quinta-feira, 22 de maio de 2008

A AMAZÔNIA É UMA BOA ZONA

Uma reportagem publicada no jornal americano "The New York Times" afirma que a sugestão feita por líderes globais de que a Amazônia não é patrimônio exclusivo de nenhum país está causando preocupação no Brasil. O jornal diz que vários líderes internacionais estão declarando mais abertamente a Amazônia como parte de um patrimônio muito maior do que apenas das nações que dividem o seu território.

Obviamente o governo brasileiro não ficou muito satisfeito com essas declarações e prometeu tomar medidas drásticas para a proteção de seu território e a manutenção de sua soberania, já encomendando milhões de quilômetros de arame farpado, para cercar a região, deixando o setor siderúrgico ouriçado. As madeiras para o cercamento, por uma questão de logística e de custo, virão de madeireiras clandestinas da própria Amazônia. Outra medida foi dar um ultimato para os exploradores de todos os pontos do planeta que dizimam a flora e a fauna da região, dando-lhes, no máximo, noventa e nove anos para saírem de lá, sob pena de multa de cento e vinte reais, paga em dez vezes.

Enquanto não põe em prática essa estratégia de proteção à região, o governo brasileiro está pensando em delegar para os americanos o direito de escolher e credenciar quais os cientistas internacionais e ambientalistas que podem entrar nessas áreas, e quais companhias podem explorá-la.

Apesar disso, o presidente discursa pelo mundo afora, críticas sobre mudanças climáticas e desmatamentos, perdendo-se na contradição de não conseguir controlar um milésimo da região amazônica, enquanto é o embaixador mundial pela utilização de recursos energéticos vindos da terra, fingindo preocupação com o futuro do planeta.

Na verdade essa preocupação do Brasil em não permitir haver interferência externa em seu território, especialmente a Amazônia, até que é interessante, mas fica parecendo mais a história do pai que, querendo que a filha case virgem, enquanto escolhe o futuro marido para ela, deixa a menina se virando num prostíbulo.

Sérgio Lisboa.

POUCOS TÊM MUITO

Dez por cento da população brasileira detêm setenta e cinco por cento da riqueza nacional.

A gente passou um bom tempo na escola aprendendo como dividir, como fracionar e também o sentido humano de repartir com igualdade todas as nossas tarefas e pertences.

Depois que crescemos nos deparamos com essa realidade.

Como é que vamos falar de ética, de igualdade, de bondade, de generosidade, fraternidade, de sanidade, com uma realidade numérica dessa magnitude nos assombrando.

Já não chega aquelas revistas especializadas em dizer quanto aquele personagem famoso ganha por segundo, se dando ao luxo de comparar com o fato de que, a cada vez que o famoso pisca o seu olho, ganha mais do que você ganhará por toda a sua vida.

Não vamos ser simplistas e acreditar que isso pode ser mudado ou fazer discursos panfletários contra os ricos e contra a má distribuição de renda.

Muitos fatores contribuem para isso e os desvios e erros estão divididos na mesma proporção que a riqueza, só que de forma invertida, ou seja: a grande maioria absoluta pobre é sempre considerada, por eles (os ricos), como os únicos responsáveis por essa concentração de renda desumana. E a maioria pobre acredita nisso e repete isso.

A verdade é que enquanto houver monarquias, castas, oligarquias, nepotismos, monopólios, grupelhos, apadrinhamentos, etc., sempre haverá distorções e alguns tendo mais do que outros.

Não basta apenas invocar a questão histórica dizendo que sempre foi assim ou até mesmo a questão genealógica de que uns, mesmo que começassem todos do zero, acabariam sempre tendo mais do que outros por seu tino monetário e, principalmente por sua abdicação de prazeres consumistas de que muitos não abrem mão.

O Brasil é um país, já constatado por números, que possui o maior abismo entre quem têm mais e quem têm menos. Esse abismo é que constrói todos os outros abismos que somos obrigados a ver e conviver.

Esse abismo é que constrói o fosso que separa a monarquia da plebe. A cadeira numerada, da geral.

O corredor do hospital úmido, do quarto com tela plana. A prisão mofada da viagem ao Caribe.

Ninguém nasce disposto a fumar crack.

Ninguém vai para a cama dizendo “vou botar no mundo alguém sem futuro.”

Quando nós lemos que tão poucos têm tanto, enquanto tantos têm tão pouco, a primeira idéia que nos vêm à cabeça é: quero entrar nesse grupo que tem tanto. Seja pela porta da frente, pela porta dos fundos, pelo telhado, dentro do latão de lixo, indicado por alguém ou até com um trabuco na mão.

Enquanto pensamos assim, não conseguimos, nem por um momento pensar em porque é assim.

E enquanto não conseguirmos parar para pensar em porque é assim, vamos celebrando a alegria dos outros e incutindo em nós mesmos que, infelizmente, nascemos para sofrer.

Só quando temos uma discussão familiar, é que essas coisas ficam escancaradas a nossa frente e a atitude mais coerente é encher a cara e jogar, um no outro uma panela vazia.

Eu sugiro fazer amor e escrever poesia. Como sempre se fez.

Sérgio Lisboa.