Hoje eu fui ao shopping levar a minha sobrinha naqueles brinquedos de bolinhas e labirintos, de escorregadores e tubulações.
Eu achei bem didático esse brinquedo, uma vez que ele antevê situações que as crianças enfrentarão no futuro, com muitos labirintos, escorregões e entradas pelo cano.
Enquanto ela se divertia por lá, eu fiquei do lado de fora, numa verdadeira alegoria da própria vida: as crianças e os jovens fechados em seu mundo de fantasia e nós, os adultos, do lado de fora, sentindo a brisa fria da realidade soprando em nossos rostos, livres, preocupados e solitários, quando na verdade, queríamos estar presos e seguros a um grupo, protegidos nem que fosse por um olhar vigilante que nunca nos perdesse de vista.
Sentei num café, onde havia várias mesas, praticamente ocupadas e, por incrível que pareça, um sofá, com uma mesa, completamente vazios.
Em cima da mesa uma revista de circulação nacional, cujo título era: ”A vida começa aos 50”.
O que me fez pensar que eu devia passar a maior parte de minha vida sem me preocupar com nada, para só após os 50, pensar em viver.
Sentei sozinho naquele sofá, com uma mesa na frente só para mim.
Enquanto sorvia o meu café, que veio com um copinho de água bem pequeno, capaz de matar a sede de um beija-flor, se não for verão e um pau de canela para ser usado como colher e mexer o café, além de uma bolinha doce, que mais parecia um haxixe, que não me atrevi a tocar, deixando-a como enfeite do café.
Olhei para aquelas atendentes tão jovens, com um futuro tão incerto, sendo monitoradas por um gerente tão jovem quanto elas, só que aprendera a fazer cara de sério para impor um respeito à sua função, mas que naquele momento se juntou a elas numa cumplicidade nunca vista, como que a dizer que estavam todos no mesmo barco.
Pensei em escrever algo sobre eles ou sobre aqueles tipos que passavam por todos os lados.
Aquele sofá só para mim, aquele café, aquela infinidade de personagens e aquela paz, tudo parecia um cenário montado, ideal para uma crônica, bastando apenas escolher o tema.
Mas ao olhar para o lado havia uma menina, que duvido tivesse mais do que quinze anos e um carrinho de bebê com um bebê-menino, certamente com menos de um ano de vida.
E aquele bebê me olhava e sorria, com um sorriso tão forte e tão espontâneo, que eu não vi mais nada ao meu redor.
Ninguém mais viu a nossa troca de olhares e de sorrisos, só nós dois. Eu e o bebê. Nem a menina que o acompanhava notou a nossa interação.
Então, inexplicavelmente, comecei a derramar lágrimas, não por tristeza, depressão ou algo assim. Eu tinha paz, eu tinha conforto e tinha o sorriso de uma criança desconhecida. Naquele momento eu tinha tudo.
Não sei ao certo onde a vida começa, se é aos 20, 40, 50 ou 90.
Só sei que ela passa, magicamente, pelo aval sincero de um sorriso de criança.
Sérgio Lisboa.