quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

LEITE NA VOLTA

Esposas são incríveis. Elas pensam que nós não cansamos, não temos sono e que estamos sempre em condições de sair a qualquer hora só para buscar brócolis e margarina sem sal, para fazer para o almoço de domingo, porque a mãe dela gosta muito.
Falando nisso eu nunca entendi porque ela faz o brócolis com margarina sem sal, se no almoço a mãe dela come com o saleiro na frente, parecendo um sambista, em frente à comissão julgadora, chacoalhando freneticamente o tubo de sal. Sem falar que parece uma gincana de maluco sair tarde da noite atrás de brócolis e margarina sem sal. Primeiro que brócolis já é difícil de achar até de dia e margarina sem sal é mais difícil do que foto de presidente se formando na universidade (foi mal!).
E olha que não é por falta de reclamação, de gritaria, de discussão, de valorização da profissão de marido. Nada disso adianta.

Uma vez, num fim de semana, eu fui dizer para ela que eu estava muito cansado, que tinha trabalhado a semana toda, que precisava de umas férias e que, naquele dia, eu não estava em condições de lavar o carro. Vocês sabem o que ela me respondeu? -Imagina, você é muito mais durável que o carro. Pode isso?

E a fanta uva? Ah! a fanta uva. Ela adora fanta uva. Vocês vão me dizer que esta tarefa não é tão difícil, só tem um porém : seu desejo chega ao ápice, tornando-se completamente incontrolável, somente tarde da noite, quase de madrugada. Peguei vocês!
Imaginem a cena : eu, tarde da noite, entrando no único bar aberto aquela hora, parecendo aquelas cenas de filme de faroeste, só mal encarados, todos olhando para mim e eu claro, indignado pela minha missão, peguei a primeira camiseta que eu vi em casa. Só no centro daquele saloon do velho oeste, que eu fui perceber que a camiseta era da minha mulher, uma camiseta lilás, com a foto do Gianechinni no peito. Ainda assim, tomei coragem e cheguei junto ao balcão, fiz uma cara de mau, engrossei a voz e mandei :- Tem fanta uva?

Definitivamente as mulheres não se importam com a nossa estrutura física, mental, hormonal, sacal. O que elas querem é que nós estejamos sempre ali, firmes e prontos para satisfazer seus caprichos, seus desejos, e o que é pior, muitas vezes elas nem fazem muita questão daquilo que nos pedem, mas pedem apenas para testar se o serviço está funcionando, tipo criança que passa trote periodicamente, só para ver se o vizinho está mesmo em casa.

Para tentar, definitivamente, sensibilizar a mulher, forjei meu próprio seqüestro. Liguei para casa, com voz assustada, dizendo que fui seqüestrado, que iriam me matar, que (agora vem o golpe) eu só fui pego por que andava pela noite atrás de alface crespa e que se eu saísse desta, essa rotina teria de acabar. Falei tudo isso e fingia alguns barulhos no fundo, alguns gritos e a mulher quieta no telefone.
Daí eu não agüentei e disse: - Não vai dizer nada, mulher? Ela bem calmamente, sem o menor abalo, disse: - Não esquece de trazer leite na volta.
Sérgio Lisboa