segunda-feira, 26 de maio de 2008

BATEDORES DE CARTEIRA

Uma das atividades mais antigas do mundo é a do punguista, do batedor de carteiras.

Eles andam para todo o lado, mas principalmente costumam atuar em grandes aglomerações. Ali é que é o seu habitat natural. Onde tem muita gente reunida e desprevenida de cuidados, não de dinheiro.

Seja em festas, shows, transportes públicos ou simplesmente caminhando em centros urbanos.

O mais incrível desses meliantes que podem ser, homens ou mulheres, é que adquiriram algumas apuradas técnicas de evasão tanto dos pertences quanto de si mesmos, em caso de uma ação mal sucedida.

Num desses ataques de um punguista solitário a uma mulher, também solitária, junto a uma parada de ônibus que estava cheia de gente, naquele horário, ele decidiu enfiar a sua mão dentro da bolsa que ela carregava pendurada em seu ombro.

Quando ele colocou a mão na bolsa dela, ela pressentiu e agarrou firme a mão dele. Foi quando, de forma surpreendente, como um verdadeiro ator do mais conceituado teatro, ele puxa a mão que ela agarrava e grita, ao mesmo tempo em que já sai em disparada para o lado oposto:

- Eu já te falei que não te quero mais!!!

Todos, que até então não haviam suspeitado de nada, passaram a olhar para ela com aquele olhar de condenação, com aquele olhar de quem reprovava uma pessoa que não sabe o seu limite, de uma pessoa desequilibrada que não assimila nenhuma perda e que corre atrás de um homem, sem o menor amor-próprio.

Nessas horas a vergonha conseguiu superar o seu medo e acabou engolindo a sua voz, não lhe deixando forças para dizer algo que seria simples em qualquer situação: que era gritar ou pedir socorro. Cada segundo que ela levava para se recompor da surpresa, da atitude do ladrão, parecia horas dificultando ainda mais, a sua iniciativa de dizer que ele mentira e sim que ela estava sendo assaltada.

E, ao invés dela comemorar que não fora roubada, teve que amargar a humilhação de ser rejeitada na frente de um monte de estranhos.

O olhar de reprovação das pessoas, misturado com o de decepção, por algo que não fizera, ficou marcado em sua retina como algo mais traumático do que qualquer assalto.

Sérgio Lisboa.