quinta-feira, 26 de junho de 2008

O ESPÍRITO DA MATÉRIA

Por que a gente aprendeu tanta coisa ao longo da longa vida escolar?

Já foi dito por um grande mestre em educação que, se os alunos não conversam no recreio sobre o que acabaram de ouvir em sala de aula, alguma coisa está errada.

Aprendeu-se a dividir, mas depois a vida não perdoa quem não pensa só em somar.

Aprendeu-se sobre química, sempre numa visão matemática, somando-se os elementos, mas nada sobre ficarmos completamente a mercê de alguém, por pura química.

Sobre física nos disseram que dois corpos não poderiam ocupar o mesmo lugar no espaço. Vai ver que nunca fizeram amor.

Aprendeu-se sobre a história de grandes homens e conquistas, só mais tarde é que fomos descobrir que tudo não passou e até hoje não passa de ganância econômica.

Aprendeu-se a ler, mas não a interpretar.

Aprendeu-se a escrever, mas não o que é importante escrever.

Aprendeu-se a decorar ou memorizar e isso nos fez esquecer de interiorizar o conhecimento ou de assimilar a lição.

Não estou fazendo nenhuma crítica a um dos mais importantes agentes desse processo que é o professor, pelo contrário, ele também é uma vítima dessa ditadura que impõe uma enxurrada de carga horária e de disciplinas, cada vez mais distante da realidade em que vivemos.

De todas as coisas que aprendi na escola, talvez a mais repetida delas, tenha sido a tabuada, com suas multiplicações decoradas tipo, “dois vezes dois é igual a quatro”. Me lembro, como se fosse hoje, que o meu professor fez questão de frisar que era importante lembrar, pelo menos essa multiplicação: “dois vezes dois é igual a quatro”.

Talvez, como uma espécie de guardião de um “Código da Vinci” educacional, passado de mestre para mestre, a tabuada fosse o mais forte sinal do que a vida nos reservaria no futuro: verdadeiras “tabuadas” no lombo, que acabariam nos deixando literalmente de quatro.

Sérgio Lisboa.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

QUAL A SUA IDÉIA DE PARAÍSO?



No imaginário popular a idéia de paraíso é como aquele cenário dos “telletubbies”: Campos verdes, muitas flores, pássaros e coelhos passeando e seres alegres e saltitantes andando de mãos dadas como verdadeiros amiguinhos.



Uma vida linda, sem assaltos, sem Faustão, sem cólicas e sem imposto de renda.


Os nascimentos e as mortes surgindo à nossa frente com uma naturalidade sublime.


Você deve estar se perguntando, como assim nascimento e morte? Claro! Estamos falando de um paraíso aqui na terra, enquanto estamos vivos. Um cenário ideal de perfeita harmonia entre os homens e entre a natureza. Não o paraíso religioso onde não existem mais dor nem morte. O paraíso da boa vontade entre os homens e em vida.


(Eu só nunca entendi porque os “teletubbies” moram em iglus se lá é sempre primavera).



Outros dirão que não é esse paraíso que eles imaginam para si. O que eles queriam era um shopping center ao lado da casa deles, um carro com motorista nem que seja só para sair de uma garagem e entrar na outra e muita gente pobre e ordeira em volta dele, para morrerem de inveja de tudo o que ele tem e, ainda assim, não lhe arrancarem nada.



Um terceiro mais comedido e mais justo diria que o cenário ideal de um paraíso seria todos terem acesso a tudo o que gostariam e não faltasse nada para ninguém.


Desde que não quisessem ter bombas atômicas, pois para isso seria necessário algumas regras que seriam cobradas por...sei lá! Seria criado um órgão para definir e cobrar essas regras (olha o perigo aí, gente!)



Realmente não é fácil. Se definir o que é o paraíso já é difícil, o que dirá concretizá-lo. Mesmo assim, a gente não deve desistir da idéia de uma vida plena, com igualdade de direitos, sem necessidades não atendidas, sem sofrimentos, sem medos, sem ansiedades, sem programas de auditórios e sem campanhas políticas.



Como o meu paraíso ideal é parecido com o cenário dos teletubbies, vou treinando, desde já, a cumprimentar alguém quando chego e quando me vou, fazendo mais ou menos assim: Ooiii!! Tchaauuu!!


O duro desse meu paraíso é ter que dar aqueles pulinhos que eles dão. O resto é fácil.


Sérgio Lisboa.






domingo, 22 de junho de 2008

A ÚLTIMA FRONTEIRA

Teve um episódio da série Jornada nas Estrelas, o antigo, com Willian Shatner e Leonard Nimoy, em que um irmão mais afastado do Spock, tinha uma técnica em que ele arrebatava seguidores com uma coisa de magia que consistia em tirar a dor das pessoas, na medida em que elas lhe falavam sobre o que lhes doía no passado.

Mais ou menos o que os psicanalistas fazem hoje com a gente e, principalmente os pastores modernos que se proliferam tão rapidamente quanto a necessidade das pessoas.

Fale-me de sua dor, que a sua dor o libertará.

Quando alguém aceitava a sugestão e falava do que tinha engasgado em sua garganta e no seu peito, trazendo consigo uma mágoa e uma angústia tão peculiares a todos nós, ele repassava aquele filme diante da pessoa, dando-lhe a chance de mudar a sua frase naquele momento devastador, de mudar a sua atitude ao rever a sua patética atuação na única fala mais importante que a vida lhe dera e, como que por encanto, a pessoa se libertava, ao mesmo tempo em que se transformava, contraditoriamente num seguidor cego dos passos daquele libertador de sua dor.

Não muito diferente de como as coisas funcionam hoje.

Infelizmente, acho que precisamos urgentemente de guias, sejam eles espirituais, artísticos, políticos ou qualquer tipo que nos façam acreditar que é preciso acreditar que tem que ter alguém que nos faça acreditar, não importa em quê.

O capitão Kirk, o nosso herói, o homem que detinha em si mesmo, a última fronteira da razão, o equilíbrio e a coragem que, audaciosamente, nenhum homem jamais experimentou foi, naquele episódio, confrontado com o nosso personagem que tirava as nossas dores, que nos traria o alívio, que faria com que acreditássemos que um novo mundo é possível, e, se quiséssemos, em suaves prestações.

E, ao ser abordado pelo tal ser “iluminado”, esse disse para o nosso herói: “Fale-me de sua dor, que eu a tirarei e serás um homem livre!”

Foi quando o Capitão Kirk, respondeu como um penetra na festa da mesmice:

“Eu não quero que tires a minha dor! Eu preciso dela, pois é ela quem faz o que eu sou!"

E o homem foi embora.

Fico feliz em saber que não foi totalmente perdido aquele tempo em que eu e a televisão fomos confidentes.

Sérgio Lisboa.

sábado, 21 de junho de 2008

AMOR MAIOR QUE O TEMPO

Giancarlo e Marlúcia namoraram quando ela tinha dezesseis e ele dezoito anos.

Foi um namoro rápido, porém intenso.

Ela estava noiva de outro rapaz, mas se apaixonou por ele.

Por essas circunstâncias da vida, eles se separaram.

E nunca mais se encontraram.

Vinte e poucos anos depois, o destino os colocou frente a frente.

Estavam lá, Giancarlo e Marlúcia.

Ela separada e com dois filhos.

Ele casado e com três filhos.

Ela, surpreendentemente, confessou a ele que nunca o havia esquecido, que casara e se descasara, que tentou e desistiu, mas que nunca, nem por um instante, deixara de pensar nele e que nada deu certo em sua vida, pois tudo o que sempre quis foi ficar com ele.

Ele depois dela, casou com a primeira que apareceu e ficou até hoje.

Vinte e poucos anos depois.

Ele, que também nunca a tinha esquecido, estava num misto de alegria, surpresa e preocupação. É, preocupação.

Hoje ele estava casado. Era um homem comprometido.

O passado bateu à sua porta e o pegou de pijama e chinelos. Barba por fazer.

Ela começou a lembrar cada detalhe, cada instante, cada momento que passaram juntos, numa máquina do tempo maravilhosa, mas perigosamente estonteante.

Lembrou daqueles amassos na parede da escola, daquele perfume diferente que ele usava, que nunca mais tinha saído, da primeira blusa que ela esteve com ele.

Lembrou de cada intimidade, fazendo com que ele revivesse cada momento de sua juventude com aquela namorada que fora a mais inesquecível que ele tivera.

E agora? Pensou ele.

Foi um amor de juventude que nunca esquecera e que se materializava em sua frente, muitos anos depois, mas tão linda como sempre foi.

Ele também, não mudara muito.

Parece que ambos se guardaram como que parando o tempo para se reencontrarem.

Ela, livre e desimpedida, confessando seu eterno amor ali, diante dele e ele casado, comprometido e atordoado com aquela situação que os sarcásticos deuses do amor lhe aprontaram.

Ele então foi para casa naquele dia, vivendo aquela história mágica e ao mesmo tempo atordoado, quando a sua esposa lhe pergunta o que é que ele tem. Ele tomando uma coragem que nunca teve até então lhe diz: - Querida, estou sofrendo com um dilema!

Ela então, não deixando que ele continuasse, fuzila: - Dilema? Dilema é coisa de frouxo. Por isso é que eu tenho que decidir as coisas por aqui!

-Compra a máquina de lavar e esquece essa história de sair para pescar com os amigos!

Sérgio Lisboa.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

TE LIGA!



De todas as invenções do mundo, desde os primórdios, antes mesmo da invenção da roda, ou seja, desde a invenção do eixo da roda, a minha mulher é eternamente agradecida a uma só invenção e a um só inventor: Grahan Bell.


Ele mesmo! O homem que inventou a máquina de gastar sem sair de casa. O homem que inventou a máquina de brigar com a família a quilômetros de distância. O homem que inventou a invasão diária das tele-marketing. O homem que inventou o seqüestro-relâmpago praticado por um homem preso e acorrentado num presídio de segurança máxima. O homem que inventou um localizador de marido no happy-hour. O homem que inventou algo para facilitar a comunicação entre as pessoas que estão longe e complicar a comunicação para os que estão perto. O homem que inventou o telefone.



O telefone. O velho conhecido telefone.



Eu sei que hoje tem o MSN, o Orkut, o e-mail e tudo o mais que também aproximam os de fora e afastam os de dentro. Mas o velho telefone continua ainda como o grande vilão dos distanciamentos dentro das nossas casas. Seja fixo ou móvel.


Sim porque o problema não está na tecnologia do aparelho ou na forma como ele permite a movimentação, pois se tratando de telefonemas dentro de casa pode ser até o fixo sem fio.



Lá em casa é tão certo quanto notícia ruim do governo: quando saio e todos estão na porta sorrindo e abanando para mim, como um comercial de margarina da família feliz, e eu, quinze segundos depois de ter saído resolvo ligar para casa, adivinhem? O telefone está ocupado!



Essa semana o recorde foi superado e ficou em nove segundos. Eu tenho certeza que eles podem dar mais de si, no que diz respeito à velocidade do uso desse aparelho tão importante, mas que foi transformado em uma máquina de trocar banalidades.



Um amigo meu contou que esses dias pediu para a filha dele que falasse com quem quisesse, o tempo que quisesse, mas pelo amor de Deus, não usasse o telefone para trocar receita de bolo.


Foi quando ela interrompeu a sua ligação, se virou para ele, tapou com a mão a parte de baixo do telefone, virou os dois olhos para o teto e demonstrando uma impaciência digna de uma “funkeira”, fuzilou-o com uma AR-15:


- Pai, não estou trocando receita de bolo. Não sou mais criança. O assunto aqui é sério. Estou ajudando a Lurdinha, que está desorientada, a como fazer um aborto!


Sérgio Lisboa.




quinta-feira, 19 de junho de 2008

EU, ROUBÔ

“The Trons” é uma banda de rock da Nova Zelândia, formada por robôs. Eles têm até um vídeo-clipe, cujo nome da música é "Sister Robot". Possuem também, até página na internet, que define o seu estilo como de influências do Velvet Underground e Yo La Tengo.

Os músicos-robôs são um tanto arredios com os fãs, mas seus empresários garantem que não é estrelismo e sim, que eles, por natureza, evitam relacionamentos mais sentimentais.

O que não difere muito dos roqueiros de carne e osso. O único problema é que a música, embora um tanto sem vida e muito repetitiva, ainda assim é muito melhor que muito banda por aí. No clipe, o tecladista com o rosto de um alto-falante, está vestido com uma camisa branca e uma gravata. E só. O guitarrista é um porta-casacos e seu rosto também é um alto-falante.

Eles não são robôs inteiros, com braços e pernas, como um boneco gigante, possuindo apenas um alto falante e alguns dedos metálicos, tanto para o teclado, quanto para a guitarra e a bateria toca sozinha. Mas mesmo assim a fábrica de mitos que o imaginário associado ao capitalismo industrial conseguem produzir, já elegeu o vocalista da banda, como os olhos mais lindos do cenário pop e o bumbum do tecladista o maior objeto de cobiça da última revista People.

Já foram flagrados em festas que são verdadeiros bacanais onde rola de tudo, desde jovens modelos de ipod e Mp7, até prostitutas mais experientes, tipo Windons 98, incluindo sessões de consumo de drogas mais pesadas como pó de silício e injeções de laser em seus circuitos.

Já há rumores, de um de seus integrantes, até de ter um caso com a própria placa-mãe, o que foi veemente desmentido pelos empresários.

Outro escândalo que não está sendo fácil desmentir é o do baixista que após anos de casamento com uma geladeira, não agüentando mais a sua frieza, resolveu ficar com alguém “mais quente” e tem sido visto freqüentemente aos beijos com um aquecedor. Por enquanto são apenas boatos.

Esse grupo estava pensando numa turnê para fazer shows aqui no Brasil, mas por enquanto, não tem nada confirmado, até mesmo porque as “raves” com seus sons “tecno” e as festas “funks” já são embaladas por robôs há muito tempo. Dizem as más línguas que até seus freqüentadores, com o tempo, estão todos se “robotizando”.

Talvez o melhor para eles conseguirem sucesso mais rápido por aqui, seja aproveitando o ano eleitoral e ser contratado para showmícios, até porque é a forma mais coerente do candidato tentar demonstrar uma emoção um pouco maior do que o artista.

Mas isso não é garantido.

Sérgio Lisboa.

sábado, 14 de junho de 2008

HOMOMILITARISMO

A tentativa do Exército Brasileiro de punir ou melhor, de fazer sumir os protagonistas de um romance gay de seus quadros, tem chegado a beira do ridículo.

A aversão, o preconceito, o embaraço, causam mais desdobramentos “trapalheônicos” do que qualquer tentativa mais equilibrada de enfrentar a situação.

A história nos mostra que em todos os lugares onde existe a clausura, o rigor, a disciplina irracional, a negação do individualismo, ali sempre residirá a contrariedade àquela imposição estabelecida.

O homossexualismo é um tabu tão grande em nosso país e seu preconceito está tão enraizado em nossa cultura que precisaremos de mais um milênio para que haja, de fato, algum avanço.

A própria mídia, como sempre, um prato cheio para os humoristas mais atentos, estampa em suas manchetes: “Sargento Gay foi torturado”, “Militar homossexual está preso”, etc.

Eles nunca dizem “Político ladrão consegue se reeleger” ou “Jornalista corrupto faz mais uma matéria tendenciosa”.

As acusações do exército em relação aos envolvidos no caso são risíveis. Os militares os acusam de alteração no uniforme, ocultar informações sobre o companheiro e ausência ao serviço. Se ocultar informações sobre o companheiro fosse crime, o presidente Lula devia pegar cem anos de prisão. Quanto à ausência ao serviço é só deixar um camburão na sexta-feira em Brasília.

Que o exército tem uma disciplina própria e uma legislação diferenciada, isso todo mundo sabe.

Só que essa instituição que, sem dúvida nenhuma é o baluarte, o estandarte, o bacamarte de nosso país, tem como responsabilidade a garantia dos poderes constitucionais, entre outros.

E a constituição não admite torturas, perseguições, preconceitos e cerceamento de defesa.

Ás vezes é preciso que uma minoria, para ter sua voz ouvida, não grite no maior microfone disponível, mas que toque uma melodia no mais afinado, caro e intocado instrumento exposto em um museu.

É mais difícil de ser arrancado de suas mãos, sob pena de danificá-lo e enquanto isso não acontece, sua música continua a ser ouvida por todos.

O único risco é que eles, inteligentes que são, vão acabar prendendo-o por tocar música em público, sem estar em dia com a mensalidade da Ordem dos Músicos.

Sérgio Lisboa.

ALIMENTOS SEXUAIS



A cebola e o alho ingeridos regularmente podem ser muito benéficos para o coração, uma vez que quem ingere esses alimentos acaba ficando com um bafo desgraçado, impedindo a aproximação de quem quer que seja, muito menos de um par romântico disposto a beijá-lo, o que lhe garante uma imunidade amorosa e, por conseqüência, não sofrendo das coisas do coração.



Ovos e tomates podem ser usados como atenuantes do stress, já que eles servem perfeitamente para ataques a políticos em comícios, exteriorizando a sua indignação com as atitudes desses cidadãos e liberando a bílis.



Laranjas podem ser usados como elemento motivador de auto-estima, pois dão uma sensação de que o indivíduo possui em seu nome, grandes valores em sua conta corrente. O problema é que essa sensação positiva, gerada por laranjas, dura muito pouco tempo e pode formar uma nova doença chamada SDS (Síndrome do Deslocamento Sucessivo).



Mandiocas em estado cru podem ser usadas como substituto sexual, atenuando algum eventual jejum e trazendo um certo alívio por um determinado período. A recomendação desse tubérculo é para o sexo feminino, mas o uso do mesmo fica a critério de quem melhor se adapta a dieta.



A casca da banana tem sido a grande responsável por uma melhoria de vida, segundo os ortopedistas. Ela, pelos tombos que gera nas pessoas e conseqüentemente suas inúmeras fraturas, tem aumentado às consultas a esses profissionais, gerando maior renda para eles e uma óbvia melhoria de vida para esses médicos.



Pepinos e abacaxis, além de mudarem a rotina diária, são recomendados para aumentar a atividade física, pois já está provado cientificamente que sempre que aparece algum deles, as pessoas saem correndo sem olhar para trás.



A maçã, muito lembrada como símbolo do amor, realmente tem esse poder de manter uma harmonia sexual entre os casais, principalmente os que estão juntos há muito tempo, pois segundo alguns casais entrevistados, ela garante uma distração para a esposa, enquanto esta estiver embaixo do marido.


Sérgio Lisboa.










sexta-feira, 13 de junho de 2008

FRASES DE FILMES

Uma das coisas que mais me chama a atenção em um filme e não sai mais da minha cabeça, nem sempre são os cenários maravilhosos, a música envolvente, a fotografia deslumbrante, a atuação estonteante de um grande ator, nem mesmo um diálogo fantástico de um roteirista de primeira linha.

O que mais me chama a atenção em um filme e, geralmente em filmes banais, filmes de adolescentes, filmes de ação, aqueles filmes que não tem nenhum outro compromisso senão o de divertir, é aquela única frase, dita no único momento do filme em que os personagens não estão correndo, nem dependurados num abismo, nem salvando o mundo, enquanto palitam os dentes.

No filme de puro entretenimento e fantasia, “Superman”, o antigo, com o falecido Christopher Reeve, a Margot Kidder, personagem da Lois Lane, ao esperar a chegada do herói, que não veio naquela noite, revela: “como é triste ver o dia amanhecer, quando se passou a noite toda chorando”.

Não é uma frase assim tão profunda, mas nunca mais saiu da minha cabeça. Às vezes penso em rever esse filme só para reencontrar essa frase.

No filme “Indiana Jones e a Caveira de Cristal”, tem uma hora em que um personagem, referindo-se a um amigo comum que tinha morrido, diz para o Harrison Ford, o seguinte: “Chega uma hora em que a vida pára de nos dar para começar a nos tirar.”

Nunca tinha pensado a vida sob esse ângulo.

No meio de filmes tão banais, tão recreativos, tão leves, produzidos para dar risadas e trazer apenas alguns momentos de descontração, sempre acaba me marcando como uma mensagem mais forte, mais profunda, uma frase perdida (por acaso?) no meio de uma perseguição ou tiroteio de um filme de ação.

Muitas vezes essas frases podem até ter sido tiradas de um almanaque de farmácia ou de um livro motivacional que encalhou na livraria. Penso que, como esses filmes não tem nenhum compromisso com um roteiro mais elaborado, tanto é verdade que os roteiristas desses filmes nem vão à cerimônia do Oscar, a explicação deve ser outra.

Como nesses filmes o roteiro é a parte mais insignificante de todo o projeto, seus roteiristas escolhem a dedo uma única frase capaz de marcar um espectador mais sensível, que coincidentemente também gosta desse tipo de filme. É a forma deles mandar um recado para o mundo, dizendo que foram obrigados a escrever todo aquele roteiro ridículo, mas que, com aquela única frase, mostram a todos que seu potencial é muito maior.

Também é verdade que em um filme tão fútil e descartável, qualquer frase um pouco mais elaborada, soa como um achado poético.

De qualquer forma, sempre que sento para assistir a um filme de puro entretenimento, fico aguardando ansioso o momento daquele único diálogo, com aquela única frase, que vai me acompanhar pelo resto da minha vida.

Sérgio Lisboa.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

AVERSÃO A NOVELAS



Pintei um quadro que eu mesmo intitulei: “Aversão A Novelas”.


Resolvi pintar essa tela quando cheguei em casa, num final daqueles dias em que tudo o que precisamos é desabafar e conversar com alguém em quem confiamos para eles simplesmente te olharem e dizerem:


-Fique quieto que é o último capítulo da novela!



Pintar esse quadro foi a forma mais original e mais indignada que consegui para exteriorizar o meu repúdio, a minha indignação a essa verdadeira lavagem cerebral, a essa invasão de mentes, a essa massificação de pensamentos, a essa invasão de um Movimento Sem Terra, que tenta fazer uma redistribuição de áreas produtivas de seu cérebro.



Após terminar minha obra-prima, que levou o mesmo tempo do último capítulo da novela, que, diga-se de passagem, foi mais comprido que todos os demais trezentos e noventa e sete capítulos do ano, pude, finalmente, apresentar a minha mãe, para sua apreciação crítica, ao mesmo tempo em que esperava ao mostrar-lhe meu talento, dar uma lição do que é possível se fazer ao invés de perder seu tempo assistindo a coisas banais e sem sentido, como novelas.



Ela, então parou, e enquanto enxugava as lágrimas que derramou com a separação do casal de protagonistas e, principalmente de seu protagonista preferido, o ator Francisco Beltrão.


Apenas sorriu ao olhar para a tela, causando em mim, confesso, uma alegria e uma satisfação que nunca havia experimentado: a alegria de minha mãe por algo que eu havia produzido com minhas próprias mãos, sem interferências da televisão, de seus atores e diretores e, além de tudo, sendo uma obra de protesto pela massificação que quase havia engolido minha própria mãe.


Ela apenas disse uma frase, que para mim soou como a apreciação do próprio Leonardo Da Vinci reencarnado, me elevando ao seleto grupo dos imortais artistas plásticos de todos os tempos:


- Este morro com suas sombras me lembra algo familiar, disse ela.


- O quê ele te lembra minha mãe?


- Traços da pintura de Monet ou do maior mestre, Van Gogh?


- Não, meu filho! Parece a fisionomia de um ator de novelas.


- Já sei é a fisionomia do ator Francisco Beltrão!


Sérgio Lisboa.



sexta-feira, 6 de junho de 2008

O DONO DA FILA

Bem cedo ele já estava na porta do órgão público.

Conseguiu, finalmente ser o primeiro.

Até que enfim ele seria atendido, depois de meses de espera.

Quantas vezes havia chegado na fila e ser surpreendido com cento e vinte pessoas na sua frente, para um número de quarenta fichas.

Ia embora desiludido e pensando como seria o desfecho daquela situação com as oitenta pessoas que não iriam conseguir uma ficha.

A sua chance seria somente se, um dia, ele conseguisse chegar bem cedo, na frente de todo mundo.

E foi o que ele fez.

Nem dormiu naquela noite e no meio da madrugada ele já estava acampado em frente à porta do prédio.

Aquela porta que era tão cobiçada. Aquela porta que era tão distante de um mero ser humano. Aquela porta que era tão intransponível, que parecia até a porta do paraíso.

Lá estava ele, o primeiro e único homem que havia chegado àquela porta, naquele dia.

Como um desbravador de continentes perdidos, de planetas, nunca dantes explorados, lá estava ele.

O primeiro e único.

O escolhido.

O dia já ia amanhecendo quando um outro concorrente foi chegando com aquele olhar para ele de surpresa. Aquele olhar de quem se pergunta: como ele conseguiu essa façanha?

Mais outro foi chegando, com aquele mesmo olhar.

E mais outro. Para todos eles ele dava uma virada rápida de pescoço, um suspiro e levantava a cabeça como faziam os gladiadores sobreviventes do Coliseu, com um olhar firme de superioridade, fixo para o céu.

Ele era um vencedor!

Até que se apresentou um adversário a altura.

Um fura-filas. È o pior adversário para quem enfrenta uma maratona em uma fila: um fura-filas.

O “modus operandi” deste profissional do caradurismo sendo demonstrado ali, ao vivo, diante dele, sem cortes ou efeitos especiais.

Chegou com a cara séria, com os passos firmes e foi direto para a porta, lá na primeira vaga da fila.

Realmente o cara era bom. Um profissional de respeito. Só que ali estava ele, o cara que não ia permitir que isso fosse feito bem nas suas barbas.

Pegou o fura-filas pelo cangote, puxou com força e mandou ele lá para o fim da fila.

O fura-filas, é lógico, tentou argumentar, mas ele, que não era bobo, não deixou ele sequer abrir a boca (sabia de seu poder de persuasão) e empurrou-o lá para trás.

O destino, sempre cínico e debochado, desenhou para ele, naquele dia, que ninguém apareceu para abrir a porta.

Seria feriado? Seria greve dos funcionários?

Foi quando, chegando quase ao fim da manhã e todos já, mais do que indignados, resolveram até, não tendo mais paciência nem voz, deixar (pasmem!) o fura-filas falar.

Ele, com aquela empáfia de um verdadeiro fura-filas profissional, apenas disse:

- Eu sou o atendente deste órgão público e o responsável pela chave e abertura do mesmo.

Eu apenas cheguei pela manhã para abrir e atender a todos vocês, mas fui jogado para o fim da fila, sem deixar que eu falasse.

Como já terminou o turno de atendimento, eu peço que os senhores voltem amanhã, bem cedo, para pegarem suas fichas.

Sérgio Lisboa.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

APRENDI COM UM MENDIGO



Certa vez, numa noite muito fria de inverno, estava parado em um ponto de ônibus, quando um mendigo que estava acomodado atrás da parada, com sacos e bugigangas em volta dele, parecendo um acampamento, se aproximou de mim e me pediu fogo para o seu cigarro. Um toco de cigarro, na realidade.


Eu tinha comigo uma caixa de fósforos e alcancei para ele. Ele, com muita elegância, apesar de tremer muito, acendeu sua bagana e devolveu-me a caixa de fósforos. Sensibilizado com aquela situação que presenciara, sem sequer pensar, disse a ele que poderia ficar com a caixa de fósforos, que eu a daria para ele.


Ele voltou para o seu canto sem me dizer nada e eu continuei ali parado, esperando o ônibus.



Qual não foi a minha surpresa quando ele surgiu a minha frente, com as duas mãos, que estavam pretas de muito sujas, assim como as unhas, carregando em forma de concha, restos de verduras, retalhos de mortadelas e muitos legumes e, estendeu as duas mãos para mim e disse:


- Toma! Leva para casa para você fazer uma sopa!


Surpreso com aquela atitude e, ao mesmo tempo sensibilizado pelo espírito de gratidão e generosidade dele, agradeci dizendo, com todo o cuidado, que não podia aceitar.


Ele deu um sorriso de quem tinha cumprido o seu dever e um certo alívio por ter ficado com um pouco mais de alimento para o dia seguinte.



Essa história sempre me vem à mente como uma grande lição que aprendi em minha vida.


Daquelas histórias mágicas que não tem nenhum outro personagem como testemunha, numa noite fria, parecendo aqueles cenários criados especialmente para encenar uma fábula.


A moral da história, para mim, é que sempre temos alguma coisa para dar e, mais do que isso, é preciso retribuir as dádivas que recebemos, por menores que sejam.


Dar e retribuir, reconhecer e agradecer, ajudar e ser ajudado são atitudes que parecem esquecidas num mundo onde todos se acham no direito de só receber, de só exigir, de só ganhar, de só levar vantagem, do “ter” superando o “ser” do “ganhar” superando o “dar”, a qualquer custo.


Aprendi uma grande lição com um mendigo? Não!


Aprendi uma grande lição com um grande ser humano.


Sérgio Lisboa.



segunda-feira, 26 de maio de 2008

BATEDORES DE CARTEIRA

Uma das atividades mais antigas do mundo é a do punguista, do batedor de carteiras.

Eles andam para todo o lado, mas principalmente costumam atuar em grandes aglomerações. Ali é que é o seu habitat natural. Onde tem muita gente reunida e desprevenida de cuidados, não de dinheiro.

Seja em festas, shows, transportes públicos ou simplesmente caminhando em centros urbanos.

O mais incrível desses meliantes que podem ser, homens ou mulheres, é que adquiriram algumas apuradas técnicas de evasão tanto dos pertences quanto de si mesmos, em caso de uma ação mal sucedida.

Num desses ataques de um punguista solitário a uma mulher, também solitária, junto a uma parada de ônibus que estava cheia de gente, naquele horário, ele decidiu enfiar a sua mão dentro da bolsa que ela carregava pendurada em seu ombro.

Quando ele colocou a mão na bolsa dela, ela pressentiu e agarrou firme a mão dele. Foi quando, de forma surpreendente, como um verdadeiro ator do mais conceituado teatro, ele puxa a mão que ela agarrava e grita, ao mesmo tempo em que já sai em disparada para o lado oposto:

- Eu já te falei que não te quero mais!!!

Todos, que até então não haviam suspeitado de nada, passaram a olhar para ela com aquele olhar de condenação, com aquele olhar de quem reprovava uma pessoa que não sabe o seu limite, de uma pessoa desequilibrada que não assimila nenhuma perda e que corre atrás de um homem, sem o menor amor-próprio.

Nessas horas a vergonha conseguiu superar o seu medo e acabou engolindo a sua voz, não lhe deixando forças para dizer algo que seria simples em qualquer situação: que era gritar ou pedir socorro. Cada segundo que ela levava para se recompor da surpresa, da atitude do ladrão, parecia horas dificultando ainda mais, a sua iniciativa de dizer que ele mentira e sim que ela estava sendo assaltada.

E, ao invés dela comemorar que não fora roubada, teve que amargar a humilhação de ser rejeitada na frente de um monte de estranhos.

O olhar de reprovação das pessoas, misturado com o de decepção, por algo que não fizera, ficou marcado em sua retina como algo mais traumático do que qualquer assalto.

Sérgio Lisboa.


quinta-feira, 22 de maio de 2008

A AMAZÔNIA É UMA BOA ZONA

Uma reportagem publicada no jornal americano "The New York Times" afirma que a sugestão feita por líderes globais de que a Amazônia não é patrimônio exclusivo de nenhum país está causando preocupação no Brasil. O jornal diz que vários líderes internacionais estão declarando mais abertamente a Amazônia como parte de um patrimônio muito maior do que apenas das nações que dividem o seu território.

Obviamente o governo brasileiro não ficou muito satisfeito com essas declarações e prometeu tomar medidas drásticas para a proteção de seu território e a manutenção de sua soberania, já encomendando milhões de quilômetros de arame farpado, para cercar a região, deixando o setor siderúrgico ouriçado. As madeiras para o cercamento, por uma questão de logística e de custo, virão de madeireiras clandestinas da própria Amazônia. Outra medida foi dar um ultimato para os exploradores de todos os pontos do planeta que dizimam a flora e a fauna da região, dando-lhes, no máximo, noventa e nove anos para saírem de lá, sob pena de multa de cento e vinte reais, paga em dez vezes.

Enquanto não põe em prática essa estratégia de proteção à região, o governo brasileiro está pensando em delegar para os americanos o direito de escolher e credenciar quais os cientistas internacionais e ambientalistas que podem entrar nessas áreas, e quais companhias podem explorá-la.

Apesar disso, o presidente discursa pelo mundo afora, críticas sobre mudanças climáticas e desmatamentos, perdendo-se na contradição de não conseguir controlar um milésimo da região amazônica, enquanto é o embaixador mundial pela utilização de recursos energéticos vindos da terra, fingindo preocupação com o futuro do planeta.

Na verdade essa preocupação do Brasil em não permitir haver interferência externa em seu território, especialmente a Amazônia, até que é interessante, mas fica parecendo mais a história do pai que, querendo que a filha case virgem, enquanto escolhe o futuro marido para ela, deixa a menina se virando num prostíbulo.

Sérgio Lisboa.

POUCOS TÊM MUITO

Dez por cento da população brasileira detêm setenta e cinco por cento da riqueza nacional.

A gente passou um bom tempo na escola aprendendo como dividir, como fracionar e também o sentido humano de repartir com igualdade todas as nossas tarefas e pertences.

Depois que crescemos nos deparamos com essa realidade.

Como é que vamos falar de ética, de igualdade, de bondade, de generosidade, fraternidade, de sanidade, com uma realidade numérica dessa magnitude nos assombrando.

Já não chega aquelas revistas especializadas em dizer quanto aquele personagem famoso ganha por segundo, se dando ao luxo de comparar com o fato de que, a cada vez que o famoso pisca o seu olho, ganha mais do que você ganhará por toda a sua vida.

Não vamos ser simplistas e acreditar que isso pode ser mudado ou fazer discursos panfletários contra os ricos e contra a má distribuição de renda.

Muitos fatores contribuem para isso e os desvios e erros estão divididos na mesma proporção que a riqueza, só que de forma invertida, ou seja: a grande maioria absoluta pobre é sempre considerada, por eles (os ricos), como os únicos responsáveis por essa concentração de renda desumana. E a maioria pobre acredita nisso e repete isso.

A verdade é que enquanto houver monarquias, castas, oligarquias, nepotismos, monopólios, grupelhos, apadrinhamentos, etc., sempre haverá distorções e alguns tendo mais do que outros.

Não basta apenas invocar a questão histórica dizendo que sempre foi assim ou até mesmo a questão genealógica de que uns, mesmo que começassem todos do zero, acabariam sempre tendo mais do que outros por seu tino monetário e, principalmente por sua abdicação de prazeres consumistas de que muitos não abrem mão.

O Brasil é um país, já constatado por números, que possui o maior abismo entre quem têm mais e quem têm menos. Esse abismo é que constrói todos os outros abismos que somos obrigados a ver e conviver.

Esse abismo é que constrói o fosso que separa a monarquia da plebe. A cadeira numerada, da geral.

O corredor do hospital úmido, do quarto com tela plana. A prisão mofada da viagem ao Caribe.

Ninguém nasce disposto a fumar crack.

Ninguém vai para a cama dizendo “vou botar no mundo alguém sem futuro.”

Quando nós lemos que tão poucos têm tanto, enquanto tantos têm tão pouco, a primeira idéia que nos vêm à cabeça é: quero entrar nesse grupo que tem tanto. Seja pela porta da frente, pela porta dos fundos, pelo telhado, dentro do latão de lixo, indicado por alguém ou até com um trabuco na mão.

Enquanto pensamos assim, não conseguimos, nem por um momento pensar em porque é assim.

E enquanto não conseguirmos parar para pensar em porque é assim, vamos celebrando a alegria dos outros e incutindo em nós mesmos que, infelizmente, nascemos para sofrer.

Só quando temos uma discussão familiar, é que essas coisas ficam escancaradas a nossa frente e a atitude mais coerente é encher a cara e jogar, um no outro uma panela vazia.

Eu sugiro fazer amor e escrever poesia. Como sempre se fez.

Sérgio Lisboa.

domingo, 18 de maio de 2008

OBSCENIDADES

No Afeganistão, um homem-bomba, vestido com uma “burca”, uma espécie de veste que só as mulheres usam naquele país, detonou uma bomba que levava consigo e matou mais de vinte pessoas.
O Presidente do Afeganistão considerou uma verdadeira “obscenidade” a atitude do terrorista.
Explico: O Presidente do Afeganistão considerou uma obscenidade não a explosão e o morticínio, mas o fato de usar uma veste feminina para conseguir o seu intento.

Num primeiro momento, essa preocupação do Presidente Afegão, somente com a falta de ética do terrorista, usando de um artifício maquiavélico que é travestir-se de mulher para cumprir uma simples missão de rotina, que era chamar a atenção dos líderes de ambos os lados, matando uns míseros vinte seres humanos, pareceria tragicamente irônica.
Mas, na realidade ela nos mostra de forma bastante elucidativa como as pessoas vêem de forma diferente as mesmas coisas que para qualquer um seria um princípio básico: o inequívoco e inestimável valor dado à vida.

Não se discute mais o ato terrorista de carregar em seu corpo uma bomba, que além de tirar a própria vida, leva consigo dezenas de pessoas inocentes, para conseguir, no máximo, chamar a atenção e insuflar ainda mais o outro lado, para repetir a mesma atitude com outras dezenas de pessoas.
Discute-se a tradição, a religião, o direito adquirido, a “milenaridade” de uma postura, a manutenção de dinastias e a preservação do “status quo”, sempre permeado pela riqueza material e pela posse de terras e de homens.

Assim como lá, nós sofremos o mesmo aqui. Quando ficamos à mercê de decisões de homens-bomba, que decidem nosso futuro quando menos esperamos, com suas decisões políticas e sociais de forma bombástica, que irão definir o nosso futuro e dos nossos filhos.

Assim como lá, aqui, discute-se a tradição, a religião, o direito adquirido, posturas atrofiadas, manutenção de dinastias e preservação do que está instituído há séculos e não a forma arrasadora com que será implementada a sua estratégia.

A diferença daqui para lá é que, pelo menos lá, eles não admitem obscenidades em seus atos para conseguirem seus intentos.
Sérgio Lisboa.

domingo, 11 de maio de 2008

DESLUMBRAMENTO

Participei de uma palestra em que um dos maiores especialistas em engenharia de tráfego e acidentalidade, sendo constantemente chamado para dar seu parecer sobre as possíveis causas de acidentes, ao contar um episódio sobre um acidente em que um ônibus saíra fora da estrada, veio com uma conclusão no mínimo curiosa: o acidente aconteceu por deslumbramento do motorista.

Isso mesmo! Deslumbramento!

Ele contou que uma de suas técnicas é estar no local no mesmo horário e condições climáticas do dia do acidente.

Aquele acidente havia acontecido às sete e meia, quando o sol estava aparecendo bem de frente para o motorista, no horizonte, e era um lugar onde o sol ficava ainda mais bonito, como um quadro pintado a nossa frente.

O próprio especialista confessa que esqueceu por alguns instantes o seu ofício e ficou a contemplar aquela maravilha da natureza.

Concluído o seu relatório, lá estava grafado no papel como causa provável : “Deslumbramento do motorista com o cenário do local”.

Não sei dizer se o motorista foi condenado por essa falha inadmissível para um ser humano, que é se deslumbrar com a natureza, mas de qualquer forma foi encontrada uma causa para o acidente.

Eu acho que poderia usar esse episódio para outras situações em que falhamos tais como:

Se chegar atrasado ao serviço posso alegar extasiamento com o sonho maravilhoso que estava tendo.

Se falo mal do governo, posso alegar aturdimento pelas decisões deles.

Se chego tarde em casa, e a minha mulher briga comigo, posso alegar assombramento constante.

Se brigar com a minha sogra, posso alegar falha no encantamento (da serpente).

Se brigo com o meu chefe posso alegar ofuscamento do meu brilho.

Se sou flagrado olhando para os seios de uma mulher, posso alegar deleite.

Quanto aos governantes, para qualquer caso em que são surpreendidos em alguma situação embaraçosa, têm uma gama muito grande de alegações tais como: marasmo, debilidade, fraqueza, apatia, paralisia, fascínio (por enriquecimento), estagnação e, a mais utilizada delas, o desconhecimento.

Sérgio Lisboa.

ESPERAR QUEM NÃO VEIO



Uma das coisas mais patéticas, tristes, melancólicas, solidariamente constrangedoras, é a espera de alguém que não veio.



Todas aquelas expectativas, todo aquele aparato, todo aquele preparo, toda aquela dedicação, nunca antes feita, nem para nós mesmos, ficam ali a nos olhar como que mostrando o quanto somos extremamente dedicados e detalhistas para construir nossas próprias decepções.



Quando ficamos esperando somente um telefonema ou um encontro em algum lugar da cidade, ainda é um trauma um pouco menor do que quando preparamos um jantar especial, cheio de detalhes, chegando às minúcias de colocar até perfume na maçaneta da porta.



Aí, o prejuízo sentimental é bem maior.


Ficamos com a sensação de que não somos importantes, de que estamos sempre disponíveis e, por isso mesmo, somos descartáveis.



Aquela mesa de jantar maravilhosa vai desbotando à nossa frente, as flores murchando aceleradamente, parecendo uma mesa de jantar de um navio naufragado, no fundo do oceano, misturada com lama, ferrugem e tristezas.



A gente só lembra de um momento desses quando nós somos as vítimas desse abandono, dessa descortesia, dessa desconsideração.



Muitas vezes, talvez, tenhamos feito para alguém, essa mesma coisa que tanto detestamos, tido essa mesma postura, marcando alguma pessoa, um dia, com o ferro quente do descaso e do esquecimento.



Seja sem intenção, apenas porque surgiu um imprevisto, seja por deliberada vontade de fazer alguém não se sentir bem.


O sentimento de quem fica a esperar é muito duro.


Muitos tiram isso de letra e se sentam à mesa e jantam sozinhos, mais felizes ainda, por não ter que repartir a sobremesa.


Eu considero a melhor forma de encarar uma situação dessas para não se deixar afetar muito por comportamentos das outras pessoas e manter sempre, a auto-estima elevada.



Se alguém, um dia te der um “bolo”, enfie uma vela nele (no bolo) e comemore mais uma oportunidade de ficar consigo mesmo e, quando for cortar a primeira fatia, não se esqueça de fazer um pedido: que cada “bolo” que levar nessa vida sirva para comemorar a mais perfeita sintonia de amor e dedicação que conhecemos, que é a que temos por nós mesmos.


Sérgio Lisboa.





quarta-feira, 7 de maio de 2008

A FOTO DO BRAD PITT NO BOLSO



Quando eu era menino, eu ouvia dizer:


“Homem que é homem, não vai ao cabeleireiro e sim, no barbeiro!”



Aquilo sempre me martelou a cabeça e, apesar disso, eu sempre achei que o cabeleireiro era o barbeiro de última geração.


Por isso, eu sempre ia a um cabeleireiro e sempre dizia o jeito que eu queria que fosse o corte do meu cabelo, e todos eles, sem exceção, me diziam: “Deixa comigo!”


O que isso significava? Ficava pior do que estava.



Um dia, depois de muito penar por vários cabeleireiros procurando um corte de cabelo que eu mais gostasse, ou o que é melhor, o que mais as outras gostassem, acabei tendo que tomar uma atitude mais drástica.



Resolvi levar no bolso um modelo de corte de cabelo que eu julgava ser o mais adequado para mim.



Esse modelo era retirado de uma revista de moda, aquelas mesmo em que os modelos fotográficos, eram uma mistura de príncipes nórdicos com corpos apolíneos.



Sempre que eu mostrava para o cabeleireiro que eu queria ficar igual aqueles caras da foto, eles sempre vinham com aquela mesma infame piadinha: “Só se nós fizermos uma plástica!”



Apesar de eu conseguir passar por esse teste inicial de paciência sacerdotal, estando disposto a enfrentar o mico que é tirar do bolso uma foto do Brad Pitt e dizer que eu quero um cabelo igual e, geralmente quando acontecia isso, o salão estar cheio de fofoqueiras (apesar de ser comum) e, justamente naquele dia, todos os adeptos da academia de jiu-jitsu, que fica ao lado do salão, resolverem cortar os cabelos juntos (coisa de bichonas), e te olharem como você fosse um anabolizante vencido, o resultado final (adivinhem!) foi um desastre.



Os cabeleireiros nem olham para o que você pede e muito menos para alguma foto que você leva ou que tem no catálogo. Eles apenas dizem “ok” e mandam ver na única técnica que eles aprenderam que é a de terminar o mais rápido possível, sem tirar a atenção da novela das duas que está passando na televisão.



Sem falar no assunto que faz eles largarem a tesoura a cada trinta segundos, que é comentar a separação da Lurdinha com o Marcos para ficar com a Neiva.


- Não me conta! Logo a Neiva que nunca depila o sovaco!



Tudo isso acontecendo e você ali. Vendo seu cabelo ser tosquiado, sem critérios, sem um acompanhamento psicológico. Isso mesmo!


Você tinha uma identidade antes de se sentar naquela cadeira de torturas, antes de entrar naquela casa dos horrores.


Dependendo do “profissional”, você sai da cadeira uma outra pessoa. Dá pena de ver seus amigos lhe evitando, olhando para você como se você tivesse trocado de sexo, como se tivesse votado no Lula.



Mas o pior é quando você sai de lá desiludido, com o cabelo parecendo uma mistura de trilha de rato com porco-espinho e, por causa disso, acaba tendo um mal súbito e desmaiando na calçada.



Quando as pessoas param ao redor de você para tentar socorrê-lo e procuram em seus bolsos alguma identificação ou um número de telefone e se deparam com uma foto do Brad Pitt no seu bolso.


Nesse caso, o melhor mesmo é dar um suspiro e dizer: “Um homem desses não é para fazer a gente desmaiar, santa?!”


Sérgio Lisboa.








domingo, 4 de maio de 2008

EU QUERIA PERDER O MEDO

Eu queria perder o medo de tentar.
Eu queria perder o medo de inventar o futuro.
Eu queria perder o medo de ser o que realmente sou.
Eu queria perder o medo de tentar atingir uma condição sublime.
De me desapegar.
De deixar o outro voar.
De viver com base naquilo que realmente me importa.
De acreditar que posso ter o controle de minha própria vida.
De ser paciente.
Eu queria perder o medo.
De resolver tudo aquilo que está mal resolvido em meu coração.
De ter coragem.
De ir em frente.
Eu queria perder o medo.
De ser despido de orgulho.
De não esperar o fim para descobrir as coisas que eu gostaria de ter feito.
De ter um objetivo.
De viver sem sentido.
De pensar que ainda posso mudar o meu futuro.
De me reunir mais com minha família.
De adversidades.
De oportunidades.
Eu queria perder o medo.
De procurar a felicidade dentro de mim e não dentro do outro.
De felicidade.
De liberdade.
De descobrir as causas de meus sentimentos e emoções.
De assumir o meu papel que é único no mundo.
De fazer perguntas e procurar respostas.
De ser bem sucedido ou não.
De evitar o conflito com quem amamos.
De evitar odiar com quem nos conflitamos.
De mudanças.
De dizer adeus.
De coisas importantes.
De dizer que amo.
De desapontar.
De perder.
De me iludir.
Eu queria perder o medo.
De me desculpar.
De não me culpar.
Eu queria perder o medo de acreditar que não preciso nunca mais sentir medo.
Eu queria perder o medo de encontrar a paz.
Eu queria perder todos os medos que vivem em meus pesadelos e encontrar todas as alegrias que vivem em meus sonhos.
(Extraído do tanto que se lê na Web)
Sérgio Lisboa.