quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

NÃO PRECISAMOS DO MISTER M


O integrante do maior partido político do país fez esses dias uma declaração bombástica dizendo que o seu partido e praticamente todos os integrantes dele são corruptos e que só querem cargos para fazer maracutaias. Foi o comentário da mídia e das pessoas até o pôr do sol do dia do pronunciamento. Depois morreu o assunto.

Numa tentativa quase bocejante e com muita má vontade de tentar reverter ou diminuir a declaração do colega, um grande líder do mesmo partido complementa dizendo que eles não são menos corruptos que integrantes de outros grandes partidos. Ele disse, em outras palavras: “não somos os únicos que roubam”.

Grandes revelações, grandes mentiras desvendadas, grandes verdades vindo à tona só interessam se forem sobre as preferências sexuais do participante sem cérebro do Big Brother ou da milésima operação plástica da dançarina do programa infantil.

Ninguém está disposto a ouvir verdades um pouco antes da novela das oito, depois de um dia exaustivo ou principalmente uma semana antes do carnaval. Muito menos estão dispostos a ouvir verdades aqueles que realmente têm por obrigação apurar as coisas e encarar a briga quando essas verdades são expostas.

O que nós esperamos deste país? Acredito que muitos esperam (depois de todos os desejos individuais saciados, é lógico!) a chegada de homens de boa vontade que tenham coragem de denunciar, de tocar na ferida, de mostrar os podres do país e que estivessem dispostos a dar início a um processo de moralização nacional.

De tempos em tempos aparecem homens como esses que acabam causando, ao invés de admiração por sua coragem e iniciativa, repulsa e estranheza em todos nós. São como o Mister M que mostra o segredo do truque que nos aplicam e acaba sendo execrado pelos seus pares, pelos mágicos, pelos enganadores, pelos ilusionistas que querem continuar enganando e mamando por séculos sem ter que criar novos truques e até pelo público que prefere a ilusão do que a verdade.

Nós precisamos do show. Queremos a mágica. Sonhamos com o espetáculo. Não queremos Misters Ms nos revelando os truques e nos deixando órfãos das soluções mágicas para os nossos problemas. Nós precisamos das presenças divinas dos escolhidos por Deus e apenas referendados por nós nas urnas, dos quatro poderes celestiais e da capacidade de fazer sumir diante dos nossos olhos pontes, rodovias e hospitais e de serrar um trabalhador ao meio e logo depois fazê-lo surgir não mais inteiro e sim partido para que produza em dobro, processo que somos submetidos desde o nascimento dos nossos ancestrais.

Vamos deixar para lá esse assunto porque já está começando a novela e logo depois vem o futebol.
(Sérgio Lisboa)