sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

REENCARNAÇÃO

Raskolnikov, personagem de “Crime e Castigo”, de Dostoievski, chega à conclusão de que Deus não existe, parando em uma encruzilhada, em que tem que decidir o caminho a seguir: ser bondoso e sensível, acreditando que haverá um resgate ou um juízo final, ou qualquer prestação de contas na outra vida, ou acreditar que tudo acaba com a morte, e, então, não havendo necessidade, nem razão de ser bom e justo e que pode fazer as maldades que achar mais convenientes para a sua própria satisfação (tem gente que já escolheu esse caminho a muito).

Será que existe vida após a morte?

Se levarmos em conta a classe política, dá para duvidar se existe vida antes da morte.

Ou será que morremos e tudo acaba, ali mesmo, embaixo da terra?

Depois de tudo o que aprendemos e evoluímos, durante a nossa vida, acabamos virando irmãos dos tubérculos, parceiros do nabo?

Casos em que a pessoa, após sofrer um trauma profundo, numa parada cardíaca ou num acidente de trânsito, por exemplo, revela que viu toda sua vida, passando de trás para frente (como aqueles filmes que ficam encalhados nas locadoras, sempre sugerido pelos donos das mesmas), em questão de segundos, nos dão alguma pista sobre o que acontece conosco, quando estamos na fila da outra vida.

Ver tudo o que fizemos, desde a nossa infância e detrás para frente, não é fácil, não.

A nossa primeira relação sexual, fica mais parecendo uma experiência homossexual (para alguns, não apenas parece).

A nossa primeira comunhão, um exorcismo.

O nosso primeiro pé na bunda, um passo de balé.

O nosso primeiro trabalho, um desemprego.

O nosso primeiro enterro, um renascimento.

O nosso primeiro casamento, uma besteira (esse é besteira sempre, não importa o lado).

Nosso primeiro filho, em nossas mãos, uma água que escorre.

Uma vez sofri um acidente de trânsito, e segundo os socorristas que me atenderam, estava, praticamente morto, e, naqueles instantes, o que me lembro é de uma luz, que me atraía, e no fim dela, minha mulher, com um pau de macarrão, gritando :”Volta, covarde! Não vai ainda! Hoje é dia de super-mercado”!

Quando estamos dormindo, em nossos sonhos, temos as mais infinitas experiências e emoções, que muitas vezes são extremamente reais. Mas quem nos observa, não vê mais do que um corpo, deitado, adormecido, como se estivesse morto.

Talvez seja essa a verdadeira realidade da morte. Todos em volta de você, enquanto está deitado, com vários prazeres e emoções sentindo, em seus sonhos, mas passando para os que te vêem, a imagem da inércia, da morte, do fim. Sem falar que está se deteriorando gradativamente.

Se existe mesmo resgate e reencarnação não dá nem para morrer tranqüilo, pois quem acha que viveu em uma época de fartura de alimentos, por exemplo, pode voltar em 2050 e viver uma era totalmente sem água.

Já pensaram: comeram e beberam do bom e do melhor e voltam reencarnados numa época em que o banho é uma vez por ano, e com água suficiente só para enxaguar as pálpebras.

Seus banquetes substituem, agora, o caviar e a lagosta por areia e gafanhoto?

E os personagens, que hoje fazem parte de sua realidade, invadirão a tua reencarnação, na mesma proporção de antes.

Por exemplo: haverá Lula lá, Silvio Santos (este parece que comprou sua própria máquina de reencarnação) e Faustão.

Acho que estou fazendo confusão :é reencarnação, não purgatório.

Purgatório ainda existe, não é? Pelo que eu sei a Igreja só revogou o Limbo. Sei lá!

Quanto a mim, eu fico com o Millôr : “Eu acredito na reencarnação: a prova mais forte disso é o croquete”.

Sérgio Lisboa.