domingo, 22 de junho de 2008

A ÚLTIMA FRONTEIRA

Teve um episódio da série Jornada nas Estrelas, o antigo, com Willian Shatner e Leonard Nimoy, em que um irmão mais afastado do Spock, tinha uma técnica em que ele arrebatava seguidores com uma coisa de magia que consistia em tirar a dor das pessoas, na medida em que elas lhe falavam sobre o que lhes doía no passado.

Mais ou menos o que os psicanalistas fazem hoje com a gente e, principalmente os pastores modernos que se proliferam tão rapidamente quanto a necessidade das pessoas.

Fale-me de sua dor, que a sua dor o libertará.

Quando alguém aceitava a sugestão e falava do que tinha engasgado em sua garganta e no seu peito, trazendo consigo uma mágoa e uma angústia tão peculiares a todos nós, ele repassava aquele filme diante da pessoa, dando-lhe a chance de mudar a sua frase naquele momento devastador, de mudar a sua atitude ao rever a sua patética atuação na única fala mais importante que a vida lhe dera e, como que por encanto, a pessoa se libertava, ao mesmo tempo em que se transformava, contraditoriamente num seguidor cego dos passos daquele libertador de sua dor.

Não muito diferente de como as coisas funcionam hoje.

Infelizmente, acho que precisamos urgentemente de guias, sejam eles espirituais, artísticos, políticos ou qualquer tipo que nos façam acreditar que é preciso acreditar que tem que ter alguém que nos faça acreditar, não importa em quê.

O capitão Kirk, o nosso herói, o homem que detinha em si mesmo, a última fronteira da razão, o equilíbrio e a coragem que, audaciosamente, nenhum homem jamais experimentou foi, naquele episódio, confrontado com o nosso personagem que tirava as nossas dores, que nos traria o alívio, que faria com que acreditássemos que um novo mundo é possível, e, se quiséssemos, em suaves prestações.

E, ao ser abordado pelo tal ser “iluminado”, esse disse para o nosso herói: “Fale-me de sua dor, que eu a tirarei e serás um homem livre!”

Foi quando o Capitão Kirk, respondeu como um penetra na festa da mesmice:

“Eu não quero que tires a minha dor! Eu preciso dela, pois é ela quem faz o que eu sou!"

E o homem foi embora.

Fico feliz em saber que não foi totalmente perdido aquele tempo em que eu e a televisão fomos confidentes.

Sérgio Lisboa.