segunda-feira, 10 de março de 2008

O TÍTULO É QUE TRAI O LEITOR

Faz um bom tempo que eu observo que, para chamar a atenção do leitor para um texto, seja uma grande ou pequena publicação, de um escritor conceituado ou não, faz uma grande diferença, um título original e chamativo para o texto.
Isso de um modo geral, pois se o texto é bom, a fama dele se espalha e mesmo que o título fosse “Tampax”, faria sucesso igual.
Num primeiro momento, em qualquer lugar em que for publicado, seja num grande jornal ou no mural do escritório, o título é muito importante.
Os leitores passam os olhos pelo jornal ou pela internet, bocejando, até que se deparam com alguma coisa que atrai sua atenção, que faz com que ele pare de bocejar, esfregue bem os olhos, fixe bem o olhar, solte um sorriso e pense consigo: um título diferente.
O título diferente é tudo de bom. Só o título já vale o texto. A gente pensa: o que será que vem, a seguir, com um cara que inventa um título desses. Se o título é bem bolado assim, imagina o texto. Todo mundo pensa assim.
Eu não quero dizer com isso que as pessoas passem, agora, a só se preocupar com um título com efeitos especiais e não se preocupem mais com a qualidade de seu texto ou, fiquem frustradas após escrever um texto maravilhoso, porque o número de leituras foi muito baixo.
Parece até que eu estou vendo, uma onda de suicídios em massa, textos maravilhosos queimados, porque o título não foi chamativo.
Vamos com calma!
Quem tem qualidade no que escreve e leva fé no seu taco, não está lá muito preocupado com o nome que vai dar ao título, que pode até ser mais rebuscado, para dar um maior impacto (até porque a obra literária inclui também o título) ou ser bem mais simples que a profundidade do texto, para dar um maior contraste e torná-lo ainda mais especial.
Tem escritores, e me incluo entre eles, que tem uma relação mais íntima e importante com aquele texto e seu título e não abre mão deste último, mesmo que o rumo do texto enverede para outros lados.
Existem outras formas literárias, em que o título é parte integrante do texto, daí não incluí-los, neste debate.
O certo é que se um texto é bom ele pode se chamar apenas “O Mar” e ser uma coisa maravilhosa, profunda, vasta, com ondas gigantescas de inspiração.
Também, pode se chamar “A Arte Fragmentada” e ser um texto ruim, abordando a história de quando Joãozinho quebrou um vaso antigo de sua mãe.
Meus textos, a partir de agora, serão todos com muito impacto, e se eu escrever, por exemplo, sobre um simples andar de bicicleta, o título será “As Pernas Num Vai-E-Vem”. O que vocês acham?
Garante a leitura, não?
Se for escrever sobre tomar um simples copo de água, o título será “O Prazer Fácil”. Fala sério! Faz o cara largar um Machado de Assis, na hora.
Se fosse escrever sobre a reforma política, o título poderia ser “Faxina no Bordel”. Já pensaram?
Didática e pedagogicamente, ganharia um prêmio.
O grande problema é que tem gente que acha que a política é ainda mais lasciva do que um bordel.
Algumas coisas precisam de mais tempo para serem digeridas.
Enfim (graças a Deus), o título ainda não é tudo.
Sérgio Lisboa.

domingo, 9 de março de 2008

O PERFIL DO SOCIOPATA

Dizem, os especialistas, que tem um perfil genético padrão em cada indivíduo, cujo comportamento é violento ou anti-social e que, identificam quem pode ter uma maior pré-disposição para cometer delitos.
As sobrancelhas muito juntas é um sinal característico de alguém que pode fazer mal para a sociedade (Se não me engano, o Faustão tem as sobrancelhas assim).
A amígdala avantajada é outra, não a papilar e sim a cerebral (se a gente tem amígdala no cérebro, talvez tenha cordas vocais e explicaria porque ouvimos vozes) é outra característica, que os estudos apontaram, recentemente.
Talvez tenhamos cordas vocais nos órgãos genitais e sequer saibamos, o que explicaria a irresistível atração da nossa região bucal para aquelas bandas.
Dizem que mão grande é um sinal de que o cara é chegado nas coisas do alheio. Como se sabe que as mulheres aprenderam no programa do Nelson Rubens, que quase todo o cara com a mão grande, tem 97% de chances de ter um “negócio” bem grande, esse meliante tem a maior probabilidade de enfiar a mão nas tuas coisas, lá na tua casa, quando você não estiver.
Outro sinal, desta vez, comportamental característico e que é definitivo para identificar um potencial candidato a causar problemas, é o que olha para baixo enquanto conversa com a gente. Esse é um dos mais perigosos, pois já está observando qual o número do teu sapato, para usar depois de te picar inteirinho e te enterrar no fundo do quintal.
Muito cuidado com esse. Minta para ele, dizendo que teu sapato é emprestado e não vai servir nele ou aponte para o céu, dizendo: ”Olha o avião!” e desapareça (mas nunca diga “Olha o avião da TAM, que ele vai continuar olhando para o chão).
Mas, talvez, o mais temerário deles, o número um, aquele que vai, com toda a certeza, acabar com teu sorriso e com tua esperança, é aquele que te pede para te representar e que, vai fazer tudo de bom para ti e para todos e ao invés disso, te torna cúmplice dos seus atos maquiavélicos, sem te deixar chance de voltar atrás, durante, pelo menos, quatro anos. Esse é um de fala mansa, paletó e gravata, que, até te olha nos olhos, pois investe no mercado negro do transplante de córnea, e não guarda remorso, nem arrependimentos, pois sua bagagem já está cheia de dólares.
Para fugir desse tipo, nem a morte adianta, pois ainda assim, ele vai levar uma beira no teu auxílio-funeral.
Sérgio Lisboa.

A VELOCIDADE DO TEMPO

Todos vocês já devem ter reparado ou ter a sensação de que o tempo, hoje em dia, voa.
Um dos motivos é a falta de sincronia entre os relógios e a rotação da terra, alterada através de ajustes, negados veementemente pelos cientistas, em que acelerou os dias, em um ou dois segundos e isso explica, agora, o porquê de, uma vez por dia, a gente cair sentado (é por conta da aceleração e não pelos escândalos do governo).

A vida moderna que levamos hoje é, também, a grande responsável.
Com os recursos tecnológicos disponíveis, com a instantaneidade das comunicações e das informações, faz com que, paradoxalmente, ao invés de termos mais tempo para relaxar e vê-lo passar, precisamos usar todo o tempo para nos informar mais, trabalhar mais, comunicar mais, cobrar e ser cobrado mais rapidamente, sem falar que, com o mundo sendo oferecido a nós, em nossa casa, cada segundo parado, dá-nos a sensação de que estamos sendo passados para trás ou que estamos perdendo alguma coisa.
Hoje levantamos mais cedo, deitamos mais tarde e parece que estamos sempre, perdendo tempo.

A semana passa tão rápido, que a gente chega no “happy hour” de sexta-feira, ainda palitando o dente da semana passada.
Passa o ano novo e já estamos procurando presentes para o próximo natal.
Se demoramos muito para contar uma piada nova, os caras dizem que nós já contamos ela mês passado.

Hoje, até a definição de viciado ou dependente, que, segundo alguns, é quem se utiliza de substância entorpecente, pelo menos uma vez por semana, tem que ser revista, por que, uma vez por semana, dá a impressão de ser todos os dias.

Num desses encontros de final de semana, estávamos numa rodinha de chopp, e junto conosco, um cara, cujo apelido era “mendigo”. Tinha esse apelido, pelo aspecto, pelas mesmas roupas que usava, em qualquer ocasião, seja para um casamento ou para consertar o freio do caminhão e, segundo dizem, tinha uma certa aversão a duchas, chuveiros e afins.
“Temos que poupar a água do planeta”, dizia ele, num discurso ecologicamente correto, de causar adesão.

Só que uma vez ele exagerou no hiato de tempo entre um banho e outro, de tal forma que, já estávamos às vésperas do natal e ele tinha preso ao cabelo endurecido, (acreditem!) uns confetes de carnaval.
Olha o tempo que o homem ficou sem banho!

Indagado sobre essa situação constrangedora e, como o assunto era a velocidade do tempo, ele não teve dúvidas e lascou: ”Isso não é relaxamento, meus amigos, é só a velocidade do tempo”.
Sérgio Lisboa.

domingo, 2 de março de 2008

ROUBARAM O MEU ESTEPE



Os caras pararam com um veículo importado, que custa cinco vezes mais do que o meu, puxaram um fio que fica na bateria, pela parte da frente, logo abaixo do limpador de pára-brisas, com um arame fino pescaram o tal fio, cortaram o mesmo e acabaram, em segundos com todo o sistema de alarme que eu possuía, deixando o carro, completamente sem voz e sem luz, a mercê de qualquer chave para abri-lo e adentrá-lo.


Fizeram toda essa operação, com uma logística cara, com o tal do carro importado, que sendo roubado, ou não, influi nos custos do processo.


Tudo isso, não foi executado para levar o veículo para o buraco negro do comércio de veículos roubados, mas para simplesmente abrir meu porta-malas e retirar o meu estepe, que fica atrás do veículo, o que de fato consumaram seu intento ( basta escrever uma crônica sobre roubo que a gente acaba usando terminologias policiais).


A gente fica assustado, indignado e tudo que é “ado” possíveis, mas acaba pensando que os caras merecem. Tirei o chapéu.


Toda essa técnica, rapidez, logística, para levar uma simples roda com pneu. Uma só, não foram os quatro pneus e rodas. Se fosse numa loja comprar uma só roda e um pneu, novos, numa super-oferta, pois é um carro popular, gastaria, no máximo, duzentos e cinquenta reais. No mercado paralelo, talvez eu gaste a metade (cento e vinte e cinco). E eles devem vender pela metade, ainda do preço do paralelo (sessenta reais).


Mercado paralelo? Sou capaz de encontrar lá, o meu próprio pneu e roda e ainda pagar por eles.


Chegamos num momento em que compramos as coisas que eram nossas, nos mercados paralelos, pela metade do preço de mercado, e ainda comemoramos a pechincha.


A ironia do destino é que eu tinha no porta-malas, junto com o estepe, justamente naquele dia, uma compra que incluía camarão, bacalhau, queijos e vinhos, comprados com o cartão de crédito, que valiam bem mais do que o estepe (talvez cinco vezes o que eles iriam lucrar).


Mas eles são profissionais e não desviam sua atenção para outros itens que não fazem parte de seu catálogo.


O que eu posso dizer é que me senti honrado com o extremo profissionalismo dos ladrões, com sua técnica apurada, com sua objetividade, sua pró-atividade, para um item, que individualmente rende tão pouco.


Se precisarem de mim para intervir por vocês, num momento de greve por uma melhor reposição salarial, ou até mesmo para uma equiparação, com certos concorrentes da política, que não tem técnica nenhuma, apenas dão com as duas mãos, contem comigo.


Ah! Obrigado por não terem revirado as minhas sacolas de compras.


Sérgio Lisboa.




A NOVA VERSÃO DE MIM



Eu ouvi uma frase que achei bem interessante, que dizia, mais ou menos, assim: “Nós não envelhecemos com os anos, isso acontece com sapatos e carros, vamos, a cada dia evoluindo, aprendendo e melhorando e, quando chegamos a certa idade, estamos no auge, no melhor momento. Hoje eu sou a mais nova versão de mim mesmo”.


A mais nova versão de nós mesmos.


Estamos aqui, com toda essa experiência, conhecedores de todas as portas que dão choques, no labirinto de ratos de laboratório da vida, sentados na primeira fila, como espectadores privilegiados, assistindo ao espetáculo de descobrimento do mundo, de nossos filhos, sobrinhos e netos.


Estamos aqui, bem vivos, com palavras mais bonitas para dizer e com mais coragem para dizê-las.


Estamos aqui, um pouco longe daquele bando de amigos que tínhamos, mas abertos para um dia encontrá-los e quem sabe, não sair por aí, quebrando uma vidraça ou empinando juntos, uma pipa.


Estamos aqui, aquela eterna criança, que ficou mais pesada e lenta fisicamente, mas que multiplicou a velocidade de suas emoções e sentimentos.


Qualquer um de nós têm consciência, lá no seu íntimo, que quando éramos mais jovens, andavámos e corriámos mais rápido, tremiámos menos as mãos, e nossos corações eram bem mais disputados naquela época do que agora (a não ser pelos cardiologistas, nos dias de hoje).


Mas o que sempre tivemos e continuamos tendo é a nossa percepção de mundo, o nosso olhar para as coisas, as nossas lembranças e a maneira com que enfrentamos as situações que a vida nos coloca à frente.


Se não existissem espelhos, nós só nos surpreenderíamos de não conseguir mais escalar um muro de dois metros, mesmo muitos anos depois de nossa infância, na oitava tentativa, quando, então iríamos parar e achar que algo não estava mais igual a antes.


Para todos os que estão lendo esse texto, eu gostaria de parabenizá-los, dizendo : “Hoje você é a nova versão de você mesmo”.


Apesar de admitir, que para mim mesmo, o meu modelo,1980, era bem mais esportivo, termino citando Mário Quintana :


” Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:
Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!..."


Sérgio Lisboa.





MAL-HUMORADOS



Como tem gente mal-humorada no mundo.
Se você é um deles, e já começa a ler essa crônica achando defeitos, já aviso que “mal-humorado” é com L e com hífen, enquanto “mau humor” é com U e sem hífen. Dos demais erros ortográficos, pode reclamar a vontade.
Não vou dizer que temos que estar sempre, e, principalmente nas primeiras horas da manhã, com aquele sorriso tipo “Sílvio Santos”, mas ficar o dia todo, ou até mesmo durante todo o ano, de cara amarrada, também não dá.
Todo mundo já está careca de saber que a tristeza espanta as pessoas e também as coisas, pois ambas invariavelmente andam juntas, e que, o contrário, a alegria, o sorriso no rosto, é uma fonte de atração e ainda faz bem para a saúde.
Já ouvi dizer que pessoas mal-humoradas são espíritos que precisam evoluir, o que nos leva a pensar que aquele humor horroroso, que vem desde a idade média ou antes, vai assombrar várias encarnações, ainda.
São os “highlanders” do mau humor.
Atravessam o tempo, como vampiros, espalhando suas nuvens negras e sua escuridão, ao longo da eternidade, e não há estaca de madeira, em forma de sorriso ou crucifixos em forma de carinho, nem água benta, em forma de paciência, que os transforme ou que, ao menos, nos ajude a conviver com gente assim.
Nas poucas vezes em que temos uma alegria a compartilhar, em que nos sentimos bem, em que temos vontade de sair cantando e pulando (esses momentos ainda existem, gente!), damos de cara com aquele personagem de filme de terror, rosnando para nós e nos fulminando com o olhar, como a que nos dizer: “te manda com essa alegria daqui”.
Todas as publicações a respeito de auto-motivação, de mudança de comportamento, poder da atração, de pró-atividade, o segredo, etc., dizem que temos que ter atitudes alegres e positivas e, literalmente fugir de pessoas negativas, pois acabarão nos afetando de tal forma, que precisaremos de uma verdadeira lipo-aspiração em nosso campo energético, sem falar nas inúmeras cirurgias plásticas para colocar em ordem as pelancas criadas pelo baixo-astral.
Vamos, então, fugir de gente assim. Manter distância, pois é uma questão de saúde pública.
Evitar que esse vírus se espalhe e nos leve a um quadro de mau humor e tristezas, generalizado.
Só falta agora, vir os direitos humanos, alegando discriminação contra os mal-humorados e os negativos.
Desse jeito, vão acabar baixando o nosso astral.
Sérgio Lisboa.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

UM QUADRO COM EDIFÍCIOS



Qualquer pessoa, quando pensa numa tela para colocar na sala de visitas, pensa logo em uma paisagem paradisíaca, numa montanha, numa praia ou num jardim cheio de pássaros.


È a coisa mais natural do mundo (tanto as telas quanto pensar assim).


Eu não. Eu moro numa rua sem saída, ao lado de um mato tombado e preservado, cujos únicos ruídos que escuto são dos latidos dos cachorros, da festa dos pássaros e minha única vista é para o vizinho da frente e para o mato.


Então, fui em uma loja e comprei um quadro com um mar de edifícios, da maior cidade do mundo, uma foto noturna, para caracterizar bem a anti-natureza.


Levei uma hora para poder sair de lá, pois o vendedor tentava mudar minha idéia, me oferecendo, desde colibris voando sob o jardim, passando por icebergs flutuantes (dizendo que a imagem era tão real que era até possível substituir o ar-condicionado) e chegando a quadros de baleias (esses ele diz que vende muito para clínicas de emagrecimento como fator motivacional).


Parece loucura o que eu vou dizer, num tempo em que tentamos a todo custo preservar a natureza, resgatar valores campestres, fugir do concreto e do asfalto, ainda assim tenho momentos em que tudo o que quero é assistir qualquer coisa na televisão. Um desejo incontrolável de comer uma pipoca de micro-ondas, com aquele cheirinho de conservante de baunilha, abrir uma lata de sardinhas, derramando aquele óleo em torno dela, ler aqueles encartes de hiper-mercados, que anunciam desde meia soquete a tevê de plasma, sentar na cama, acompanhado de uma boa leitura, para nos desvendar alguns mistérios (o manual de instruções da câmera digital, para, finalmente, descobrir para que serve aquele botão vermelho).


Em certos momentos, tudo o que queremos é um pouco de artificialidade, de urbanidade, de poluição, de tecnologia, de modernidade, de...


Me perdoem, mas eu olhei para o lado e vi uma árvore gigantesca, cheia de flores laranjas, as mais lindas flores laranjas que alguém já viu, como que a me dizer: ”Termine a crônica que nós estaremos esperando”.


Por favor, não me levem a mal, mas minhas pipocas queimaram, minha lata de sardinha estufou e meu encarte do super-mercado serviu de privada para o gato, e o quadro dos edifícios, vai servir para lembrar que devo olhar para fora, mais seguidamente, e fitar a natureza.


Quanto ao botão vermelho da máquina digital, não faz mais diferença, pois já gravei, na retina, a eterna imagem das mais lindas flores laranjas, que alguém já viu.


Sérgio Lisboa.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

SOBRE DECOTES E ROTTWEILERS



Tinha um colega, agente de trânsito, muito magrinho, que era muito inteligente, tinha duas faculdades, fazia contas impossíveis de cabeça, tinha uma memória fotográfica e sabia de cor a escalação do Manchester United, de 1950.
O problema dele era que para responder uma pergunta, levava mais tempo que internet discada para baixar um arquivo, ou seja, era muito lento. Quando era para anotar a placa de um carro, o tempo que ele levava para, decodificar a mensagem e olhar para o lado, correspondia ao mesmo tempo em que o carro chegava ao final da reta e fazia o retorno. Por isso que se dizia que se ele pegasse o cacoete de olhar sempre para o lado inverso do que deveria, a chance de visualizar os veículos era muito maior.
Tem uma coisa em que ele era muito rápido, vou contar para vocês: quando se tratava de mulher. E bota rápido nisso. Para observar mulher ele tinha uma rapidez assustadora, para responder para mulher, acabava aquele silêncio estático, e se tornava, no ato, um locutor de loja de varejo.
Que coisa mais incrível isso, deve ter uma região do hemisfério cerebral, responsável pelas sensações, que quando ativada, transforma um indivíduo catatônico em pró-ativo em primeiro grau.
Mas um dia, eu e o agente de trânsito, caminhávamos no canteiro central da avenida, quando parou ao nosso lado, um carro com um casal. O cara parecia um lutador de vale-tudo, com cara de muito poucos amigos, e fazendo o Alexandre Frota parecer um nerd. Ao lado dele, uma mulher, com um decote que terminava nos joelhos, com um par de seios grandes, firmes, bronzeados, etc. (não dou maiores detalhes, pois não reparei direito), enfim um par de seios que até o Clodovil olharia.
Mas quem estava comigo não era o Clodovil, e sim o nosso agente de trânsito. Imaginem a situação. Na mesma hora em que o carro parou, o agente de trânsito não só colou os olhos nos seios da mulher, e começou a babar (parecia o monstro Alien, abrindo a boca lentamente e a gosma correndo). Além disso, como se não bastasse, ele foi levantando seu braço, lentamente, com o dedo indicador esticado, como naqueles filmes de mortos-vivos e, para o meu pavor, apontou diretamente para os peitos da mulher.
O cara que estava com a mulher, que já estava de olho no agente, antes mesmo do carro parar, puxou o freio de mão, mostrou os dentes como um cachorro “rottweiler”, deu um grunhido assustador, e desesperadamente tentava desatar o cinto de segurança, para avançar na jugular do agente de trânsito.
Para a nossa sorte o cinto estava difícil de abrir (agora eu entendo porque se chama cinto de segurança) e deu tempo para o agente enviar uma mensagem para o cérebro, processar e enviar a resposta para a área de trabalho, antes da maior tragédia do trânsito brasileiro acontecer.
Ele com aquela mesma expressão de zumbi de filme B, quase parado, derrubou o gigante lutador e salvou-nos a todos do morticínio, como que por milagre, com apenas uma frase, dita em câmera lenta: “Ela está sem cinto de segurança”.
Sérgio Lisboa.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

SEJA CRIANÇA



Nós precisamos ser crianças. Fazer criancices. Cometer infantilidades. Como elas, estarmos sempre rindo e de bem com a vida. Como elas, aprender a perdoar, a aceitar, a se adaptar e ter respostas para tudo que é complicado na nossa vida. Não querer explicar como nasce um eclipse, apenas apreciá-lo. Não querer explicar como se forma o sorvete, e sim que ele está ali, diante de nós, maravilhosamente delicioso.


O adulto acha que deve ser sério e equilibrado. Ele confunde maturidade com aspecto sisudo e fechado.


A criança está sempre aberta, criando novas formas de se divertir e aprender, não admitindo ficar parada, numa rotina inquietante.


Até mesmo em momentos difíceis de nossas vidas, procuremos conversar com uma criança, ela, certamente, dará palpites puros e singelos (com certeza os palpites serão mais aproveitáveis do que os da equipe econômica do governo). Temos muito a aprender com elas. Ou melhor, temos muito a aprender com a nossa própria criança interna, tentando encontrá-la, sempre, e trazendo-a para junto de nós.
A criança vê um semelhante em qualquer lugar e corre em direção à ele, pega em seu braço e saem de mãos dadas para brincar.


Talvez os adultos que não tiveram uma infância completa, devessem brincar com seus filhos, sobrinhos e netos, as brincadeiras deles, montando casinhas, ouvindo suas músicas, assistindo desenhos e, se possível correr e pular com eles.


Não devemos ter medo de parecer ridículos, pois já fazemos isso o tempo todo, quando imitamos o modo de vida dos outros, reproduzindo o que a sociedade nos impõe, quando lemos sobre as loucuras que os artistas fazem, pois eles brincam como crianças e ainda ganham uma fortuna para isso.


Vamos nos infantilizar para transformar o mundo numa grande festa, sem malícias, sem maldades, sem caras sérias.


O começo é um pouco difícil, pois corremos o risco de aparecer no serviço, com um bigode de leite nos lábios, a cara cheia de riscos de canetas de pintar e até, quando for pagar a gasolina, ao invés do cartão de crédito, sair o cartão-passaporte do parque de diversões.


O jeito é dar uma gostosa gargalhada e convidar o frentista para tomar um sorvete.


Quem estiver lendo esse texto e achar que é uma fantasia ridícula, tudo o que escrevi, acertou, pois é isso que o mundo está precisando, de mais fantasia e menos medo do ridículo.


Se quiserem continuar adultos, sérios e maduros, fiquem a vontade, mas não vão ganhar sorvete.


Sérgio Lisboa.








sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

REENCARNAÇÃO

Raskolnikov, personagem de “Crime e Castigo”, de Dostoievski, chega à conclusão de que Deus não existe, parando em uma encruzilhada, em que tem que decidir o caminho a seguir: ser bondoso e sensível, acreditando que haverá um resgate ou um juízo final, ou qualquer prestação de contas na outra vida, ou acreditar que tudo acaba com a morte, e, então, não havendo necessidade, nem razão de ser bom e justo e que pode fazer as maldades que achar mais convenientes para a sua própria satisfação (tem gente que já escolheu esse caminho a muito).

Será que existe vida após a morte?

Se levarmos em conta a classe política, dá para duvidar se existe vida antes da morte.

Ou será que morremos e tudo acaba, ali mesmo, embaixo da terra?

Depois de tudo o que aprendemos e evoluímos, durante a nossa vida, acabamos virando irmãos dos tubérculos, parceiros do nabo?

Casos em que a pessoa, após sofrer um trauma profundo, numa parada cardíaca ou num acidente de trânsito, por exemplo, revela que viu toda sua vida, passando de trás para frente (como aqueles filmes que ficam encalhados nas locadoras, sempre sugerido pelos donos das mesmas), em questão de segundos, nos dão alguma pista sobre o que acontece conosco, quando estamos na fila da outra vida.

Ver tudo o que fizemos, desde a nossa infância e detrás para frente, não é fácil, não.

A nossa primeira relação sexual, fica mais parecendo uma experiência homossexual (para alguns, não apenas parece).

A nossa primeira comunhão, um exorcismo.

O nosso primeiro pé na bunda, um passo de balé.

O nosso primeiro trabalho, um desemprego.

O nosso primeiro enterro, um renascimento.

O nosso primeiro casamento, uma besteira (esse é besteira sempre, não importa o lado).

Nosso primeiro filho, em nossas mãos, uma água que escorre.

Uma vez sofri um acidente de trânsito, e segundo os socorristas que me atenderam, estava, praticamente morto, e, naqueles instantes, o que me lembro é de uma luz, que me atraía, e no fim dela, minha mulher, com um pau de macarrão, gritando :”Volta, covarde! Não vai ainda! Hoje é dia de super-mercado”!

Quando estamos dormindo, em nossos sonhos, temos as mais infinitas experiências e emoções, que muitas vezes são extremamente reais. Mas quem nos observa, não vê mais do que um corpo, deitado, adormecido, como se estivesse morto.

Talvez seja essa a verdadeira realidade da morte. Todos em volta de você, enquanto está deitado, com vários prazeres e emoções sentindo, em seus sonhos, mas passando para os que te vêem, a imagem da inércia, da morte, do fim. Sem falar que está se deteriorando gradativamente.

Se existe mesmo resgate e reencarnação não dá nem para morrer tranqüilo, pois quem acha que viveu em uma época de fartura de alimentos, por exemplo, pode voltar em 2050 e viver uma era totalmente sem água.

Já pensaram: comeram e beberam do bom e do melhor e voltam reencarnados numa época em que o banho é uma vez por ano, e com água suficiente só para enxaguar as pálpebras.

Seus banquetes substituem, agora, o caviar e a lagosta por areia e gafanhoto?

E os personagens, que hoje fazem parte de sua realidade, invadirão a tua reencarnação, na mesma proporção de antes.

Por exemplo: haverá Lula lá, Silvio Santos (este parece que comprou sua própria máquina de reencarnação) e Faustão.

Acho que estou fazendo confusão :é reencarnação, não purgatório.

Purgatório ainda existe, não é? Pelo que eu sei a Igreja só revogou o Limbo. Sei lá!

Quanto a mim, eu fico com o Millôr : “Eu acredito na reencarnação: a prova mais forte disso é o croquete”.

Sérgio Lisboa.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

EM QUE VOCÊ É BOM?

Durante toda a nossa vida, escutamos que temos que ser bons em alguma coisa.
Eu sempre achei que eu era bom em dormir. Poderia ser um personal sleeper. Ensinar todas as técnicas de virar para o lado, quebrar o despertador, esquecer compromissos, dormir em dias chuvosos, como evitar morder a fronha (muito importante), etc. Essa sempre foi a minha vocação. Mas a profissão já estava saturada pela concorrência dos fiscais da Amazônia.
A gente tem que se especializar.
Especialização, é a palavra de ordem. Não seria a palavra de ordem a multi-funcionalidade ou as multi-especializações?
É difícil se saber, pois estas tendências, mudam a cada edição da Revista Veja.
Eu acho que a última coisa que eu li a respeito, me parece, referia o surgimento no mercado do super-multi-hiper-eu é que sei-sênior.
Este profissional contempla todos os conhecimentos necessários para ser demitido sumariamente, sem o menor rancor, obedecer cegamente todas as ordens, sem contestar, além de possuir um dispositivo de auto-destruição, programável, para o caso de falência da empresa, estando esta segurada contra incêndios e explosões.
O negócio é ser bom em alguma coisa.
Em que você é bom?
Os meus irmãos sabiam desenhar como ninguém.
Eu, não tinha o menor talento para o desenho e eles não tinham o menor talento para auxiliar um aprendiz de artista.
Eu só sabia desenhar a lua. Era só um círculo, sem nada dentro. Não era o sol, porque eu tinha preguiça de fazer os riscos dos raios.
A lua era mais rápida de fazer.
Por causa disso, levei muito tapa nos olhos, deles, o que só reforçava a minha predileção por esse desenho, pois, acabava só vendo círculos na minha frente.
Era o meu orgulho, a lua que eu desenhava.
Aqui para nós, eu nunca consegui desenhar um círculo perfeito, inclusive, muitas vezes parecia um triângulo, mas resolvia esses contratempos, desenhando uma nuvem na parte torta do desenho.
De tanto desenhar nuvens encobrindo a lua, acabei num consultório psiquiátrico infantil, explicando o porquê de eu ser tão “deprimido”, pois fazia referência a nuvens negras em tudo o que eu desenhava.
O tratamento foi muito positivo, pois passei a desenhar coisas bem mais interessantes, do que luas com nuvens na frente, tais como: mendigos, cadáveres, tanques de guerra e partindo para o abstracionismo, passei a desenhar políticos honestos.
Acabei desistindo do desenho e o resultado é que não saio mais em noites de lua cheia e tempo nublado, isso porque, basta eu ver nuvens tapando a lua, que eu já me deprimo.
Sérgio Lisboa.

EPOCLER



Há uns anos, era vendido nas farmácias, um remédio, que vinha em pequenos frascos, em dose única, chamado Epocler (era pronunciado com “e” aberto no final: clér).
Este remédio era indicado, segundo os anunciantes, como auxiliar na má digestão e nos excessos gastronômicos e etílicos, ou seja, desembrulhava o estômago e era bom para a ressaca, sendo amplamente comercializado em todo o país.
O povo adorava o Epocler, cujas propriedades curativas, segundo boatos, já alcançava até reumatismos e câncer de próstata (esse, se estivesse no estágio inicial, é lógico!).
Já havia até crianças batizadas com esse nome, bem sonoro, por sinal: Epocler.
Lindo, não? “Epocler! Vai chamar a tua irmã, a Novalgina!”
Foi uma época mais feliz do que muitas. Inflação lá em cima, instabilidade geral e o povo mandando ver no Epocler, para agüentar tudo isso.
Já teve até quem gritasse um dia: - “Epocler para presidente!”
Não sei se por causa disto, mas para a surpresa de todos, um dia o governo anunciou que tiraria de circulação o remédio Epocler, pois havia sido provado que o mesmo não passava de um suco barato e que não atendia os requisitos curativos a que se destinava.
Meu Deus do céu!
O que se viu naqueles dias, foi a mais tresloucada corrida das pessoas às farmácias, para comprar todo o estoque que ainda restava nas prateleiras, antes do mesmo ser recolhido.
O câmbio, naquele dia de crash da bolsa de inversão de valores, chegou a duas carteiras de cigarro para cada dose de Epocler.
Foram dias de glória para o Epocler.
Contrariando todas as evidências científicas e todos os padrões de razoabilidade, as pessoas querem acreditar, talvez porque, tudo o que elas possuem seja de fato a sua fé, a sua esperança naquilo que vêem como certo, do mesmo modo em que a filha, contrariando todos os apelos de amigas, irmãs, mãe, pai, avô, avó, cachorro e até da família do próprio, se casa com o maníaco do Parque.
O dono da igreja “Deus Tá No Teu Bico”, quando desmascarado, filmado, gravado, periciado, autopsiado, dizendo que criou aquela seita para fazer dinheiro em cima de alguns ingênuos, e em função disso, comemora-se, que pelo menos aquela seita se desintegre e desapareça, os seguidores alegam que estão sendo atacados por satã, que quer desviá-los do caminho certo e que, com o líder ou sem ele, eles vão levar adiante a pregação.
Tem coisas que são imponderáveis, mas pelo menos, fica mais fácil entender o porquê do fascínio pelo Epocler, pois em caso de um mau casamento, uma escolha religiosa errada ou o convívio diário com as mazelas que nos cercam, é preciso ter sempre, à disposição, um bom remédio para o estômago e para ressaca do dia seguinte, do resto de nossas vidas.
Sérgio Lisboa.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

OUVIR OS SINAIS

Tem um filme com o Steve Martin, em que ele, na iminência de se casar com uma mulher totalmente sem escrúpulos, pergunta para o quadro da sua esposa, já falecida, se ela tem algo contra esse casamento e, se tiver, que mande algum sinal, qualquer que seja.
Desabam as paredes, cai o teto e ele, calmamente diz: - “Ainda espero algum sinal”.
Muito já se falou sobre os mistérios da vida e já se misturou todas as divisões da ciência com todas as divisões da religião, para tentar explicar sonhos, telepatia, telecinese, aparições, poltergeist, etc.
Eu acredito em sinais. Não vão pensar que sou um matemático obcecado por aritmética.
Eu disse que acredito em sinais sobre as coisas que estão acontecendo e que poderão acontecer.
Vocês nunca perceberam, quando vão procurar alguma coisa, e essa coisa é para uma boa causa, o destino ou alguma força externa, te auxiliam, como que te direcionando para o lugar certo?
Basta prestar atenção: as gavetas onde será inútil procurar, emperram, como se estivessem dizendo “não é aqui”, portas, a mesma coisa, sempre trancam, se ali não é o lugar procurado.
Só que isso não deve ser usado como desculpa para não arrumar mais as gavetas e as portas, pois também pode não ser sinal algum, e ser só um relaxamento doméstico e falta de um carpinteiro.
Outra coisa muito importante é que não adianta nada você ser um iluminado e receber sinais em maior número do que acessos a sites pornôs, e ter problemas de interpretação de texto, não conseguindo decifrá-los adequadamente ou o que é pior, entendê-lo de forma equivocada, gerando o que se chama no esoterismo de sinal com problemas de decodificação (é diferente do que acontece com a tv a cabo).
Muitas vezes, eu recebia vários sinais, dos meus credores, principalmente, só não os entendia, na sua essência, mas eu acho que é só por falta de uma sintonia mais fina com o universo.


Teve um dia em que eu recebi um sinal de que minha mulher me traía e aquilo machucava minha cabeça, como se algo tivesse brotando da testa, e me deixei levar por essa sensação, esperando uma luz, que esclarecesse esses sintomas.
Até que, finalmente veio uma explicação divina para o que eu sentia: não era nada daquilo que eu pensava, e sim, é que ela estava projetando em outros homens a minha imagem, em função de um desequilíbrio cósmico, proveniente de uma não-aceitação de traumas intricados de vidas passadas (pelo menos foi a explicação que a luz me deu, em frases de neon).
Desde então, eu durmo com a luz apagada.
A partir daí, passei a não mais me preocupar e sequer olhar para sinais e minha vida voltou ao normal.
A única coisa estranha que começou acontecer, é que o cosmo passou a me enviar várias multas de trânsito.
Sérgio Lisboa.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

CRÔNICAS COM FUNDO MUSICAL



Quase sempre, quando estou escrevendo, aproveito para escutar alguma música no próprio computador.
A música é inspiradora para qualquer atividade (torturadores ouviam música durante suas sessões) e, principalmente para quem escreve.
O meu computador tem uma seleção de quase trezentas músicas, com uma diversidade estonteante. Tem de Beethoven a MC Doca.
Esse ecletismo é uma questão pessoal, de variar os mais diversos sabores musicais, contrapondo várias pessoas que só ouvem jazz, ou só rock, ou só sertanejo, ou só funk (meu Deus do céu!).
Tem gente que diz que tem um gosto musical muito variado, que vai desde Chitãozinho e Xororó a Zezé Di Camargo e Luciano.
Então comecei a reparar que a trilha sonora estava influenciando o rumo das minhas crônicas, e essa mistura muito diversificada do meu selecionador musical, foi criando verdadeiros monstros verborrágicos.
O resultado final foi um verdadeiro desastre, pois acabaram mudando todo o sentido dos pensamentos.
Estou neste momento, entrando em contato com os leitores, para um “recall”, pedindo que eles troquem aqueles textos, que estão com defeitos, por novos, já revisados e com o sentido original.
Eu sei que alguns leitores mais conservadores e que assistem muita televisão, estão relutantes em fazer a troca, uma vez que estão bem satisfeitos com o texto com defeito. Então só peço para deletarem meu nome da autoria.
Os textos que estão sendo chamados para a troca, são “O Governo Que Eu Amo”, cujo título original seria “Suicídio Lento”. Esse defeito de fábrica aconteceu porque eu começava ouvindo Beethoven no início, no meio da crônica já tocava Rebelde e culminando com um Roberto Carlos, no final.
A idéia central passada aos leitores foi:”... que apesar dos erros do governo, compreendi que havia nele a imaturidade política de um adolescente, mas que todas suas ações eram por amor”.
O outro texto que deve ser trocado chama-se “Eu acredito”, e seu título original seria “Preciso de um Pistolão”. Nesse, comecei ouvindo Lenine, seguido por Raul Seixas, mas logo veio Xuxa e as Paquitas (eu mato quem colocou isso na minha seleção), a partir daí nem me lembro mais o que aconteceu.
Era para ser uma abordagem esclarecedora da situação social do país, mas acabou sendo um manifesto em favor da reeleição.

Os outros textos que não foram chamados para troca, não sofreram essas influências malignas musicais e se parecerem um tanto estranhos, não se preocupem: é porque eles são ruins mesmo.
Sérgio Lisboa.

MAC GYVER



Tem vezes que tenho vontade de ser o Mac Gyver.


Lembram dele. Aquele personagem da série de televisão, que resolvia tudo com habilidade e conhecimento científico. Com um fio de cabelo e uma caixa de fósforos, ele explodia uma ponte. Ele mesmo. O Mac Gyver.


Já pensou no que ele não faria com um alicate e um vidro de perfume? Invadia o Iraque (pensando bem, isso já foi feito, mas sem perfume).


Certa vez, com um vidro de pimenta e uma caixa de pregos ele fez uma metralhadora.


A melhor foi aquela em que ele, com um cubo de gelo e um grampeador, fez um ultra-leve. Teve problemas para voar, no início, é verdade, mas depois foi que parecia uma pluma, pelo menos até derreter o cubo de gelo.


Aqui no Brasil também temos os nossos Mac Gyvers. Tem, por exemplo, o cara que consegue só com o ensino fundamental, ser presidente. O que consegue de dentro da cadeia, comandar melhor a empresa criminosa do que se estivesse do lado de fora (acho que esse não é Mac Gyver e sim, o Houdini). Tem o cara que tem isenção de impostos desde a idade média, e publica indignado a lista dos sonegadores. O cara que com uma simples eleição, multiplica por um milhão o seu patrimônio.


Alguns que com apenas uma caneta, acaba com as esperanças de milhões.


Eu gostaria de ser o Mac Gyver, para, mesmo estando amarrado ou algemado, mudar o destino de alguém, só com um sorriso.


Eu gostaria de ser o Mac Gyver, para poder dizer que com uma linha, dá para fazer muita coisa: costurar uma amizade ou ligar para alguém para dizer que a ama.


Vou parar por aqui que isso já está parecendo bichice.


A série de televisão citada se chamava “Profissão Perigo”. Já era uma antevisão do que passariam os brasileiros, convivendo entre a bandidagem fora da lei e a bandidagem dentro da lei.



O Mac Gyver verdadeiro, na época do auge de seu sucesso, esteve no Brasil para a filmagem de mais um episódio da série.


Acostumado a resolver grandes problemas com o mínimo de recursos, ele foi convidado para passar um mês com o salário-mínimo do brasileiro, o que prontamente recusou, dizendo:” and your ass, don’t go anything”? Traduzindo : “Faço coisas impossíveis e que parecem fantasia, mas isso já é forçar a barra”.


Sérgio Lisboa

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

BAIRRISMO



Se tem uma coisa muito difícil de se fugir é do bairrismo.



Quando se mora no interior, onde as casas são em sítios e não existem bairros, só localidades, então se é, ao invés de bairrista, localista. Se mora em vila é vilista. Se o local da morada é uma comunidade, o cara é comunista (é melhor do que comunidadista).


Inclusive esse termo “minha comunidade”, muito usado por líderes comunitários, é uma reengenharia verbal do comunismo.


O mais comum de se ouvir a respeito do bairrismo, é que ele não é saudável, que é pensamento de gente atrasada e que o moderno é ser cosmopolita.



Todos os maiores gurus do universo, sempre pregaram que devemos nos conhecer primeiro, para depois, saindo de nosso interior, percorrer o mundo, valorizando e agradecendo, sempre, o lugar onde estamos, o nosso corpo, a nossa mente, a nossa alma, a nossa casa, o lugar onde repousamos e até a nossa própria cama.


Indo nessa linha, chego à conclusão que devemos ser bairristas, corporativistas, mentalistas, almistas, casistas, quartistas e camistas.



A não ser que eu tenha um vizinho muito insuportável, e que o seu prestígio me traga inconvenientes, eu prefiro mil vezes que o cara mais famoso do mundo, o campeão mundial, o ator consagrado, o mais querido, o mais importante, more ao lado da minha casa e vou torcer para ele, sempre, se o mesmo estiver próximo de uma nova conquista. Isso valoriza a minha rua, o meu bairro, a minha cidade. Se a presença dele não valorizar tanto quanto eu penso, já serve, pelo menos, como ponto de referência, para as visitas acharem mais facilmente a minha rua.


Mesmo que minha cidade tenha só dois times de futebol e que sejam eternos rivais, só não vou torcer para o time adversário quando ele jogar contra o meu time, nas outras partidas dele, eu quero mais que ganhe, e traga a alegria dele para perto de mim.


Muita gente que está lendo essa crônica deve estar dizendo para si mesmo: “acho besteira ser bairrista”.



Vou propor, então, um teste definitivo para saber se o leitor é ou não bairrista. Responda com sinceridade: se na partida final do campeonato interplanetário, valendo o título do universo, estiverem jogando a seleção da Terra contra a seleção de Marte, você torce para a Terra ou para Marte?


Bairrista!


Sérgio Lisboa.





quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

ARTE MODERNA



Uma vez , quando era mais jovem, tinha na praça central da cidade, uma grande exposição de arte plástica (não pensem que era uma reunião de lançamento de Tuperware), onde os artistas, chamados de experimentais, expunham seus trabalhos.


Tinha ferros retorcidos, parecendo corpos, arames esticados em volta de um pneu, representando o sol, papéis rasgados, tecidos esvoaçantes, madeiras parecendo rostos, lâmpadas velhas criando imagens distorcidas e tudo que era material imaginável a serviço da arte.


Confesso que olhando de perto, cada uma daquelas “obras”, elas pareciam mais uma brincadeira de criança criada com a avó, tal era a forma primária com que elas se apresentavam.


Mas o público compareceu. O público sempre comparece para essas coisas.


Os interessados faziam cara de intelectual, soltando alguns sussurros do tipo “hurummm”, coçavam o queixo, tiravam e colocavam os óculos, levantavam a cabeça e iam para a próxima escultura, parecendo príncipes árabes numa liquidação do Museu do Louvre.


Nesse dia, estavam lá, eu e meu amigo Beto, o Betânea (apelido em homenagem a cantora baiana - dizem que o apelido vem do tempo em que ele teve piolho), justamente num canto da praça em que o lugar da exposição estava vago.


Adivinhem o que se passou por nossas cabeças?


Vamos expor alguma coisa nesse espaço vago. Seria um pecado não aproveitarmos essa chance de mostrarmos nosso talento artístico, ainda mais que o Betânea tinha na família a tradição artística –seu pai pintava quadros (só depois ele me explicou que eram quadros de bicicletas para uma oficina).


Pois bem. Olhamos para os dois lados e começamos a recolher o que estava mais a mão para a nossa “obra-prima”, no caso, um copo plástico de refrigerante escrito “coca-cola” e um maço de cigarros amassado. Foi o que deu.


Tínhamos que ser rápidos, pois o seleto público já estava chegando ao nosso espaço artístico.


Enfiamos o maço de cigarros dentro do copo, com a metade para fora e deixamos o copo em pé ali mesmo.


Paramos os dois, cada um de um lado da “obra”, como eunucos guardando as virgens do palácio, com os braços cruzados, com um olhar sério, mais sério que político em enterro de eleitor que não vota na cidade.


As pessoas olhavam para a “obra”, olhavam para nós e voltavam a olhar para a obra. Alguns riam e outros faziam os mesmos “hurummm” de antes.


E nós ali, firmes, olhar ao longe, como verdadeiros artistas.


A presença do público em nosso espaço foi um sucesso naquele dia.


Alguns deles, quem sabe, até hoje devem estar se perguntando, o que aqueles artistas quiseram dizer com aquela “obra”.


Um copo plástico com a marca de uma multinacional e uma carteira de cigarros, nacional, amassada, como que engolida pela multinacional.


Até hoje eu me pergunto se nós, com aquela brincadeira, não alteramos os destinos das pessoas, de acordo com o entendimento de cada observador para aquela “obra”.


Confesso para vocês, que nunca mais toquei nesse assunto, mas, um daqueles visitantes da obra, estou me lembrando agora, era a cara do Lula.


Sérgio Lisboa.



segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

FILA DE BANCO



Alguém aqui já ficou em fila de banco?


Para mim a última coisa do mundo é ir para uma fila de banco.


Eu quero prestar uma homenagem ao responsável pela idéia do caixa eletrônico, pois dá para sacar, depositar, pagar conta, transferir, sem falar que tem a internet, que teoricamente, facilita ainda mais. Essa eu evito, pois apesar de ter linux, sites seguros, etc. sempre tem alguém que acaba sendo limpo, por um gaiato do outro extremo do país.


Eu nunca fico em fila de banco. Eu me sinto um homem liberto. Paguei minha pena quando era office-boy, e minha profissão era ficar numa fila de banco, numa fila de cartório, numa fila de imobiliária, numa fila de emprego (opa!).


Hoje não, as poucas vezes em que é preciso enfrentar esse verdadeiro inferno, é quando um parente distante me pede “um” emprestado e não trabalha com o mesmo banco que eu e daí, além de mandar um dinheiro, ainda sou obrigado a enfrentar uma fila de banco.


Quem costuma ir ao banco já deve ter reparado nas atitudes das pessoas que estão na fila. Esbravejam, xingam, reclamam, ironizam, acusam o governo, passam na frente dos outros, se jogam no chão, perdem a razão.


E como não é possível trocar seu lugar na fila, a não ser que seja para trás, você é obrigado a ouvir o assunto dos dois de trás ou dos dois da frente, ou dos quatro juntos, durante no mínimo, meia hora. Se o assunto fosse criativo e inteligente, a espera não era tão dolorosa, mas normalmente estão falando de doença, das varizes da tia Maria e das crises de caganeira do vô Arlindo, que não é nada ruim se comparada com o assunto mais comum nessas horas: a dança dos famosos do Faustão. Eu odeio fila de banco.


Fala sério. Se eu fosse responsável pelo departamento de psicologia de alguma empresa, nem perdia meu tempo com aquelas infinidades de testes e entrevistas. Pedia para o candidato me fazer um favor e ir ao banco pagar uma conta de luz.


Seguiria o cara e ficava observando qual seria a sua reação na fila do banco. Se ele não fugisse com o meu dinheiro, já passava pela primeira fase do teste. Se ele não perdesse a cabeça na fila, já passava na segunda fase. Agora, se ele saísse de lá com um sorriso no rosto, reprovava ele na hora e mandava internar.


Quando, finalmente chega-se ao caixa, a gente já está tremendo de medo que vá cair o sistema bem naquela hora, que o caixa diga que fechou, que o formulário que levamos não é o correto, que aquele caixa é só para atendimento prioritário, que não trouxemos a vela da primeira comunhão ou qualquer outra coisa.


Apesar destes receios, me encosto no guichê e nem falo nada. Não é falta de educação, não me entendam mal.


Imagina se todo mundo diz um simples bom dia no início e um muito obrigado na volta para o caixa, que leva 05 segundos cada um. Se o mesmo retribuir com uma resposta e multiplicando esse tempo por 56, que é o número de pessoas na fila, já se passou meia hora, só nessas convenções ridículas.


Portanto ninguém deve falar com o caixa, nem um pio.


Sem falar nos surdos que recebem um bom dia e não escutam, e é preciso repetir o cumprimento e daí passamos o dia na fila.


Finalmente o caixa me olhou, como que percebendo que eu não queria assunto, somente fazer meu depósito, rapidamente pegou minha guia e o dinheiro, começou a digitar, eu feliz como uma criança, quando de repente ouço um grito: “Ninguém se mexe, é um assalto”.


Sérgio Lisboa.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

O SUSPEITO É SEMPRE O MARIDO

Já faz um bom tempo em que os casos policiais de maior repercussão na imprensa, onde aparece uma mulher morta misteriosamente, o suspeito número um, o indiciado e o que sempre vai preso é o marido dela.

A maioria dos casos não tem provas materiais, somente uma série de indícios do tipo “ele brigou com ela na lua de mel” ou “ele esqueceu o dia do aniversário dela” ou o mais contundente, o mais indefensável “ele reclamava para ir ao supermercado”. Esse último indício, meu amigo, faz uma junta de advogados largar o teu caso e te deixar com a Defensoria Pública.

A situação está tão preocupante, que o Vaticano já está preparando um pronunciamento oficial para tentar salvar a instituição casamento (já há uma diminuição preocupante do número de casamentos em função deste fenômeno), e quem sabe até criar uma nova doutrina, obrigando que cada casal tenha seu respectivo amante, para servir como bode expiatório para qualquer crime que possa ter um dos casados como suspeito.

A polícia alega que seus inquéritos se baseiam em investigações, depoimentos, experiência e procedimentos científicos e que descobriram uma forma de resolver o caso sem sair da delegacia.

“Nós não temos culpa do cara ter casado com uma “mocréia” e ela aparecer morta, justo no dia que ele resolveu dar uma escapadinha”.

Eu acho que a polícia tem uma cartilha pronta para cada caso, baseado em estatísticas anteriores, que dá uma maior agilidade às resoluções dos casos.

Se o sujeito apareceu morto por afogamento, só pode ser o entregador de água mineral.

Se foi morto com a garganta cortada, foi o barbeiro (mas foi um acidente num atendimento a domicílio).

Se aparece esquartejado, é lógico que foi o açougueiro.

Se foi morto e estuprado, foi o próprio filho para se vingar do fato de ele viver comendo a mãe do menino.

Se morreu enforcado, dá uma olhada se os carnês estão em dia.

Se morreu por parada cardíaca, é a amante gostosa.

A cartilha é longa e dá uma lista enorme.

Eu confesso para vocês que pensei mil vezes antes de escrever esse texto, pois (deus me livre), se acontece algo com a minha mulher, eles ainda vão dizer que eu, além de suspeito, era um sádico que editou o plano diabólico numa crônica.

Se acontecer uma coisa com a minha mulher, façam qualquer coisa para fazer justiça, mas pelo amor de deus, não usem essa cartilha.

Sérgio Lisboa

sábado, 2 de fevereiro de 2008

O CAOS É A MELHOR COISA

Uma vez eu ouvi de um político da segunda divisão (era suplente de vereador de um pequeno município), uma definição que eu achei muito interessante. Ele me disse que o político faz de tudo para manter o caos e a bagunça, pois é a melhor coisa do mundo para eles.

Eu fiquei impressionado com aquela afirmação, mas ele nem esperou saber de mim se eu concordava ou se sequer tinha entendido o que ele queria dizer, e continuou a discorrer sua tese.

Ele disse que numa situação em que tudo funciona perfeitamente, não é possível se fazer os famosos “pequenos favores”, a torre de petróleo no quintal, para um político que quer se reeleger.

Se o poder público deixa bem limpa a cidade, ele não pode ir lá na tua rua e limpar especialmente para ti, que pode vir a ser cabo eleitoral dele.

Se o sistema de saúde funciona bem, ele não pode te passar a frente nas filas, porque elas não existem.

O caos e a bagunça, também são parceiros da prestação de contas, uma vez que quanto mais obscuros forem os procedimentos e os registros, mais difíceis ficam as cobranças com relação aos desvios.

Ele não vê vantagens em sua pasta funcionar como um relógio, com todos os procedimentos dentro dos padrões da legalidade, pois não há possibilidade nenhuma de sua intervenção, a não ser a de acompanhar o andamento das coisas.

Portanto, eu entendi agora o esforço que os agentes políticos fazem para se elegerem.

Precisam, a todo o custo, manter a desordem e o caos generalizado, como uma seita satânica milenar, sempre tendo um novo membro para substituir os já cansados da lida. E convenhamos, para essa missão, eles estão sendo muito bem sucedidos, inclusive usando, nós os simples mortais, como cúmplices de suas maquiavélicas articulações, transferindo-nos os ônus de suas práticas, além de nos deixar com um complexo de culpa incurável, fazendo-nos acreditar que esse país não vai para a frente por que nós, brasileiros é que não temos jeito.

Os aliens estão tomando os nossos corpos.

O funcionário público de carreira, que convive com esse ninho de ovos de aliens, que saltam direto em nosso rosto, para nos usar como incubadoras de novos monstros, têm seu cérebro dominado por eles, para, como abelhas-operárias, servir à rainha e a seus ovos.

Vocês dirão que já sabiam disso tudo há muito tempo, pois lêem Arnaldo Jabour, mas eu trago aqui um testemunho de um réu-confesso, de um alien, que após ser chocado para virar um parasita devorador, está neste momento pedindo asilo e disposto a contar as suas memórias.

Um alien arrependido é dose para predador.

Sérgio Lisboa