vida a mais para a mulher, uma vez que a espancava periodicamente.



Outros até já começam a dizer ao baterem nas mulheres: “Toma e me agradeça! Este tapa já te garantiu mais três meses de vida”!



Já saiu, inclusive, anúncios nos classificados dos jornais, esposas procurando homens que batam em mulheres, pois seu marido atual é um banana que não dá nem um tapinha e, desse jeito, a mulher não chegaria nem aos sessenta.



O estudo se concentrou em críticas consideradas injustas e inadequadas, onde o risco de morte dobra.


Isso me lembra uma frase de um filme, em que uma moça, perguntada se seu marido lhe batia, ela prontamente responde: “Ele nunca me bate. Só quando eu mereço!”



Nos casos em que as críticas foram consideradas justas, não houve indignação ou rancores por parte dos membros do casal.


Portanto, se algum de vocês ouvirem os vizinhos jogando panelas uns nos outros e aos berros no apartamento ao lado, podem ficar tranqüilos e transmitam o mesmo para seus familiares, pois ali, no centro daquela confusão, está presente um motivo muito nobre, uma indignação com motivos procedentes, com alguém lutando para corrigir uma injustiça.



Ainda, segundo o estudo, uma das tarefas mais difíceis para os casais é saber se reconciliar após uma briga. Esse aspecto foi considerado até positivo nos dias atuais, em que todo o nosso tempo é tomado para garantir a sobrevivência e não é possível perder momentos preciosos de sessões de longevidade, com coisas banais tais como reconciliações.



A sociedade médica deve lançar uma nota, em breve, com um pronunciamento oficial, explicando para as pessoas que não saiam por aí trocando bofetões em seus lares, pois ainda não é considerado um preceito médico reconhecido, sendo apenas um estudo preliminar.



Se for muito grave a situação em que a pessoa se encontra, com escasso tempo de expectativa de vida, clinicamente confirmado, aí sim, ela pode procurar uma clínica de espancamento que tenha alvará e que seja reconhecida como de ilibada conduta profissional (não pode ser essas que batem por prazer).



Sérgio Lisboa.


sábado, 22 de março de 2008

É BOM SER CASADO?



Embora ser casado seja tão comum quanto ser solteiro, já fui perguntado mais de uma vez, sobre como é ser casado.
Em todas as ocasiões, dei um sorriso de surpresa e disse sem pensar: -É bom!
“É bom!??”. Acho que não convenceu muito.

Outras vezes, como não me veio uma resposta na hora, resolvi ser espirituoso e bem-humorado e disse : “Eu não posso te responder ainda, pois estou tentando fugir da igreja até hoje”.
É brincadeira pessoal, porque minha mulher também é minha leitora (Oi, amor!).

Eu acho que ser casado, independente da cerimônia religiosa e do estado civil tem, como todas as coisas, muitas vantagens e desvantagens.
Por exemplo: sendo casado, a gente só tem um lado da cama para se levantar.

A aceitação social e profissional, na maioria das vezes é melhor para os casados, o que já é uma vantagem.
Vocês já viram, né? “O quê? Você é solteiro? Sei não! Ou é bicha ou maconheiro!”
Além do mais, ser solteiro deve ser um saco: todos os dias temos um(a) namorado(a) novo(a).
Aqueles corpos novinhos, tudo duro, arriscando quebrar os dentes. Não me serve.
Se chega tarde ou se chega cedo, não tem ninguém para brigar contigo, nem uma reclamação. Isto é deprimente.
Se a descarga do banheiro está vazando, pode se escolher qual a estação do ano que vamos resolver arrumar e não qual o turno do dia de hoje.

Tem gente que é casada e vive como se fosse solteira. Faz o que quer, não se preocupa com os filhos, não perde nenhuma chance de ficar com alguém que surge, só tem que gastar um pouco numa parede a prova de ruídos para não dar show todos os dias para os vizinhos e comprar um capacete para o pau de macarrão. O resto é moleza.

Esses dias, o meu irmão chegou para a mulher dele, dizendo que iriam completar 15 anos de casado.
Ela, toda alegre, disse: “Que ótimo, amor! Vamos comemorar?
E ele, para surpresa de todos, disse: “Vamos comemorar, nada. Eu vou comemorar. Com 15 anos de casado, já tenho direito a liberdade condicional”.

O meu casamento, isso eu tenho certeza, vai durar para sempre.
A minha confiança nisso que eu afirmo para vocês, não é por causa de uma união abençoada, de um amor eterno, de uma maturidade de caráter, de um encontro de almas gêmeas, nada disso.
A minha certeza de afirmar que meu casamento vai durar para sempre é que prometemos ficar juntos, até o dia em que concordarmos com alguma coisa.
Pelo andar da carruagem, vamos ficar juntos para sempre.
Sérgio Lisboa.

O EFEITO BORBOLETA



Todo mundo já ouviu falar deste livro e desta teoria que prega que, qualquer ação, por menor que seja, em qualquer lugar do planeta, sempre ocasiona algum tipo de conseqüência, em outro ponto, mesmo que distante do inicial.
A tese-símbolo desta teoria é que, o simples bater de asas de uma borboleta no oriente, acaba gerando uma inundação no ocidente.

Indo nessa linha, sou capaz de me lembrar de vários fatos que fizeram a história de nosso país, que, de alguma forma, dão respaldo á essa teoria:

A eternização do Faustão, que parecia apenas uma coisa inconseqüente, acabou gerando o programa “Pânico Na Tevê”;

As novelas que hipnotizam as mulheres, que acabaram contribuindo para o alcoolismo nos maridos;

O futebol na tevê, que fez a mulher começar a olhar e pensar no vizinho, que para nossa sorte, também vê futebol (o único vizinho que não gosta de futebol, também não gosta de mulher);

A renúncia de Collor, embora não tão simples, gerou dois, ou quem sabe três mandatos de Lula.
Assim como a atuação de Collor foi bem menos poética do que um bater de asas de uma borboleta, os dois ou três mandatos de Lula são bem mais arrasadores do que uma inundação.

Aliás, essa teoria casa com os problemas brasileiros de tal forma que não se consegue imaginar outros extremos : um governo que é frágil como o bater de asas de uma borboleta, quando se posiciona externamente e arrasador como o efeito de uma inundação, quando tem que ter posições com relação às intervenções internas.

Isso faz a gente até ter pensamentos mais criativos com relação a essa teoria, lançando o efeito capacho.

Essa teoria, do efeito capacho, reza que sempre que alguém se deixa pisar por outro alguém, em qualquer parte do mundo, acaba gerando um efeito dominó, em que todos acham que podem pisar em qualquer um, o que causa uma apatia geral e uma aceitação passiva das ingerências externas, inclusive em nosso meio.

Estou falando de nossa casa, de nosso emprego e de nosso país.

Quanto a mim, eu acredito no efeito borboleta, pois um dia em que eu saí, por aí, solto porque minha mulher estava viajando, livre como uma borboleta, acabei com um pau de macarrão na cabeça, quando ela voltou, que até hoje ostenta um galo na minha testa.
Essas teorias funcionam mesmo!
Sérgio Lisboa.

sexta-feira, 21 de março de 2008

DESCOBERTO COMO NASCE O CÂNCER

A economia de mercado, se não fosse tão determinante para nossas vidas e, geralmente, de forma negativa, daria para ser um prato diário delicioso para textos humorísticos.

Quando é somada ao jornalismo e apresentada somente com uma chamada no jornal ou na televisão, fica ainda mais hilária, vista isoladamente ou, da pior forma, ao lado de outra notícia completamente antagônica a ela, que juntas, acabam mais parecendo uma pegadinha do que uma notícia.

O sonho de todos é que, pelo menos uma vez, nem que seja por um mísero dia, o preço dos combustíveis baixe, mas as notícias se apresentam assim:

“Preço do barril de petróleo cai”.

“Gasolina sobe de novo”.

Os criadores do horário de verão, que faz com que o indivíduo leve três meses para se adaptar, e quando isso acontece, retorna o horário normal, levando mais três meses para se readaptar, para seis meses depois repetir essa agressão ao organismo, retribuem o nosso esforço com essas notícias:

“Horário de verão traz economia de 1%”.

“30% do PIB cai no ralo do desperdício público”.

A firmeza do governo em relação à crise econômica mundial parece não ser compartilhada pela maioria do povo brasileiro, mas podia não ter sido percebida, se os revisores jornalísticos tivessem mais cuidado:

“Governo não teme queda das bolsas no mundo”. “Crescem as vendas de papel-higiênico”.

Mas existe um tipo de diagramador, cínico, que quando está indignado, faz umas misturas de chamadas jornalísticas, que joga ao mar, feito garrafas-mensagens, como que a dizer :”bebam um pouca da verdade”, e acaba publicando pérolas como essa:

“Descoberto como nasce o câncer”.

“Iniciada a reforma política”.

Sérgio Lisboa.

ENGARRAFAMENTO CEREBRAL



Pesquisadores nos Estados Unidos descobriram uma razão plausível para a dificuldade que as pessoas têm de fazer duas coisas ao mesmo tempo. Um "engarrafamento" ocorre no cérebro quando as pessoas tentam realizar duas tarefas simultâneas, mostra uma pesquisa.

Alguns especialistas em trânsito, inclusive, já aproveitaram essa descoberta para explicarem às pessoas que os “engarrafamentos” de veículos nas cidades nunca existiram, eram apenas uma projeção neuro-psíquica dos nossos engarrafamentos cerebrais.
Este fenômeno, conhecido como "interferência da tarefa dupla" (essa nomenclatura foi difícil de criar), mostrou que a atividade neurológica faz uma “fila” para processar cada tarefa.

As coisas começam a fazer mais sentido, pois se nosso próprio cérebro faz uma fila para atender cada comando, imaginem se não iria ter fila no atendimento do INSS, onde a espera para os comandos cerebrais dos atendentes já está saindo pelos ouvidos, parecendo um brinco de cigana.

Agora eu posso respirar mais aliviado! Acabaram-se as brigas com a minha colega de serviço. Ela sempre falou que era incapaz de respirar e pensar ao mesmo tempo e eu não tinha paciência para com ela.
Desculpa, colega! Como fui insensível.

Outro que deve ter algum dano cerebral é o meu chefe, pois ele não consegue elogiar duas pessoas ao mesmo tempo, mas consegue reclamar de oito, enquanto come um pacote de biscoitos.

Também não vou mais reclamar do meu cunhado, quando ele esquecer de pagar o que me deve (o coitado sempre dizia que não conseguia me pedir mais dinheiro e me pagar ao mesmo tempo).

Um fato curioso foi o resultado da mesma pesquisa, feita com os participantes do “Big Brother”, onde se descobriu que não eram afetados por essa “interferência”, uma vez que nunca tinham dado mais do que um comando para seus cérebros, desde que nasceram.

Outra exceção do estudo foi com o grupo da classe política, pois foi descoberta uma região no córtex cerebral deles, que permitia fazer duas atividades simultâneas, dando-lhes condições privilegiadas (privilégios é com eles mesmo) para que possam servir à Deus e ao Diabo ao mesmo tempo.

Alguns estudiosos do assunto divergem dessa tese, alegando que não é o córtex deles que é diferente, e sim um novo fenômeno chamado “ interferência do jeitinho fácil”, onde suas células desenvolveram uma forma de passar na frente nos comandos cerebrais, numa espécie de venda de senhas da fila das atividades neurológicas.
Sérgio Lisboa.