segunda-feira, 2 de junho de 2008

APRENDI COM UM MENDIGO



Certa vez, numa noite muito fria de inverno, estava parado em um ponto de ônibus, quando um mendigo que estava acomodado atrás da parada, com sacos e bugigangas em volta dele, parecendo um acampamento, se aproximou de mim e me pediu fogo para o seu cigarro. Um toco de cigarro, na realidade.


Eu tinha comigo uma caixa de fósforos e alcancei para ele. Ele, com muita elegância, apesar de tremer muito, acendeu sua bagana e devolveu-me a caixa de fósforos. Sensibilizado com aquela situação que presenciara, sem sequer pensar, disse a ele que poderia ficar com a caixa de fósforos, que eu a daria para ele.


Ele voltou para o seu canto sem me dizer nada e eu continuei ali parado, esperando o ônibus.



Qual não foi a minha surpresa quando ele surgiu a minha frente, com as duas mãos, que estavam pretas de muito sujas, assim como as unhas, carregando em forma de concha, restos de verduras, retalhos de mortadelas e muitos legumes e, estendeu as duas mãos para mim e disse:


- Toma! Leva para casa para você fazer uma sopa!


Surpreso com aquela atitude e, ao mesmo tempo sensibilizado pelo espírito de gratidão e generosidade dele, agradeci dizendo, com todo o cuidado, que não podia aceitar.


Ele deu um sorriso de quem tinha cumprido o seu dever e um certo alívio por ter ficado com um pouco mais de alimento para o dia seguinte.



Essa história sempre me vem à mente como uma grande lição que aprendi em minha vida.


Daquelas histórias mágicas que não tem nenhum outro personagem como testemunha, numa noite fria, parecendo aqueles cenários criados especialmente para encenar uma fábula.


A moral da história, para mim, é que sempre temos alguma coisa para dar e, mais do que isso, é preciso retribuir as dádivas que recebemos, por menores que sejam.


Dar e retribuir, reconhecer e agradecer, ajudar e ser ajudado são atitudes que parecem esquecidas num mundo onde todos se acham no direito de só receber, de só exigir, de só ganhar, de só levar vantagem, do “ter” superando o “ser” do “ganhar” superando o “dar”, a qualquer custo.


Aprendi uma grande lição com um mendigo? Não!


Aprendi uma grande lição com um grande ser humano.


Sérgio Lisboa.