domingo, 9 de novembro de 2008

COMO BOIS NO CAMPO



(Sérgio Lisboa)
A grande maioria tem a idéia de que o Governo tem que fazer tudo por nós, pensar por nós, agir por nós. O duro é aceitar que tudo isso que eles fazem é o melhor que podem e como se fossemos nós quem estivesse fazendo. Talvez seja essa a melhor explicação para as atitudes daqueles que defendem o Governo, de qualquer partido e em qualquer época, com unhas e dentes: não são capazes de ter suas próprias idéias e se vangloriam com a menor decisão do Governo como se fosse a sua própria melhor decisão.
A única iniciativa que nos permitimos é dar o aval para legitimar quem dos deles escolher para agir e pensar por nós. Sim, pois as opções de escolha de lideranças políticas principalmente as de maior relevância, com posições mais estratégicas, já vem com o cardápio pronto, bastando-nos apenas indicar quais dos pratos nos impõem e somente estes nós podemos escolher.

Qual liberdade que nos resta se as coisas são assim? Como bois no campo, ficamos ali, à mercê de quem nos aprisiona e nos deixa comer grama, como se a mais bondosa entidade estivesse nos cuidando e protegendo e que o nosso fim fosse o de apenas pastar protegidos de predadores, tendo ainda, de brinde, uma bela convivência em grupo com outros iguais, numa interação social quase pacífica, todos tão “realizados” quanto nós. Como bois nos impõem uma dieta saudável (comer grama), temos uma vida em sociedade (vivemos em manadas), moramos em um condomínio fechado (nosso campo tem cerca e porteira) e nunca nos revelam que o nosso futuro é o abate.

As nossas mazelas estão diretamente relacionadas a este hábito hereditário de depender para tudo do Governo, transferindo-lhe poderes civis, políticos, de decidirem os nossos destinos e usurparem as nossas individualidades e ainda atribuindo-lhes poderes divinos. Entregamos as nossas vidas para o Governo e acreditamos piamente que ele está sempre tentando fazer o melhor para nós, além de nos dar pasto durante toda a vida, um lugar para vivermos, proteção à nossa integridade, tratamento de saúde quando estivemos doentes, etc., e a única coisa que ele nos pede é que no final entremos na fila para retribuirmos com o nosso pescoço tanta bondade.
As pequenas cobranças que ele faz ao longo de nossa vida através de impostos sobre a alfafa, ração, vacinas, aluguel do campo, cercas e arames, ferro de marcar (produtos siderúrgicos estão caríssimos), são apenas ajustes necessários para a manutenção da máquina de abate.

Eu estou com o Governo e não dou nem um pio, digo, um mugido e Deus nos livre do roubo de gado.