sábado, 28 de junho de 2008

PRAGA DE MÃE



Minha mãe, nas poucas vezes em que pudemos conversar, me dava alguns conselhos definitivos, tais como: se um dia eu estivesse apaixonado por uma mulher e quisesse esquecê-la, eu deveria imaginá-la sentada no vaso sanitário com uma tremenda diarréia.


Confesso que deu resultado naqueles tempos de amor não correspondidos, mas levei um tempo para superar isso e não prejudicar outros relacionamentos posteriores, bem correspondidos, ao ficar imaginando a mesma cena com todas as outras mulheres que eu encontrei em minha vida.



Em alguns dos meus romances eu não precisei usar a técnica de minha mãe, pois algumas pretendentes ao meu coração, logo depois de uma refeição romântica, davam um sonoro arroto, daqueles de ruborizar vikings.



Outros conselhos que recebi de minha mãe foi com relação às drogas que, ao invés de termos um papo consciente alertando sobre os perigos do envolvimento com essas substâncias e das conseqüências nefastas tanto físicas, sociais, psicológicas, etc., ela simplesmente fuzilava: - Só o que me falta você estar fumando cocaína!


Na realidade esse comentário dela, direto e objetivo, não deixando margem para nenhuma réplica até que surtiu o efeito necessário, pois do meu lado, sempre que estive próximo de alguma droga, eu mesmo questionava a mim e aos outros: - É só o que falta!


Depois é que eu fui ver a visionária que era a minha mãe, ao prever que a cocaína fumada, chamada “crack”, seria o grande flagelo de nosso tempo.



Outra dica de minha mãe, ainda sobre mulheres (por que será que mãe adora alertar os filhos sobre mulheres? Será que elas sabem o que seus pobres e ingênuos meninos vão sofrer no futuro?) é que ela, ao constatar que eu era muito ansioso e apressado para conseguir as coisas, não sabendo esperar a hora certa, desta vez não previu e sim vaticinou, com uma praga típica de mãe:


- Quando você casar, meu filho, devido a essa sua pressa, sua mulher não pode usar calcinhas, pois você não sabe esperar!


Adivinhem!


O que a minha mulher poupa em calcinhas ela gasta em sapatos. Casei com uma centopéia das pernas arejadas.


Sérgio Lisboa.

















PAI-DE-SANTO NÃO ENTRA EM FRIA



Eu li numa dessas publicações jurídicas que a Justiça deu ganho de causa a um pai-de-santo por serviços de limpeza e descarrego prestados a um frigorífico.



O frigorífico havia contratado o profissional espiritual para os trabalhos em sua matriz e duas filiais ao preço de R$15.000,00 a mão-de-obra e R$ 1.800,00 para os materiais utilizados.


Não foram especificados os materiais utilizados, mas pelo preço cobrado e como se trata de um trabalho em um frigorífico, certamente foram usadas sedas francesas com cores quentes e muitas meias de lã uruguaias, para combater o pé-frio do negócio.



O dono da empresa alega em sua defesa de que o serviço não surtiu nenhum efeito, pois a sua urucubaca, além de não diminuir, ainda aumentou, pois a clientela deixou de comprar o seu produto devido ao forte cheiro de charutos e defumadores.



O pai-de-santo, por sua vez, alega em sua defesa que a energia negativa no local era muito forte, em função de tantas almas penadas rondando a empresa e tantos espíritos de bois, frangos, carneiros, porcos, eleitores e outros animais, que não aceitavam a sua desencarnação dizendo que ainda tinham muito o que pastar.


(Escrevi “eleitores” acima, mas quis dizer “leitões”).



Por uma questão de segredo de profissão, o pai-de-santo guardou o que presenciara para si, mas encontrou vagando por ali, espíritos de gatos que miavam se lamuriando porque ali não era o seu lugar. O dono do frigorífico, ruborizado, confidenciou ao pai-de-santo que havia diversificado o negócio, vendendo churrasquinho em frente à empresa, com carne vinda de um fornecedor duvidoso.



Dizem que o pai-de-santo pensa em ingressar com uma nova ação, visto que após esse serviço, em virtude da frieza das instalações, contraiu uma gripe que perdura há meses, já dando sinais de evoluir para uma pneumonia.



O dono do frigorífico, por sua vez, pensa em entrar com um recurso contra a decisão judicial, alegando que o juiz estaria impedido de julgar por concurso de interesses, uma vez que a sentença foi dada por meio de um “despacho”.


Sérgio Lisboa.