Participei de uma palestra em que um dos maiores especialistas em engenharia de tráfego e acidentalidade, sendo constantemente chamado para dar seu parecer sobre as possíveis causas de acidentes, ao contar um episódio sobre um acidente em que um ônibus saíra fora da estrada, veio com uma conclusão no mínimo curiosa: o acidente aconteceu por deslumbramento do motorista.
Isso mesmo! Deslumbramento!
Ele contou que uma de suas técnicas é estar no local no mesmo horário e condições climáticas do dia do acidente.
Aquele acidente havia acontecido às sete e meia, quando o sol estava aparecendo bem de frente para o motorista, no horizonte, e era um lugar onde o sol ficava ainda mais bonito, como um quadro pintado a nossa frente.
O próprio especialista confessa que esqueceu por alguns instantes o seu ofício e ficou a contemplar aquela maravilha da natureza.
Concluído o seu relatório, lá estava grafado no papel como causa provável : “Deslumbramento do motorista com o cenário do local”.
Não sei dizer se o motorista foi condenado por essa falha inadmissível para um ser humano, que é se deslumbrar com a natureza, mas de qualquer forma foi encontrada uma causa para o acidente.
Eu acho que poderia usar esse episódio para outras situações em que falhamos tais como:
Se chegar atrasado ao serviço posso alegar extasiamento com o sonho maravilhoso que estava tendo.
Se falo mal do governo, posso alegar aturdimento pelas decisões deles.
Se chego tarde em casa, e a minha mulher briga comigo, posso alegar assombramento constante.
Se brigar com a minha sogra, posso alegar falha no encantamento (da serpente).
Se brigo com o meu chefe posso alegar ofuscamento do meu brilho.
Se sou flagrado olhando para os seios de uma mulher, posso alegar deleite.
Quanto aos governantes, para qualquer caso em que são surpreendidos em alguma situação embaraçosa, têm uma gama muito grande de alegações tais como: marasmo, debilidade, fraqueza, apatia, paralisia, fascínio (por enriquecimento), estagnação e, a mais utilizada delas, o desconhecimento.
Sérgio Lisboa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário