sábado, 2 de fevereiro de 2008

O CAOS É A MELHOR COISA

Uma vez eu ouvi de um político da segunda divisão (era suplente de vereador de um pequeno município), uma definição que eu achei muito interessante. Ele me disse que o político faz de tudo para manter o caos e a bagunça, pois é a melhor coisa do mundo para eles.

Eu fiquei impressionado com aquela afirmação, mas ele nem esperou saber de mim se eu concordava ou se sequer tinha entendido o que ele queria dizer, e continuou a discorrer sua tese.

Ele disse que numa situação em que tudo funciona perfeitamente, não é possível se fazer os famosos “pequenos favores”, a torre de petróleo no quintal, para um político que quer se reeleger.

Se o poder público deixa bem limpa a cidade, ele não pode ir lá na tua rua e limpar especialmente para ti, que pode vir a ser cabo eleitoral dele.

Se o sistema de saúde funciona bem, ele não pode te passar a frente nas filas, porque elas não existem.

O caos e a bagunça, também são parceiros da prestação de contas, uma vez que quanto mais obscuros forem os procedimentos e os registros, mais difíceis ficam as cobranças com relação aos desvios.

Ele não vê vantagens em sua pasta funcionar como um relógio, com todos os procedimentos dentro dos padrões da legalidade, pois não há possibilidade nenhuma de sua intervenção, a não ser a de acompanhar o andamento das coisas.

Portanto, eu entendi agora o esforço que os agentes políticos fazem para se elegerem.

Precisam, a todo o custo, manter a desordem e o caos generalizado, como uma seita satânica milenar, sempre tendo um novo membro para substituir os já cansados da lida. E convenhamos, para essa missão, eles estão sendo muito bem sucedidos, inclusive usando, nós os simples mortais, como cúmplices de suas maquiavélicas articulações, transferindo-nos os ônus de suas práticas, além de nos deixar com um complexo de culpa incurável, fazendo-nos acreditar que esse país não vai para a frente por que nós, brasileiros é que não temos jeito.

Os aliens estão tomando os nossos corpos.

O funcionário público de carreira, que convive com esse ninho de ovos de aliens, que saltam direto em nosso rosto, para nos usar como incubadoras de novos monstros, têm seu cérebro dominado por eles, para, como abelhas-operárias, servir à rainha e a seus ovos.

Vocês dirão que já sabiam disso tudo há muito tempo, pois lêem Arnaldo Jabour, mas eu trago aqui um testemunho de um réu-confesso, de um alien, que após ser chocado para virar um parasita devorador, está neste momento pedindo asilo e disposto a contar as suas memórias.

Um alien arrependido é dose para predador.

Sérgio Lisboa

QUESTIONADORES DE SEMINÁRIO

Num seminário sempre tem aqueles que fazem questão de mostrar uma cultura que parece um pouco mais avançada do que a dos primatas, e que, geralmente demoram quarenta e cinco minutos fazendo uma pergunta, para o palestrante simplesmente responder “é possível”.

Já vi em seminários, participantes, fazerem uma pergunta tão demorada, que juro, falou mais tempo do que o palestrante durante todo o seminário. Eu acho que é isso: tem um monte de palestrantes frustrados, que ninguém chama para falar, que eles acabam indo nas palestras dos outros só para mostrar que tem conhecimento e ter a grande chance de se apresentar.

Está certo que um palestrante fale durante uma hora, (palestrante que fala mais do que uma hora ninguém agüenta, aliás, nem que fosse o próprio criador daria para ouvir mais do que uma hora), e até por uma questão de demonstração de interesse, para não dizer de educação, deve-se fazer alguma pergunta.

Em outro seminário, que era um debate de palestrantes, que falaram um tempão cada um, de assuntos totalmente diferentes, para uma platéia de trezentas pessoas, quando, no final, o mediador perguntou – “alguém tem alguma pergunta?” Ninguém tinha. Confesso, fiquei constrangido.

Um outro tipo de participante é aquele que sempre tem uma pergunta tão primária, tão ridícula, tão nada-a-ver-com-nada, e que normalmente leva uma eternidade para o facilitador responder - já que é preciso, diante do gabarito do perguntador, começar da alfabetização até chegar na física quântica.

Nisso, o seminário que estava programado para acontecer numa sexta-feira, só vai ser encerrado quarta de manhã, sem pausa no fim de semana.

Na faculdade é a mesma coisa, inclusive eu sugiro que quem está cursando uma faculdade ou até mesmo o ensino fundamental e médio (pensou que ia dizer primário e ginásio, né?), deve exigir na cláusula contratual que evite as antas com perguntas idiotas na sala ou ao menos exija que o professor evite responder essas perguntas durante a aula, porque senão, numa aula de cinqüenta minutos, com três antas perguntando ou uma anta fazendo três perguntas e a resposta durando quinze minutos, já se foi a aula.

Atenção Procon: fiquem de olho. Vocês do Inmetro, também. Será necessário criar uma Portaria definindo os padrões e critérios da capacidade e da quantidade máxima aceitável de antas por metro quadrado, que eu acredito que seja a de uma anta para cada três salas, excluindo o professor .

Essa Portaria se for aplicada ao governo, tem critérios mais generosos, admitindo-se um número maior de antas, não por sala, mas por metro quadrado.

Agora só não sei como eles vão fazer, já que uma única anta, ocupa mais do que um metro quadrado.

Sérgio Lisboa

VAI SER SINCERO NO INFERNO

Alguém já disse um dia que amigo que é amigo, não apenas elogia: critica também.

Tudo certo. Mas só avacalhar com a gente, em nome de uma suposta imparcialidade, de uma suposta intimidade, de um suposto amor fraternal, também não dá.

Tem várias maneiras de ser sincero. Você pode elogiar meu sapato, minhas meias, minhas calças, meu cinto, minhas cuecas (minhas cuecas não, que é boiolice!), minha camisa, meu perfume (o que que é?), mas não. Vem dizer que os óculos que eu estou usando é brega.

Puxa vida! Tem dezenove itens com que a gente está se apresentando e ele escolhe um só, um mísero item, para dizer que não tá legal. Ah não!

Eu nem estou falando de questões anatômicas do tipo “que bronzeado bonito”, “perdeste a barriga”, “pareces bem mais novo”, etc.

Dá até para escrever um livro “Elogio forçado : A lipo-aspiração do ego”.

Não vem dizer que é paranóia, que é mania de perseguição.

Não é mania, estão me perseguindo mesmo.

Tem uma parábola em que Jesus, diante de um cão morto e em decomposição, e todos reclamando do que viam e do cheiro que sentiam, ele simplesmente enalteceu os dentes brancos do animal, dizendo que pareciam marfim.

Então, pessoal. Não dá para seguir esse exemplo.

Olha, deixa para lá essa parábola, senão daqui a pouco meus amigos vão dizer que eu estou fedendo mais que cachorro morto e que meus dentes parecem marfim, não pela brancura, mas pela saliência.

O que eu quero dizer é que, por favor, não se preocupem em ser sinceros comigo, quando o assunto for a minha individualidade. Podem mentir. Elogiem gratuitamente. Elogiem muito. Elogiem desmedidamente. Não se constranjam que eu consigo administrar essa elevação artificial de auto-estima, tipo o que o Banco Central faz com a moeda.

Mark Twain já disse : “Com um elogio eu vivo três meses”.

Estou nessa, me ajudem, com quatrocentos elogios eu vou até os oitenta anos.

Sérgio Lisboa