terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O PREÇO DA ALMA



(Sérgio Lisboa)
Esta calamidade que quase dizimou o estado de Santa Catarina me lembrou de uma estória que li sobre um padre de um município brasileiro que durante uma enchente foi procurado pelo prefeito da cidade para que, de forma emergencial acolhesse os flagelados no salão paroquial da igreja, talvez o único lugar mais adequado e espaçoso da cidade. O padre prontamente aceitou o pedido do prefeito, surpreendendo o mesmo com uma pequena condição: - Não tem problema nenhum, senhor prefeito. São apenas cem reais a diária.

A aproximação da igreja ou da religião com o dinheiro e as posses é tão antiga e estreita quanto o confronto do bem e do mal. Algumas delas trabalham tanto esta idéia que chegam a passar mais de setenta e cinco por cento do sermão alertando os fiéis sobre a necessidade ou desnecessidade, sobre a importância ou sobre a superficialidade do dinheiro e das posses. Falando bem ou falando mal, mas sempre falando nele.
O evangélico com seu dízimo, o católico com sua oferta, o espiritista com sua consulta, o pai-de-santo com seus trabalhos, os ateus com seus achaques, todos parecem (eu disse parecem), se direcionar para as posses materiais e menos para as recompensas espirituais.

Pensar em se drogar como uma forma de fuga também não é um bom negócio, pois o preço a pagar também é muito alto e à vista.
Esquecer tudo e ir se divertir em um bingo ou cassino é tão nefasto financeiramente quanto qualquer outra escolha.
Sair para consumir produtos no comércio como uma forma de distração nos deixa de joelhos perante os traficantes de créditos deste país.

O que fazer, então?
Quando não agüentarmos mais o confisco do nosso dinheiro pelo governo, nos afastarmos das religiões por elas também cobrarem de nós a sua parte, fugirmos de drogas, jogos, consumos e acabarmos finalmente sentados em um divã, completamente perdidos e necessitados de um auxílio médico, descobriremos que estamos diante do último predador de nossas economias.
O pior é quando o médico, após nos segurar durante seis meses, sempre cobrando a consulta, sentindo-se impotente frente aos mistérios da vida e da fragilidade da ciência, nos olha nos olhos e diz: - O teu problema é espiritual.