sexta-feira, 20 de junho de 2008

TE LIGA!



De todas as invenções do mundo, desde os primórdios, antes mesmo da invenção da roda, ou seja, desde a invenção do eixo da roda, a minha mulher é eternamente agradecida a uma só invenção e a um só inventor: Grahan Bell.


Ele mesmo! O homem que inventou a máquina de gastar sem sair de casa. O homem que inventou a máquina de brigar com a família a quilômetros de distância. O homem que inventou a invasão diária das tele-marketing. O homem que inventou o seqüestro-relâmpago praticado por um homem preso e acorrentado num presídio de segurança máxima. O homem que inventou um localizador de marido no happy-hour. O homem que inventou algo para facilitar a comunicação entre as pessoas que estão longe e complicar a comunicação para os que estão perto. O homem que inventou o telefone.



O telefone. O velho conhecido telefone.



Eu sei que hoje tem o MSN, o Orkut, o e-mail e tudo o mais que também aproximam os de fora e afastam os de dentro. Mas o velho telefone continua ainda como o grande vilão dos distanciamentos dentro das nossas casas. Seja fixo ou móvel.


Sim porque o problema não está na tecnologia do aparelho ou na forma como ele permite a movimentação, pois se tratando de telefonemas dentro de casa pode ser até o fixo sem fio.



Lá em casa é tão certo quanto notícia ruim do governo: quando saio e todos estão na porta sorrindo e abanando para mim, como um comercial de margarina da família feliz, e eu, quinze segundos depois de ter saído resolvo ligar para casa, adivinhem? O telefone está ocupado!



Essa semana o recorde foi superado e ficou em nove segundos. Eu tenho certeza que eles podem dar mais de si, no que diz respeito à velocidade do uso desse aparelho tão importante, mas que foi transformado em uma máquina de trocar banalidades.



Um amigo meu contou que esses dias pediu para a filha dele que falasse com quem quisesse, o tempo que quisesse, mas pelo amor de Deus, não usasse o telefone para trocar receita de bolo.


Foi quando ela interrompeu a sua ligação, se virou para ele, tapou com a mão a parte de baixo do telefone, virou os dois olhos para o teto e demonstrando uma impaciência digna de uma “funkeira”, fuzilou-o com uma AR-15:


- Pai, não estou trocando receita de bolo. Não sou mais criança. O assunto aqui é sério. Estou ajudando a Lurdinha, que está desorientada, a como fazer um aborto!


Sérgio Lisboa.




quinta-feira, 19 de junho de 2008

EU, ROUBÔ

“The Trons” é uma banda de rock da Nova Zelândia, formada por robôs. Eles têm até um vídeo-clipe, cujo nome da música é "Sister Robot". Possuem também, até página na internet, que define o seu estilo como de influências do Velvet Underground e Yo La Tengo.

Os músicos-robôs são um tanto arredios com os fãs, mas seus empresários garantem que não é estrelismo e sim, que eles, por natureza, evitam relacionamentos mais sentimentais.

O que não difere muito dos roqueiros de carne e osso. O único problema é que a música, embora um tanto sem vida e muito repetitiva, ainda assim é muito melhor que muito banda por aí. No clipe, o tecladista com o rosto de um alto-falante, está vestido com uma camisa branca e uma gravata. E só. O guitarrista é um porta-casacos e seu rosto também é um alto-falante.

Eles não são robôs inteiros, com braços e pernas, como um boneco gigante, possuindo apenas um alto falante e alguns dedos metálicos, tanto para o teclado, quanto para a guitarra e a bateria toca sozinha. Mas mesmo assim a fábrica de mitos que o imaginário associado ao capitalismo industrial conseguem produzir, já elegeu o vocalista da banda, como os olhos mais lindos do cenário pop e o bumbum do tecladista o maior objeto de cobiça da última revista People.

Já foram flagrados em festas que são verdadeiros bacanais onde rola de tudo, desde jovens modelos de ipod e Mp7, até prostitutas mais experientes, tipo Windons 98, incluindo sessões de consumo de drogas mais pesadas como pó de silício e injeções de laser em seus circuitos.

Já há rumores, de um de seus integrantes, até de ter um caso com a própria placa-mãe, o que foi veemente desmentido pelos empresários.

Outro escândalo que não está sendo fácil desmentir é o do baixista que após anos de casamento com uma geladeira, não agüentando mais a sua frieza, resolveu ficar com alguém “mais quente” e tem sido visto freqüentemente aos beijos com um aquecedor. Por enquanto são apenas boatos.

Esse grupo estava pensando numa turnê para fazer shows aqui no Brasil, mas por enquanto, não tem nada confirmado, até mesmo porque as “raves” com seus sons “tecno” e as festas “funks” já são embaladas por robôs há muito tempo. Dizem as más línguas que até seus freqüentadores, com o tempo, estão todos se “robotizando”.

Talvez o melhor para eles conseguirem sucesso mais rápido por aqui, seja aproveitando o ano eleitoral e ser contratado para showmícios, até porque é a forma mais coerente do candidato tentar demonstrar uma emoção um pouco maior do que o artista.

Mas isso não é garantido.

Sérgio Lisboa.

sábado, 14 de junho de 2008

HOMOMILITARISMO

A tentativa do Exército Brasileiro de punir ou melhor, de fazer sumir os protagonistas de um romance gay de seus quadros, tem chegado a beira do ridículo.

A aversão, o preconceito, o embaraço, causam mais desdobramentos “trapalheônicos” do que qualquer tentativa mais equilibrada de enfrentar a situação.

A história nos mostra que em todos os lugares onde existe a clausura, o rigor, a disciplina irracional, a negação do individualismo, ali sempre residirá a contrariedade àquela imposição estabelecida.

O homossexualismo é um tabu tão grande em nosso país e seu preconceito está tão enraizado em nossa cultura que precisaremos de mais um milênio para que haja, de fato, algum avanço.

A própria mídia, como sempre, um prato cheio para os humoristas mais atentos, estampa em suas manchetes: “Sargento Gay foi torturado”, “Militar homossexual está preso”, etc.

Eles nunca dizem “Político ladrão consegue se reeleger” ou “Jornalista corrupto faz mais uma matéria tendenciosa”.

As acusações do exército em relação aos envolvidos no caso são risíveis. Os militares os acusam de alteração no uniforme, ocultar informações sobre o companheiro e ausência ao serviço. Se ocultar informações sobre o companheiro fosse crime, o presidente Lula devia pegar cem anos de prisão. Quanto à ausência ao serviço é só deixar um camburão na sexta-feira em Brasília.

Que o exército tem uma disciplina própria e uma legislação diferenciada, isso todo mundo sabe.

Só que essa instituição que, sem dúvida nenhuma é o baluarte, o estandarte, o bacamarte de nosso país, tem como responsabilidade a garantia dos poderes constitucionais, entre outros.

E a constituição não admite torturas, perseguições, preconceitos e cerceamento de defesa.

Ás vezes é preciso que uma minoria, para ter sua voz ouvida, não grite no maior microfone disponível, mas que toque uma melodia no mais afinado, caro e intocado instrumento exposto em um museu.

É mais difícil de ser arrancado de suas mãos, sob pena de danificá-lo e enquanto isso não acontece, sua música continua a ser ouvida por todos.

O único risco é que eles, inteligentes que são, vão acabar prendendo-o por tocar música em público, sem estar em dia com a mensalidade da Ordem dos Músicos.

Sérgio Lisboa.

ALIMENTOS SEXUAIS



A cebola e o alho ingeridos regularmente podem ser muito benéficos para o coração, uma vez que quem ingere esses alimentos acaba ficando com um bafo desgraçado, impedindo a aproximação de quem quer que seja, muito menos de um par romântico disposto a beijá-lo, o que lhe garante uma imunidade amorosa e, por conseqüência, não sofrendo das coisas do coração.



Ovos e tomates podem ser usados como atenuantes do stress, já que eles servem perfeitamente para ataques a políticos em comícios, exteriorizando a sua indignação com as atitudes desses cidadãos e liberando a bílis.



Laranjas podem ser usados como elemento motivador de auto-estima, pois dão uma sensação de que o indivíduo possui em seu nome, grandes valores em sua conta corrente. O problema é que essa sensação positiva, gerada por laranjas, dura muito pouco tempo e pode formar uma nova doença chamada SDS (Síndrome do Deslocamento Sucessivo).



Mandiocas em estado cru podem ser usadas como substituto sexual, atenuando algum eventual jejum e trazendo um certo alívio por um determinado período. A recomendação desse tubérculo é para o sexo feminino, mas o uso do mesmo fica a critério de quem melhor se adapta a dieta.



A casca da banana tem sido a grande responsável por uma melhoria de vida, segundo os ortopedistas. Ela, pelos tombos que gera nas pessoas e conseqüentemente suas inúmeras fraturas, tem aumentado às consultas a esses profissionais, gerando maior renda para eles e uma óbvia melhoria de vida para esses médicos.



Pepinos e abacaxis, além de mudarem a rotina diária, são recomendados para aumentar a atividade física, pois já está provado cientificamente que sempre que aparece algum deles, as pessoas saem correndo sem olhar para trás.



A maçã, muito lembrada como símbolo do amor, realmente tem esse poder de manter uma harmonia sexual entre os casais, principalmente os que estão juntos há muito tempo, pois segundo alguns casais entrevistados, ela garante uma distração para a esposa, enquanto esta estiver embaixo do marido.


Sérgio Lisboa.










sexta-feira, 13 de junho de 2008

FRASES DE FILMES

Uma das coisas que mais me chama a atenção em um filme e não sai mais da minha cabeça, nem sempre são os cenários maravilhosos, a música envolvente, a fotografia deslumbrante, a atuação estonteante de um grande ator, nem mesmo um diálogo fantástico de um roteirista de primeira linha.

O que mais me chama a atenção em um filme e, geralmente em filmes banais, filmes de adolescentes, filmes de ação, aqueles filmes que não tem nenhum outro compromisso senão o de divertir, é aquela única frase, dita no único momento do filme em que os personagens não estão correndo, nem dependurados num abismo, nem salvando o mundo, enquanto palitam os dentes.

No filme de puro entretenimento e fantasia, “Superman”, o antigo, com o falecido Christopher Reeve, a Margot Kidder, personagem da Lois Lane, ao esperar a chegada do herói, que não veio naquela noite, revela: “como é triste ver o dia amanhecer, quando se passou a noite toda chorando”.

Não é uma frase assim tão profunda, mas nunca mais saiu da minha cabeça. Às vezes penso em rever esse filme só para reencontrar essa frase.

No filme “Indiana Jones e a Caveira de Cristal”, tem uma hora em que um personagem, referindo-se a um amigo comum que tinha morrido, diz para o Harrison Ford, o seguinte: “Chega uma hora em que a vida pára de nos dar para começar a nos tirar.”

Nunca tinha pensado a vida sob esse ângulo.

No meio de filmes tão banais, tão recreativos, tão leves, produzidos para dar risadas e trazer apenas alguns momentos de descontração, sempre acaba me marcando como uma mensagem mais forte, mais profunda, uma frase perdida (por acaso?) no meio de uma perseguição ou tiroteio de um filme de ação.

Muitas vezes essas frases podem até ter sido tiradas de um almanaque de farmácia ou de um livro motivacional que encalhou na livraria. Penso que, como esses filmes não tem nenhum compromisso com um roteiro mais elaborado, tanto é verdade que os roteiristas desses filmes nem vão à cerimônia do Oscar, a explicação deve ser outra.

Como nesses filmes o roteiro é a parte mais insignificante de todo o projeto, seus roteiristas escolhem a dedo uma única frase capaz de marcar um espectador mais sensível, que coincidentemente também gosta desse tipo de filme. É a forma deles mandar um recado para o mundo, dizendo que foram obrigados a escrever todo aquele roteiro ridículo, mas que, com aquela única frase, mostram a todos que seu potencial é muito maior.

Também é verdade que em um filme tão fútil e descartável, qualquer frase um pouco mais elaborada, soa como um achado poético.

De qualquer forma, sempre que sento para assistir a um filme de puro entretenimento, fico aguardando ansioso o momento daquele único diálogo, com aquela única frase, que vai me acompanhar pelo resto da minha vida.

Sérgio Lisboa.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

AVERSÃO A NOVELAS



Pintei um quadro que eu mesmo intitulei: “Aversão A Novelas”.


Resolvi pintar essa tela quando cheguei em casa, num final daqueles dias em que tudo o que precisamos é desabafar e conversar com alguém em quem confiamos para eles simplesmente te olharem e dizerem:


-Fique quieto que é o último capítulo da novela!



Pintar esse quadro foi a forma mais original e mais indignada que consegui para exteriorizar o meu repúdio, a minha indignação a essa verdadeira lavagem cerebral, a essa invasão de mentes, a essa massificação de pensamentos, a essa invasão de um Movimento Sem Terra, que tenta fazer uma redistribuição de áreas produtivas de seu cérebro.



Após terminar minha obra-prima, que levou o mesmo tempo do último capítulo da novela, que, diga-se de passagem, foi mais comprido que todos os demais trezentos e noventa e sete capítulos do ano, pude, finalmente, apresentar a minha mãe, para sua apreciação crítica, ao mesmo tempo em que esperava ao mostrar-lhe meu talento, dar uma lição do que é possível se fazer ao invés de perder seu tempo assistindo a coisas banais e sem sentido, como novelas.



Ela, então parou, e enquanto enxugava as lágrimas que derramou com a separação do casal de protagonistas e, principalmente de seu protagonista preferido, o ator Francisco Beltrão.


Apenas sorriu ao olhar para a tela, causando em mim, confesso, uma alegria e uma satisfação que nunca havia experimentado: a alegria de minha mãe por algo que eu havia produzido com minhas próprias mãos, sem interferências da televisão, de seus atores e diretores e, além de tudo, sendo uma obra de protesto pela massificação que quase havia engolido minha própria mãe.


Ela apenas disse uma frase, que para mim soou como a apreciação do próprio Leonardo Da Vinci reencarnado, me elevando ao seleto grupo dos imortais artistas plásticos de todos os tempos:


- Este morro com suas sombras me lembra algo familiar, disse ela.


- O quê ele te lembra minha mãe?


- Traços da pintura de Monet ou do maior mestre, Van Gogh?


- Não, meu filho! Parece a fisionomia de um ator de novelas.


- Já sei é a fisionomia do ator Francisco Beltrão!


Sérgio Lisboa.



sexta-feira, 6 de junho de 2008

O DONO DA FILA

Bem cedo ele já estava na porta do órgão público.

Conseguiu, finalmente ser o primeiro.

Até que enfim ele seria atendido, depois de meses de espera.

Quantas vezes havia chegado na fila e ser surpreendido com cento e vinte pessoas na sua frente, para um número de quarenta fichas.

Ia embora desiludido e pensando como seria o desfecho daquela situação com as oitenta pessoas que não iriam conseguir uma ficha.

A sua chance seria somente se, um dia, ele conseguisse chegar bem cedo, na frente de todo mundo.

E foi o que ele fez.

Nem dormiu naquela noite e no meio da madrugada ele já estava acampado em frente à porta do prédio.

Aquela porta que era tão cobiçada. Aquela porta que era tão distante de um mero ser humano. Aquela porta que era tão intransponível, que parecia até a porta do paraíso.

Lá estava ele, o primeiro e único homem que havia chegado àquela porta, naquele dia.

Como um desbravador de continentes perdidos, de planetas, nunca dantes explorados, lá estava ele.

O primeiro e único.

O escolhido.

O dia já ia amanhecendo quando um outro concorrente foi chegando com aquele olhar para ele de surpresa. Aquele olhar de quem se pergunta: como ele conseguiu essa façanha?

Mais outro foi chegando, com aquele mesmo olhar.

E mais outro. Para todos eles ele dava uma virada rápida de pescoço, um suspiro e levantava a cabeça como faziam os gladiadores sobreviventes do Coliseu, com um olhar firme de superioridade, fixo para o céu.

Ele era um vencedor!

Até que se apresentou um adversário a altura.

Um fura-filas. È o pior adversário para quem enfrenta uma maratona em uma fila: um fura-filas.

O “modus operandi” deste profissional do caradurismo sendo demonstrado ali, ao vivo, diante dele, sem cortes ou efeitos especiais.

Chegou com a cara séria, com os passos firmes e foi direto para a porta, lá na primeira vaga da fila.

Realmente o cara era bom. Um profissional de respeito. Só que ali estava ele, o cara que não ia permitir que isso fosse feito bem nas suas barbas.

Pegou o fura-filas pelo cangote, puxou com força e mandou ele lá para o fim da fila.

O fura-filas, é lógico, tentou argumentar, mas ele, que não era bobo, não deixou ele sequer abrir a boca (sabia de seu poder de persuasão) e empurrou-o lá para trás.

O destino, sempre cínico e debochado, desenhou para ele, naquele dia, que ninguém apareceu para abrir a porta.

Seria feriado? Seria greve dos funcionários?

Foi quando, chegando quase ao fim da manhã e todos já, mais do que indignados, resolveram até, não tendo mais paciência nem voz, deixar (pasmem!) o fura-filas falar.

Ele, com aquela empáfia de um verdadeiro fura-filas profissional, apenas disse:

- Eu sou o atendente deste órgão público e o responsável pela chave e abertura do mesmo.

Eu apenas cheguei pela manhã para abrir e atender a todos vocês, mas fui jogado para o fim da fila, sem deixar que eu falasse.

Como já terminou o turno de atendimento, eu peço que os senhores voltem amanhã, bem cedo, para pegarem suas fichas.

Sérgio Lisboa.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

APRENDI COM UM MENDIGO



Certa vez, numa noite muito fria de inverno, estava parado em um ponto de ônibus, quando um mendigo que estava acomodado atrás da parada, com sacos e bugigangas em volta dele, parecendo um acampamento, se aproximou de mim e me pediu fogo para o seu cigarro. Um toco de cigarro, na realidade.


Eu tinha comigo uma caixa de fósforos e alcancei para ele. Ele, com muita elegância, apesar de tremer muito, acendeu sua bagana e devolveu-me a caixa de fósforos. Sensibilizado com aquela situação que presenciara, sem sequer pensar, disse a ele que poderia ficar com a caixa de fósforos, que eu a daria para ele.


Ele voltou para o seu canto sem me dizer nada e eu continuei ali parado, esperando o ônibus.



Qual não foi a minha surpresa quando ele surgiu a minha frente, com as duas mãos, que estavam pretas de muito sujas, assim como as unhas, carregando em forma de concha, restos de verduras, retalhos de mortadelas e muitos legumes e, estendeu as duas mãos para mim e disse:


- Toma! Leva para casa para você fazer uma sopa!


Surpreso com aquela atitude e, ao mesmo tempo sensibilizado pelo espírito de gratidão e generosidade dele, agradeci dizendo, com todo o cuidado, que não podia aceitar.


Ele deu um sorriso de quem tinha cumprido o seu dever e um certo alívio por ter ficado com um pouco mais de alimento para o dia seguinte.



Essa história sempre me vem à mente como uma grande lição que aprendi em minha vida.


Daquelas histórias mágicas que não tem nenhum outro personagem como testemunha, numa noite fria, parecendo aqueles cenários criados especialmente para encenar uma fábula.


A moral da história, para mim, é que sempre temos alguma coisa para dar e, mais do que isso, é preciso retribuir as dádivas que recebemos, por menores que sejam.


Dar e retribuir, reconhecer e agradecer, ajudar e ser ajudado são atitudes que parecem esquecidas num mundo onde todos se acham no direito de só receber, de só exigir, de só ganhar, de só levar vantagem, do “ter” superando o “ser” do “ganhar” superando o “dar”, a qualquer custo.


Aprendi uma grande lição com um mendigo? Não!


Aprendi uma grande lição com um grande ser humano.


Sérgio Lisboa.



segunda-feira, 26 de maio de 2008

BATEDORES DE CARTEIRA

Uma das atividades mais antigas do mundo é a do punguista, do batedor de carteiras.

Eles andam para todo o lado, mas principalmente costumam atuar em grandes aglomerações. Ali é que é o seu habitat natural. Onde tem muita gente reunida e desprevenida de cuidados, não de dinheiro.

Seja em festas, shows, transportes públicos ou simplesmente caminhando em centros urbanos.

O mais incrível desses meliantes que podem ser, homens ou mulheres, é que adquiriram algumas apuradas técnicas de evasão tanto dos pertences quanto de si mesmos, em caso de uma ação mal sucedida.

Num desses ataques de um punguista solitário a uma mulher, também solitária, junto a uma parada de ônibus que estava cheia de gente, naquele horário, ele decidiu enfiar a sua mão dentro da bolsa que ela carregava pendurada em seu ombro.

Quando ele colocou a mão na bolsa dela, ela pressentiu e agarrou firme a mão dele. Foi quando, de forma surpreendente, como um verdadeiro ator do mais conceituado teatro, ele puxa a mão que ela agarrava e grita, ao mesmo tempo em que já sai em disparada para o lado oposto:

- Eu já te falei que não te quero mais!!!

Todos, que até então não haviam suspeitado de nada, passaram a olhar para ela com aquele olhar de condenação, com aquele olhar de quem reprovava uma pessoa que não sabe o seu limite, de uma pessoa desequilibrada que não assimila nenhuma perda e que corre atrás de um homem, sem o menor amor-próprio.

Nessas horas a vergonha conseguiu superar o seu medo e acabou engolindo a sua voz, não lhe deixando forças para dizer algo que seria simples em qualquer situação: que era gritar ou pedir socorro. Cada segundo que ela levava para se recompor da surpresa, da atitude do ladrão, parecia horas dificultando ainda mais, a sua iniciativa de dizer que ele mentira e sim que ela estava sendo assaltada.

E, ao invés dela comemorar que não fora roubada, teve que amargar a humilhação de ser rejeitada na frente de um monte de estranhos.

O olhar de reprovação das pessoas, misturado com o de decepção, por algo que não fizera, ficou marcado em sua retina como algo mais traumático do que qualquer assalto.

Sérgio Lisboa.


quinta-feira, 22 de maio de 2008

A AMAZÔNIA É UMA BOA ZONA

Uma reportagem publicada no jornal americano "The New York Times" afirma que a sugestão feita por líderes globais de que a Amazônia não é patrimônio exclusivo de nenhum país está causando preocupação no Brasil. O jornal diz que vários líderes internacionais estão declarando mais abertamente a Amazônia como parte de um patrimônio muito maior do que apenas das nações que dividem o seu território.

Obviamente o governo brasileiro não ficou muito satisfeito com essas declarações e prometeu tomar medidas drásticas para a proteção de seu território e a manutenção de sua soberania, já encomendando milhões de quilômetros de arame farpado, para cercar a região, deixando o setor siderúrgico ouriçado. As madeiras para o cercamento, por uma questão de logística e de custo, virão de madeireiras clandestinas da própria Amazônia. Outra medida foi dar um ultimato para os exploradores de todos os pontos do planeta que dizimam a flora e a fauna da região, dando-lhes, no máximo, noventa e nove anos para saírem de lá, sob pena de multa de cento e vinte reais, paga em dez vezes.

Enquanto não põe em prática essa estratégia de proteção à região, o governo brasileiro está pensando em delegar para os americanos o direito de escolher e credenciar quais os cientistas internacionais e ambientalistas que podem entrar nessas áreas, e quais companhias podem explorá-la.

Apesar disso, o presidente discursa pelo mundo afora, críticas sobre mudanças climáticas e desmatamentos, perdendo-se na contradição de não conseguir controlar um milésimo da região amazônica, enquanto é o embaixador mundial pela utilização de recursos energéticos vindos da terra, fingindo preocupação com o futuro do planeta.

Na verdade essa preocupação do Brasil em não permitir haver interferência externa em seu território, especialmente a Amazônia, até que é interessante, mas fica parecendo mais a história do pai que, querendo que a filha case virgem, enquanto escolhe o futuro marido para ela, deixa a menina se virando num prostíbulo.

Sérgio Lisboa.

POUCOS TÊM MUITO

Dez por cento da população brasileira detêm setenta e cinco por cento da riqueza nacional.

A gente passou um bom tempo na escola aprendendo como dividir, como fracionar e também o sentido humano de repartir com igualdade todas as nossas tarefas e pertences.

Depois que crescemos nos deparamos com essa realidade.

Como é que vamos falar de ética, de igualdade, de bondade, de generosidade, fraternidade, de sanidade, com uma realidade numérica dessa magnitude nos assombrando.

Já não chega aquelas revistas especializadas em dizer quanto aquele personagem famoso ganha por segundo, se dando ao luxo de comparar com o fato de que, a cada vez que o famoso pisca o seu olho, ganha mais do que você ganhará por toda a sua vida.

Não vamos ser simplistas e acreditar que isso pode ser mudado ou fazer discursos panfletários contra os ricos e contra a má distribuição de renda.

Muitos fatores contribuem para isso e os desvios e erros estão divididos na mesma proporção que a riqueza, só que de forma invertida, ou seja: a grande maioria absoluta pobre é sempre considerada, por eles (os ricos), como os únicos responsáveis por essa concentração de renda desumana. E a maioria pobre acredita nisso e repete isso.

A verdade é que enquanto houver monarquias, castas, oligarquias, nepotismos, monopólios, grupelhos, apadrinhamentos, etc., sempre haverá distorções e alguns tendo mais do que outros.

Não basta apenas invocar a questão histórica dizendo que sempre foi assim ou até mesmo a questão genealógica de que uns, mesmo que começassem todos do zero, acabariam sempre tendo mais do que outros por seu tino monetário e, principalmente por sua abdicação de prazeres consumistas de que muitos não abrem mão.

O Brasil é um país, já constatado por números, que possui o maior abismo entre quem têm mais e quem têm menos. Esse abismo é que constrói todos os outros abismos que somos obrigados a ver e conviver.

Esse abismo é que constrói o fosso que separa a monarquia da plebe. A cadeira numerada, da geral.

O corredor do hospital úmido, do quarto com tela plana. A prisão mofada da viagem ao Caribe.

Ninguém nasce disposto a fumar crack.

Ninguém vai para a cama dizendo “vou botar no mundo alguém sem futuro.”

Quando nós lemos que tão poucos têm tanto, enquanto tantos têm tão pouco, a primeira idéia que nos vêm à cabeça é: quero entrar nesse grupo que tem tanto. Seja pela porta da frente, pela porta dos fundos, pelo telhado, dentro do latão de lixo, indicado por alguém ou até com um trabuco na mão.

Enquanto pensamos assim, não conseguimos, nem por um momento pensar em porque é assim.

E enquanto não conseguirmos parar para pensar em porque é assim, vamos celebrando a alegria dos outros e incutindo em nós mesmos que, infelizmente, nascemos para sofrer.

Só quando temos uma discussão familiar, é que essas coisas ficam escancaradas a nossa frente e a atitude mais coerente é encher a cara e jogar, um no outro uma panela vazia.

Eu sugiro fazer amor e escrever poesia. Como sempre se fez.

Sérgio Lisboa.

domingo, 18 de maio de 2008

OBSCENIDADES

No Afeganistão, um homem-bomba, vestido com uma “burca”, uma espécie de veste que só as mulheres usam naquele país, detonou uma bomba que levava consigo e matou mais de vinte pessoas.
O Presidente do Afeganistão considerou uma verdadeira “obscenidade” a atitude do terrorista.
Explico: O Presidente do Afeganistão considerou uma obscenidade não a explosão e o morticínio, mas o fato de usar uma veste feminina para conseguir o seu intento.

Num primeiro momento, essa preocupação do Presidente Afegão, somente com a falta de ética do terrorista, usando de um artifício maquiavélico que é travestir-se de mulher para cumprir uma simples missão de rotina, que era chamar a atenção dos líderes de ambos os lados, matando uns míseros vinte seres humanos, pareceria tragicamente irônica.
Mas, na realidade ela nos mostra de forma bastante elucidativa como as pessoas vêem de forma diferente as mesmas coisas que para qualquer um seria um princípio básico: o inequívoco e inestimável valor dado à vida.

Não se discute mais o ato terrorista de carregar em seu corpo uma bomba, que além de tirar a própria vida, leva consigo dezenas de pessoas inocentes, para conseguir, no máximo, chamar a atenção e insuflar ainda mais o outro lado, para repetir a mesma atitude com outras dezenas de pessoas.
Discute-se a tradição, a religião, o direito adquirido, a “milenaridade” de uma postura, a manutenção de dinastias e a preservação do “status quo”, sempre permeado pela riqueza material e pela posse de terras e de homens.

Assim como lá, nós sofremos o mesmo aqui. Quando ficamos à mercê de decisões de homens-bomba, que decidem nosso futuro quando menos esperamos, com suas decisões políticas e sociais de forma bombástica, que irão definir o nosso futuro e dos nossos filhos.

Assim como lá, aqui, discute-se a tradição, a religião, o direito adquirido, posturas atrofiadas, manutenção de dinastias e preservação do que está instituído há séculos e não a forma arrasadora com que será implementada a sua estratégia.

A diferença daqui para lá é que, pelo menos lá, eles não admitem obscenidades em seus atos para conseguirem seus intentos.
Sérgio Lisboa.

domingo, 11 de maio de 2008

DESLUMBRAMENTO

Participei de uma palestra em que um dos maiores especialistas em engenharia de tráfego e acidentalidade, sendo constantemente chamado para dar seu parecer sobre as possíveis causas de acidentes, ao contar um episódio sobre um acidente em que um ônibus saíra fora da estrada, veio com uma conclusão no mínimo curiosa: o acidente aconteceu por deslumbramento do motorista.

Isso mesmo! Deslumbramento!

Ele contou que uma de suas técnicas é estar no local no mesmo horário e condições climáticas do dia do acidente.

Aquele acidente havia acontecido às sete e meia, quando o sol estava aparecendo bem de frente para o motorista, no horizonte, e era um lugar onde o sol ficava ainda mais bonito, como um quadro pintado a nossa frente.

O próprio especialista confessa que esqueceu por alguns instantes o seu ofício e ficou a contemplar aquela maravilha da natureza.

Concluído o seu relatório, lá estava grafado no papel como causa provável : “Deslumbramento do motorista com o cenário do local”.

Não sei dizer se o motorista foi condenado por essa falha inadmissível para um ser humano, que é se deslumbrar com a natureza, mas de qualquer forma foi encontrada uma causa para o acidente.

Eu acho que poderia usar esse episódio para outras situações em que falhamos tais como:

Se chegar atrasado ao serviço posso alegar extasiamento com o sonho maravilhoso que estava tendo.

Se falo mal do governo, posso alegar aturdimento pelas decisões deles.

Se chego tarde em casa, e a minha mulher briga comigo, posso alegar assombramento constante.

Se brigar com a minha sogra, posso alegar falha no encantamento (da serpente).

Se brigo com o meu chefe posso alegar ofuscamento do meu brilho.

Se sou flagrado olhando para os seios de uma mulher, posso alegar deleite.

Quanto aos governantes, para qualquer caso em que são surpreendidos em alguma situação embaraçosa, têm uma gama muito grande de alegações tais como: marasmo, debilidade, fraqueza, apatia, paralisia, fascínio (por enriquecimento), estagnação e, a mais utilizada delas, o desconhecimento.

Sérgio Lisboa.

ESPERAR QUEM NÃO VEIO



Uma das coisas mais patéticas, tristes, melancólicas, solidariamente constrangedoras, é a espera de alguém que não veio.



Todas aquelas expectativas, todo aquele aparato, todo aquele preparo, toda aquela dedicação, nunca antes feita, nem para nós mesmos, ficam ali a nos olhar como que mostrando o quanto somos extremamente dedicados e detalhistas para construir nossas próprias decepções.



Quando ficamos esperando somente um telefonema ou um encontro em algum lugar da cidade, ainda é um trauma um pouco menor do que quando preparamos um jantar especial, cheio de detalhes, chegando às minúcias de colocar até perfume na maçaneta da porta.



Aí, o prejuízo sentimental é bem maior.


Ficamos com a sensação de que não somos importantes, de que estamos sempre disponíveis e, por isso mesmo, somos descartáveis.



Aquela mesa de jantar maravilhosa vai desbotando à nossa frente, as flores murchando aceleradamente, parecendo uma mesa de jantar de um navio naufragado, no fundo do oceano, misturada com lama, ferrugem e tristezas.



A gente só lembra de um momento desses quando nós somos as vítimas desse abandono, dessa descortesia, dessa desconsideração.



Muitas vezes, talvez, tenhamos feito para alguém, essa mesma coisa que tanto detestamos, tido essa mesma postura, marcando alguma pessoa, um dia, com o ferro quente do descaso e do esquecimento.



Seja sem intenção, apenas porque surgiu um imprevisto, seja por deliberada vontade de fazer alguém não se sentir bem.


O sentimento de quem fica a esperar é muito duro.


Muitos tiram isso de letra e se sentam à mesa e jantam sozinhos, mais felizes ainda, por não ter que repartir a sobremesa.


Eu considero a melhor forma de encarar uma situação dessas para não se deixar afetar muito por comportamentos das outras pessoas e manter sempre, a auto-estima elevada.



Se alguém, um dia te der um “bolo”, enfie uma vela nele (no bolo) e comemore mais uma oportunidade de ficar consigo mesmo e, quando for cortar a primeira fatia, não se esqueça de fazer um pedido: que cada “bolo” que levar nessa vida sirva para comemorar a mais perfeita sintonia de amor e dedicação que conhecemos, que é a que temos por nós mesmos.


Sérgio Lisboa.





quarta-feira, 7 de maio de 2008

A FOTO DO BRAD PITT NO BOLSO



Quando eu era menino, eu ouvia dizer:


“Homem que é homem, não vai ao cabeleireiro e sim, no barbeiro!”



Aquilo sempre me martelou a cabeça e, apesar disso, eu sempre achei que o cabeleireiro era o barbeiro de última geração.


Por isso, eu sempre ia a um cabeleireiro e sempre dizia o jeito que eu queria que fosse o corte do meu cabelo, e todos eles, sem exceção, me diziam: “Deixa comigo!”


O que isso significava? Ficava pior do que estava.



Um dia, depois de muito penar por vários cabeleireiros procurando um corte de cabelo que eu mais gostasse, ou o que é melhor, o que mais as outras gostassem, acabei tendo que tomar uma atitude mais drástica.



Resolvi levar no bolso um modelo de corte de cabelo que eu julgava ser o mais adequado para mim.



Esse modelo era retirado de uma revista de moda, aquelas mesmo em que os modelos fotográficos, eram uma mistura de príncipes nórdicos com corpos apolíneos.



Sempre que eu mostrava para o cabeleireiro que eu queria ficar igual aqueles caras da foto, eles sempre vinham com aquela mesma infame piadinha: “Só se nós fizermos uma plástica!”



Apesar de eu conseguir passar por esse teste inicial de paciência sacerdotal, estando disposto a enfrentar o mico que é tirar do bolso uma foto do Brad Pitt e dizer que eu quero um cabelo igual e, geralmente quando acontecia isso, o salão estar cheio de fofoqueiras (apesar de ser comum) e, justamente naquele dia, todos os adeptos da academia de jiu-jitsu, que fica ao lado do salão, resolverem cortar os cabelos juntos (coisa de bichonas), e te olharem como você fosse um anabolizante vencido, o resultado final (adivinhem!) foi um desastre.



Os cabeleireiros nem olham para o que você pede e muito menos para alguma foto que você leva ou que tem no catálogo. Eles apenas dizem “ok” e mandam ver na única técnica que eles aprenderam que é a de terminar o mais rápido possível, sem tirar a atenção da novela das duas que está passando na televisão.



Sem falar no assunto que faz eles largarem a tesoura a cada trinta segundos, que é comentar a separação da Lurdinha com o Marcos para ficar com a Neiva.


- Não me conta! Logo a Neiva que nunca depila o sovaco!



Tudo isso acontecendo e você ali. Vendo seu cabelo ser tosquiado, sem critérios, sem um acompanhamento psicológico. Isso mesmo!


Você tinha uma identidade antes de se sentar naquela cadeira de torturas, antes de entrar naquela casa dos horrores.


Dependendo do “profissional”, você sai da cadeira uma outra pessoa. Dá pena de ver seus amigos lhe evitando, olhando para você como se você tivesse trocado de sexo, como se tivesse votado no Lula.



Mas o pior é quando você sai de lá desiludido, com o cabelo parecendo uma mistura de trilha de rato com porco-espinho e, por causa disso, acaba tendo um mal súbito e desmaiando na calçada.



Quando as pessoas param ao redor de você para tentar socorrê-lo e procuram em seus bolsos alguma identificação ou um número de telefone e se deparam com uma foto do Brad Pitt no seu bolso.


Nesse caso, o melhor mesmo é dar um suspiro e dizer: “Um homem desses não é para fazer a gente desmaiar, santa?!”


Sérgio Lisboa.








domingo, 4 de maio de 2008

EU QUERIA PERDER O MEDO

Eu queria perder o medo de tentar.
Eu queria perder o medo de inventar o futuro.
Eu queria perder o medo de ser o que realmente sou.
Eu queria perder o medo de tentar atingir uma condição sublime.
De me desapegar.
De deixar o outro voar.
De viver com base naquilo que realmente me importa.
De acreditar que posso ter o controle de minha própria vida.
De ser paciente.
Eu queria perder o medo.
De resolver tudo aquilo que está mal resolvido em meu coração.
De ter coragem.
De ir em frente.
Eu queria perder o medo.
De ser despido de orgulho.
De não esperar o fim para descobrir as coisas que eu gostaria de ter feito.
De ter um objetivo.
De viver sem sentido.
De pensar que ainda posso mudar o meu futuro.
De me reunir mais com minha família.
De adversidades.
De oportunidades.
Eu queria perder o medo.
De procurar a felicidade dentro de mim e não dentro do outro.
De felicidade.
De liberdade.
De descobrir as causas de meus sentimentos e emoções.
De assumir o meu papel que é único no mundo.
De fazer perguntas e procurar respostas.
De ser bem sucedido ou não.
De evitar o conflito com quem amamos.
De evitar odiar com quem nos conflitamos.
De mudanças.
De dizer adeus.
De coisas importantes.
De dizer que amo.
De desapontar.
De perder.
De me iludir.
Eu queria perder o medo.
De me desculpar.
De não me culpar.
Eu queria perder o medo de acreditar que não preciso nunca mais sentir medo.
Eu queria perder o medo de encontrar a paz.
Eu queria perder todos os medos que vivem em meus pesadelos e encontrar todas as alegrias que vivem em meus sonhos.
(Extraído do tanto que se lê na Web)
Sérgio Lisboa.

A PUREZA DE UM BALÃO



Padres acusados de pedofilia já não é novidade e bem que esse padre voador, que sumiu no mar, ao reunir um grande número de balões de festa para tentar voar com eles, usando um ícone da fantasia infantil, serviria de forma simbólica para redimir um pouco os colegas de batina.



Eu li que ele já havia sido expulso de um curso de vôo livre, por indisciplina. Eu sempre imaginei que a disciplina era o básico, seja para uma ordem religiosa ou para uma atividade técnica e perigosa como a aviação.



Pobre das crianças. Hoje estão cercadas de traumas cada vez mais fortes. De serem jogadas pela janela, de padres que levam seus balões, de pornografia infantil.



Eu acho que toda a criança sempre quis saber onde vão parar os seus balões que o vento arrancou de suas mãos.



Um padre resolveu fazer esse teste em nome das crianças.


Foi embora, levando consigo nossas fantasias, nossos sonhos, nossas dúvidas, nossos balões.



Qual a razão prática de alguém querer ter conseguido bater o recorde de vôo com balões de festa.



O próximo recorde a ser batido talvez fosse o de salto de pára-quedas só agarrado ao chapeuzinho de aniversário?



E o recorde de travessia sobre um precipício caminhando sobre uma “língua-de-sogra”, movida a compressor de ar?



Poderia ser a travessia do atlântico em cima de uma bandeja de brigadeiros?



Quem sabe o recorde de tempo de permanência sem respirar com a cara enfiada dentro de um bolo?



Também o recorde de distância percorrida, caminhando sobre velas de aniversário acesas, daquelas que sempre reacendem?



Quando as crianças forem a algum parque de diversões ou a uma festa infantil, passarão a olhar com outros olhos para os balões de festa. Elas sempre lembrarão que eles podem levá-las para bem longe e nunca mais voltar.



E quando avistarem, a partir de agora, um padre, os vendedores de balões estarão proibidos de vender para eles, sob a acusação de incitação ao suicídio.



Fica dessa experiência do padre voador, uma indagação que se mistura com a devoção e bondade de um sacerdócio com a pureza de uma fantasia infantil que representa os balões:



Se essa menininha que foi jogada pelos pais pela janela, ao menos tivesse em suas mãos um balão de festa?


Sérgio Lisboa.








sexta-feira, 2 de maio de 2008

O QUE É FELICIDADE?

A coisa mais procurada, perseguida e definida como o grande presente que queremos da vida se chama “felicidade”.

Todos querem ser feliz. Todos procuram a felicidade.

Mas, afinal, o que é a felicidade?

A felicidade do fabricante de cigarros é um número cada vez maior de viciados dispostos a morrer em nome do lucro da empresa.

A felicidade do agente funerário é um aumento no número de óbitos, seja por causas naturais ou não.

A felicidade do político é com a desinformação do eleitor e seu conseqüente nível cultural aprisionado a um assistencialismo aviltado.

A felicidade do catador é um lixo cada vez mais robusto e variado para ele se deliciar com os restos dos outros.

A felicidade do jovem é uma lanchonete globalizada e um beijo roubado, sem saber que se não tiver sorte, nunca mais fugirá de nada globalizado nem de coisas roubadas.

A felicidade da criança é um brinquedo que a loira do programa infantil disse ser vital para suas vidas e que o avô, deixando de tomar um de seus remédios, também vital para sua vida, poderá adquirir o brinquedo para ela.

A felicidade do comum é um programa de auditório, seja o milenar “Silvio Santos” ou o “ridículamente moderno, “Pânico”, cujo título, quero crer, foi criado com um último sopro de lucidez, legando para a posteridade o verdadeiro sentimento que viria tomar conta de todos os que assistem a essa maravilha.

A felicidade do presidiário é uma comida quente, por um só dia, pelo menos, e poder dormir com os dois olhos fechados, nem que seja por uma noite.

A felicidade do faminto é um prato com um bocado de comida, sorrindo para ele e só para ele, sem larvas.

A felicidade para o infeliz é ver mais gente não conseguindo mais ser feliz e ver cada vez mais gente sofrendo e chorando.

O governo pagou uma pesquisa para saber como o povo brasileiro se sentia com relação à felicidade.

O resultado foi que 75,5% dos brasileiros se consideravam felizes.

O interessante é que somente 28,0 % dos entrevistados acham que o povo brasileiro é feliz.

Para entender melhor, a maioria se considera feliz, mas acha que os outros não são felizes.

Quando a gente se sente feliz, mas acha que os outros não são felizes, só tem uma explicação: ou os outros não têm inteligência emocional ou não conseguiram ainda uma boquinha no governo.

Sérgio Lisboa.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

ARREMESSADO PELA JANELA

Eu fico pensando o que é capaz de fazer o ser humano com sua inteligência, força de vontade, capacidade de transformação e de adaptação.

Todos os caminhos estão abertos, os que levam para uma melhoria geral, uma evolução espiritual, uma vitória da mortalidade contra a imortalidade, da eternidade contra a finitude e outros que levam para o lado oposto, para uma decadência constrangedora, para um abismo escuro e assustador.

Qualquer um que já tomou uma taça de vinho um dia, ou qualquer alucinógeno abridor de mentes, ou mesmo sem nada disso, ousou pensar diferente do que está estabelecido, pelo tempo ou pela força, contestam o que é o bom e o mau, o que é o certo e o errado, o que é pecado ou não.
Contestar é preciso, abrir a mente é imperativo.

Me perdoem os filósofos. O dualismo ingênuo era mais fácil de assimilar.

Houve um tempo em que se era ou do bem ou do mal.
Ou se era bandido ou se era mocinho.
Ou se era da luz ou das trevas.

O mundo chegou a um novo tempo.
O tempo em que tudo é possível.
Qualquer notícia, hoje, por mais inverossímil, por mais fictícia, não nos causa impressão, pois tudo no mundo moderno é possível de acontecer.

Se é noticiado que um homem vai conseguir dar a luz, bocejamos diante da televisão.
Se lemos que Jesus nunca existiu, simplesmente mudamos para um canal de desenho animado.

Minha mãe, com um conhecimento psicológico de causar inveja a qualquer especialista, sempre que eu e meus irmãos brigávamos por algum brinquedo ela pegava esse brinquedo, quebrava e jogava pela janela do edifício em que morávamos, deixando todos nós estupefatos, a olhar lá para baixo, com o choro trancado e vendo o brinquedo destruído e espatifado na calçada. A briga cessava na hora, pois a razão da mesma não mais existia.


Não basta apenas ter bigode e chegar a uma certa idade para ter filhos. É preciso uma maturidade de caráter e um grau de sensibilidade divinos para enfrentar essa tarefa, que infelizmente muitos não têm, fazendo mais por uma imposição social ou o que é pior, para a preservação da “linhagem”.

Ainda bem que eu vivi numa época em que só os meus brinquedos eram arremessados pela janela do edifício.
Sérgio Lisboa.

sábado, 26 de abril de 2008

ABORTAR A EUTANÁSIA

Os holandeses estão preocupados com a sua liberalidade, tão conhecida mundialmente, entre outros motivos, por ocorrências de assassinatos terroristas, que eram incomuns, pelo grande afluxo migratório e pelo aumento no comércio de drogas, acima da quantidade permitida.

Os prostíbulos legais, os cafés, onde a maconha e o haxixe são vendidos para qualquer um, a legalização do aborto e da eutanásia e o casamento gay, são instituições legalizadas naquele país.

O governo holandês já está pensando em algumas restrições para essas atividades e posturas.

Na Holanda maconha e haxixe são consideradas drogas leves e o álcool droga pesada e a preocupação com o fechamento destes cafés, onde é permitido adquirir uma quantidade pequena de maconha e haxixe, é que essa venda passe para as ruas.

Há um desconforto em torno da globalização que socializa, também, peças defeituosas e inúteis, tanto de produtos quanto de pessoas.

O país, até então, símbolo da liberalidade e que mantinha tudo sob controle, está agora, revendo suas posições e preocupado com a perda do controle de sua situação.

Num país onde é permitida a venda e o consumo de drogas, quando alguém de fora se intromete e passa a aumentar a oferta, criando um mercado negro para algo permitido, visando o lucro, faz a gente acreditar que a história bíblica de Adão e Eva não são balelas.

Mesmo num mundo onde a permissividade mais absurda fosse possível, ainda assim, alguém viria propor uma distorção e uma quebra da regra, uma mudança no estado das coisas, seduzindo, por exemplo, com a origem da liberdade (alegando ser o aprisionamento) e visando sempre o ganho material.

O que chama a atenção é que, enquanto aqui no Brasil, nem sequer cogitamos debater assuntos como aborto e eutanásia, lá na Holanda o pessoal está pensando em dar uma diminuída nestas mortes provocadas pelo Estado, como quem diminui um limite de velocidade no trânsito.

Aqui o aborto e a eutanásia não são permitidos legalmente, mas instituídos primando pela utilização do princípio da economicidade, na forma mais maquiavélica: nossas crianças já nascem morrendo de abandono e nossos velhos e doentes terminais morrem mais rápido do que o processo de desligamento dos tubos.

Sérgio Lisboa.