Nós precisamos ser crianças. Fazer criancices. Cometer infantilidades. Como elas, estarmos sempre rindo e de bem com a vida. Como elas, aprender a perdoar, a aceitar, a se adaptar e ter respostas para tudo que é complicado na nossa vida. Não querer explicar como nasce um eclipse, apenas apreciá-lo. Não querer explicar como se forma o sorvete, e sim que ele está ali, diante de nós, maravilhosamente delicioso.
O adulto acha que deve ser sério e equilibrado. Ele confunde maturidade com aspecto sisudo e fechado.
A criança está sempre aberta, criando novas formas de se divertir e aprender, não admitindo ficar parada, numa rotina inquietante.
Até mesmo em momentos difíceis de nossas vidas, procuremos conversar com uma criança, ela, certamente, dará palpites puros e singelos (com certeza os palpites serão mais aproveitáveis do que os da equipe econômica do governo). Temos muito a aprender com elas. Ou melhor, temos muito a aprender com a nossa própria criança interna, tentando encontrá-la, sempre, e trazendo-a para junto de nós.
A criança vê um semelhante em qualquer lugar e corre em direção à ele, pega em seu braço e saem de mãos dadas para brincar.
Talvez os adultos que não tiveram uma infância completa, devessem brincar com seus filhos, sobrinhos e netos, as brincadeiras deles, montando casinhas, ouvindo suas músicas, assistindo desenhos e, se possível correr e pular com eles.
Não devemos ter medo de parecer ridículos, pois já fazemos isso o tempo todo, quando imitamos o modo de vida dos outros, reproduzindo o que a sociedade nos impõe, quando lemos sobre as loucuras que os artistas fazem, pois eles brincam como crianças e ainda ganham uma fortuna para isso.
Vamos nos infantilizar para transformar o mundo numa grande festa, sem malícias, sem maldades, sem caras sérias.
O começo é um pouco difícil, pois corremos o risco de aparecer no serviço, com um bigode de leite nos lábios, a cara cheia de riscos de canetas de pintar e até, quando for pagar a gasolina, ao invés do cartão de crédito, sair o cartão-passaporte do parque de diversões.
O jeito é dar uma gostosa gargalhada e convidar o frentista para tomar um sorvete.
Quem estiver lendo esse texto e achar que é uma fantasia ridícula, tudo o que escrevi, acertou, pois é isso que o mundo está precisando, de mais fantasia e menos medo do ridículo.
Se quiserem continuar adultos, sérios e maduros, fiquem a vontade, mas não vão ganhar sorvete.
Sérgio Lisboa.
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