domingo, 16 de novembro de 2008

A VOLTA DOS MILITARES

(Sérgio Lisboa)
Houve um tempo em que o Brasil foi comandado. Os militares através de um golpe em 1964 assumiram o poder e impunham um governo com mãos de ferro, conhecido como “Ditadura”.
As opiniões contrárias ao regime eram sufocadas de todas as formas possíveis, inclusive com a própria vida. Por causa disto que naquela época, quando perguntado às pessoas como elas estavam, a resposta era sempre a mesma: “Não dá para reclamar”! Literalmente, ninguém podia reclamar.
Algumas pessoas tentavam de muitas maneiras atentar contra o regime e até mesmo derrubá-lo, organizando grupos revolucionários com táticas de guerrilhas, realizando seqüestros, assaltos a bancos, etc. Para enfrentar os militares eram usadas táticas militares. Até hoje isto se reflete, pois quem se engaja politicamente em uma causa acaba se tornando militante. Talvez as coisas mudem quando nós começarmos a civilizar ao invés de militar. Sei lá!

Um desses revolucionários acabou preso naquele período e sofreu as piores torturas imagináveis trazendo seqüelas e traumas até hoje, que de alguma forma contribuiu para que não conseguisse se firmar profissionalmente, passando por períodos dos mais difíceis, enfrentando o alcoolismo, desemprego, depressão e uma série de dificuldades que se avolumam em casos como este.
De todas as formas de se sobreviver, tanto aqui como em quase todo o mundo, sobra para algumas pessoas o famoso biscate ou bico, ou um emprego temporário qualquer.
Após fazer todo tipo de trabalho para sustentar a sua família, aceitou trabalhar no momento como motorista de táxi. Uma profissão difícil, perigosa, cansativa, mas muito digna.

Um desses dias comuns em que estava esperando passageiros para mais uma corrida, surge em seu táxi, dois passageiros. Não eram dois passageiros comuns e sim dois jovens militares, facilmente reconhecidos pelo corte de cabelo e pela postura, além da experiência adquirida por quem conviveu e sobreviveu a eles.
Naquele momento passou pela cabeça de forma vertiginosa tudo aquilo que ele sofreu com os militares, com a ditadura, com toda aquela luta que ele sempre julgou que estava fazendo como um herói incompreendido e que apenas pretendia ajudar o país.
Os tempos são outros. Estavam ali diante dele, como passageiros, como clientes, quem iria contribuir para o seu sustento e de sua família. Dois jovens militares que não viveram aqueles tempos sombrios e não podem ser responsabilizados pelos erros e excessos de seus antecessores. Passou até a ter um carinho por aqueles meninos.
A sua cabeça girava a mil, voando em pensamentos que não teve sequer tempo de trocar uma só palavra com seus passageiros chegando rapidamente ao destino dos jovens. Na hora de desembarcar e acertar a corrida deu um sorriso angelical para os jovens militares esperando o pagamento e até uma palavra amiga ou um sorriso de retribuição, mas as palavras dos jovens foram secas, firmes e fortes, revivendo seus piores pesadelos: ”Passa a grana que isto é um assalto!"
(Baseado em um fato real)