quarta-feira, 7 de maio de 2008

A FOTO DO BRAD PITT NO BOLSO



Quando eu era menino, eu ouvia dizer:


“Homem que é homem, não vai ao cabeleireiro e sim, no barbeiro!”



Aquilo sempre me martelou a cabeça e, apesar disso, eu sempre achei que o cabeleireiro era o barbeiro de última geração.


Por isso, eu sempre ia a um cabeleireiro e sempre dizia o jeito que eu queria que fosse o corte do meu cabelo, e todos eles, sem exceção, me diziam: “Deixa comigo!”


O que isso significava? Ficava pior do que estava.



Um dia, depois de muito penar por vários cabeleireiros procurando um corte de cabelo que eu mais gostasse, ou o que é melhor, o que mais as outras gostassem, acabei tendo que tomar uma atitude mais drástica.



Resolvi levar no bolso um modelo de corte de cabelo que eu julgava ser o mais adequado para mim.



Esse modelo era retirado de uma revista de moda, aquelas mesmo em que os modelos fotográficos, eram uma mistura de príncipes nórdicos com corpos apolíneos.



Sempre que eu mostrava para o cabeleireiro que eu queria ficar igual aqueles caras da foto, eles sempre vinham com aquela mesma infame piadinha: “Só se nós fizermos uma plástica!”



Apesar de eu conseguir passar por esse teste inicial de paciência sacerdotal, estando disposto a enfrentar o mico que é tirar do bolso uma foto do Brad Pitt e dizer que eu quero um cabelo igual e, geralmente quando acontecia isso, o salão estar cheio de fofoqueiras (apesar de ser comum) e, justamente naquele dia, todos os adeptos da academia de jiu-jitsu, que fica ao lado do salão, resolverem cortar os cabelos juntos (coisa de bichonas), e te olharem como você fosse um anabolizante vencido, o resultado final (adivinhem!) foi um desastre.



Os cabeleireiros nem olham para o que você pede e muito menos para alguma foto que você leva ou que tem no catálogo. Eles apenas dizem “ok” e mandam ver na única técnica que eles aprenderam que é a de terminar o mais rápido possível, sem tirar a atenção da novela das duas que está passando na televisão.



Sem falar no assunto que faz eles largarem a tesoura a cada trinta segundos, que é comentar a separação da Lurdinha com o Marcos para ficar com a Neiva.


- Não me conta! Logo a Neiva que nunca depila o sovaco!



Tudo isso acontecendo e você ali. Vendo seu cabelo ser tosquiado, sem critérios, sem um acompanhamento psicológico. Isso mesmo!


Você tinha uma identidade antes de se sentar naquela cadeira de torturas, antes de entrar naquela casa dos horrores.


Dependendo do “profissional”, você sai da cadeira uma outra pessoa. Dá pena de ver seus amigos lhe evitando, olhando para você como se você tivesse trocado de sexo, como se tivesse votado no Lula.



Mas o pior é quando você sai de lá desiludido, com o cabelo parecendo uma mistura de trilha de rato com porco-espinho e, por causa disso, acaba tendo um mal súbito e desmaiando na calçada.



Quando as pessoas param ao redor de você para tentar socorrê-lo e procuram em seus bolsos alguma identificação ou um número de telefone e se deparam com uma foto do Brad Pitt no seu bolso.


Nesse caso, o melhor mesmo é dar um suspiro e dizer: “Um homem desses não é para fazer a gente desmaiar, santa?!”


Sérgio Lisboa.








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