sábado, 15 de novembro de 2008

POSSO PAGAR A CONTA?

(Sérgio Lisboa)
No dia 24 de outubro, uma pessoa resolveu encerrar a sua conta bancária e fazer um acerto com um saldo devedor que tinha ficado. O Banco respondeu que ela não podia encerrar a sua conta. Primeiro tinha que pagar o que devia para somente após encerrá-la. Enquanto isso os juros iriam se avolumar.

O dia 24 de outubro já está definitivamente marcado para a humanidade como um dia cataclísmico, pois foi exatamente em vinte e quatro de outubro de 1929, há setenta e nove anos, que o mundo sofreu a maior crise econômica de sua história. Uma característica marcante que contribuiu tanto para a crise de 1929 quanto a de 2008 foi, entre tantos, a desigualdade na distribuição de renda, levando os detentores do capital à especulação financeira, além do liberalismo econômico tão apregoado pelos capitalistas como a única forma de sucesso econômico, plenitude de vida e modernidade. Não custa lembrar que o mundo capitalista só recuperou-se mesmo da crise de 1929, com a II Guerra Mundial. Espero que eles na leiam este artigo.

Aqui no Brasil, o Ministro da Fazenda Guido Mantega, por sua vez, está preocupado com a inércia dos países ricos com relação à crise e espera ansioso por uma definição de regras claras ou de uma intervenção divina dos poderosos para que, segundo ele, esta recessão não se transforme em depressão. Alguém precisa dizer para ele que recessão é o que enfrentamos diariamente enquanto depressão é o que sentimos permanentemente.
Enquanto os outros países estão enxugando suas casas após o Tsunami, o Brasil vai visitar os vizinhos para saber o que deve fazer, enquanto seus próprios móveis estão boiando pela sala de estar.

O Brasil é um dos poucos países que não forneceu nenhum socorro monetário para a classe média, diferente de outros países como os próprios EUA e a China. Estes últimos, além de socorrerem seus bancos forneceram um incremento para o consumo da população. O Brasil fez só a parte fácil da lição de casa: deu socorro apenas aos bancos.

Tanto em 1929 como agora, somos nós, através dos poderes públicos que manteremos de pé bancos quebrados, com a perda de milhares de milhões de dólares. Tudo o que pedimos é que de vez em quando os bancos nos deixem encerrar a nossa própria conta.

OBAMA BIN LADEN?



(Sérgio Lisboa)
Falar mal do Presidente americano George Bush é um passatempo mundial, quiçá interplanetário. Isso mesmo! Não é de se duvidar que essas sondas espaciais já não tenham achado pichações em rochas nas partes escuras de outros planetas com a inscrição “Fora Bush”, obviamente negadas e deletadas pelo governo americano.
Eu nunca vi e acho que ninguém nunca viu alguém em uma mesa de bar ou numa roda de amigos defendendo o Presidente Bush. Quem se atrever a fazer isto deve estar de mal com a vida ou quer chamar a atenção das pessoas com uma irreverência quase doentia usando do contraditório só pelo prazer de ser diferente.

Já Barack Obama é tudo de bom! A reencarnação de Jesus Cristo para alguns; o próprio criador disfarçado para outros.
Assim como a esmagadora maioria das pessoas, não aprovo as coisas que Bush faz nem tenho procuração para defendê-lo e não estou nem aí para ele, até porque não é nem parente da minha diarista.
A única coisa que me chamou a atenção desde o início da cobertura das eleições presidenciais americanas foi a semelhança do nome do candidato democrata Barack Hussein Obama com o inimigo número um dos Estados Unidos, Osama Bin Laden, sem falar que seu nome do meio é Hussein, mesmo nome de Saddan, que estava em primeiro lugar no ranking dos inimigos dos EUA, recentemente.
A semelhança entre as nomenclaturas é que me faz pensar, bem como a proximidade dele com as raízes dos inimigos americanos. Sem falar que Obama tem como seu vice-presidente alguém que se chama Joseph Biden.

Barack Hussein Obama é filho de um queniano e viveu grande parte de sua infância na Indonésia, maior país islâmico do planeta. Inclusive no início do ano a rede de tevê NBC ao trazer uma matéria sobre Barack Obama ostentava, ao fundo, a foto do Osama Bin Laden. Foi um corre-corre dos diabos e pedidos de desculpas no ar dos apresentadores do noticiário.
Para um país forte como os EUA, sendo a maior vitrine política e econômica mundial, que sempre levou a sério superstições, ter esses pesadelos como coincidências deve ser motivo de preocupação. Para os eleitores de Barack Obama que foram em sua maioria imigrantes, desfavorecidos e excluídos, até o próprio Osama Bin Laden talvez tivesse sido eleito, ainda mais se a disputa fosse com um candidato apoiado por Bush. Aliás, Bin Laden só não concorreu à presidência americana porque seu passaporte não ficou pronto a tempo e o antigo ele tinha deixado dentro de um carro-bomba, recentemente.

Pensando bem o nome do cara não tem nada a ver com a sua ideologia ou com a sua postura como homem público e cidadão e o seu nome pode ser até Mickey Mouse ou Mexilhão da Silva, desde que ele não seja manipulado como um boneco da Disney ou tenha um cérebro igual à de um molusco. O que vale mesmo é a sua boa atuação como governante.

Aqui no Brasil, o país da alegria e da irreverência, o nome do presidente não importa muito. O que importa para nós é sua postura... no palco. Eu sugiro até um nome para o próximo presidente do Brasil: Frank Sinatra da Silva.

domingo, 9 de novembro de 2008

COMO BOIS NO CAMPO



(Sérgio Lisboa)
A grande maioria tem a idéia de que o Governo tem que fazer tudo por nós, pensar por nós, agir por nós. O duro é aceitar que tudo isso que eles fazem é o melhor que podem e como se fossemos nós quem estivesse fazendo. Talvez seja essa a melhor explicação para as atitudes daqueles que defendem o Governo, de qualquer partido e em qualquer época, com unhas e dentes: não são capazes de ter suas próprias idéias e se vangloriam com a menor decisão do Governo como se fosse a sua própria melhor decisão.
A única iniciativa que nos permitimos é dar o aval para legitimar quem dos deles escolher para agir e pensar por nós. Sim, pois as opções de escolha de lideranças políticas principalmente as de maior relevância, com posições mais estratégicas, já vem com o cardápio pronto, bastando-nos apenas indicar quais dos pratos nos impõem e somente estes nós podemos escolher.

Qual liberdade que nos resta se as coisas são assim? Como bois no campo, ficamos ali, à mercê de quem nos aprisiona e nos deixa comer grama, como se a mais bondosa entidade estivesse nos cuidando e protegendo e que o nosso fim fosse o de apenas pastar protegidos de predadores, tendo ainda, de brinde, uma bela convivência em grupo com outros iguais, numa interação social quase pacífica, todos tão “realizados” quanto nós. Como bois nos impõem uma dieta saudável (comer grama), temos uma vida em sociedade (vivemos em manadas), moramos em um condomínio fechado (nosso campo tem cerca e porteira) e nunca nos revelam que o nosso futuro é o abate.

As nossas mazelas estão diretamente relacionadas a este hábito hereditário de depender para tudo do Governo, transferindo-lhe poderes civis, políticos, de decidirem os nossos destinos e usurparem as nossas individualidades e ainda atribuindo-lhes poderes divinos. Entregamos as nossas vidas para o Governo e acreditamos piamente que ele está sempre tentando fazer o melhor para nós, além de nos dar pasto durante toda a vida, um lugar para vivermos, proteção à nossa integridade, tratamento de saúde quando estivemos doentes, etc., e a única coisa que ele nos pede é que no final entremos na fila para retribuirmos com o nosso pescoço tanta bondade.
As pequenas cobranças que ele faz ao longo de nossa vida através de impostos sobre a alfafa, ração, vacinas, aluguel do campo, cercas e arames, ferro de marcar (produtos siderúrgicos estão caríssimos), são apenas ajustes necessários para a manutenção da máquina de abate.

Eu estou com o Governo e não dou nem um pio, digo, um mugido e Deus nos livre do roubo de gado.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

JURAMENTO DE HIPÓCRITAS

Se você falar ou comentar sobre uma preferência sexual diferente da maioria, ser muito favorável ao armamento da população, defender o direito de se drogar licitamente, demonstrar uma posição um pouco mais machista, será execrado no ato. No entanto as letras de Funk fazem uma apologia às drogas, ao armamento, ao sexo desmedido, à homofobia, à falta de respeito à mulher e tem espaço privilegiado na grande mídia, recebendo, seus representantes, tratamento de verdadeiros reis.

Se você defender ou até mesmo resolver pôr em prática, a invasão de bancos que estão visivelmente lesando a população, com lucros vergonhosos, remunerando seu investimento com um décimo do que você paga pelo investimento do banco, será preso no ato e talvez nunca mais saia da prisão.

No entanto o Movimento dos Sem-Terra, invade o que lhes dá na telha, destroem tudo, num capricho tenebroso de verdadeiros ditadores insanos, em nome de uma luta justa e corajosa para recompôr a igualdade perdida.

Se você atacar, literalmente, um cidadão que está envolvido em um desvio de verbas incalculáveis da Previdência Social, bem no momento em que você recebe a notícia que será refeito o cálculo de sua aposentadoria, diminuindo-a pra menos da metade de tudo o que você contribuiu a vida inteira, você terá que usar o pouco que sobrou dessa aposentadoria aviltante para indenizar o pobre do cidadão que só desviou essa verba fantástica porque foi envolvido “inocentemente” em uma teia de conspiração e corrupção.

Se você fizer qualquer coisa que seja honesta, com princípios éticos, morais, fraternos, humanos, com boas intenções, sem maldades, no afã de proporcionar uma ajuda a quem necessita, terá sua vida investigada como uma autopsia, para tentar descobrir o que se esconde atrás dessa figura ímpar que tenta mascarar uma vida de maldades, de maracutaias, de desvios, de negociatas, de contravenções, de crimes e de desajustes sociais, com “trabalhecos” sociais, que duvido não sejam financiados de alguma forma ilícita pelo governo.

É preciso ter conivência criminosa e aceitar pacificamente o mal-intencionado para ser considerado indivíduo-padrão.

É preciso deixar de ser bom para não chamar a atenção.

É preciso não mais se indignar com as injustiças para ter uma vida normal.

É preciso calar diante de todos e se anestesiar diante de tudo para finalmente poder dizer: “graças a Deus estou inserido no processo social”.

Sérgio Lisboa.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

FORMADORES DE OPINIÃO



Muitos cronistas, escritores e jornalistas se orgulham muito de serem “formadores de opinião”.


Hitler foi um dos maiores formadores de opinião que o mundo conheceu. A Xuxa e a Gisele Bünchen também o são atualmente.


O Faustão, o Luciano Huck, o Gugu e o Silvio Santos também são grandes formadores de opinião.


O grupo Rebelde também.


O Datena também!!!


A Derci Gonçalves era uma bela formadora de opinião. Inclusive ela era capaz de fazer palestras em empresas, resgatando no empresário o foco principal de sua atividade-fim que é o lucro. Para ilustrar melhor essa teoria, quando perguntada sobre qual a colocação que a Escola de Samba em que ela desfilou com os seios à mostra tirou naquele ano, ela simplesmente fuzilou: Sei lá! Que se fod...! Só queria saber do meu cachê!


Não é lindo?


O açougueiro da esquina de casa também, pois sempre faz com que eu leve um músculo de terceira, dizendo que é mais macio que filé. Faz com que eu mude de opinião acreditando nele e ainda diz que meu problema não é a dureza da carne e sim um problema odontológico, de dentição fraca por “farta” de vitaminas.


O cara é fantástico!



Formadores de opinião!


Chegamos a um ponto em que o que é ruim demais, o que não nos traz nenhum proveito, deturpa o nosso conhecimento, a nossa personalidade, acaba de vez com a nossa individualidade, nos induz a pensar de forma totalmente alienante, se apresentando como o grande pensador do século e, quando resolvemos duvidar de suas teorias, acabam citando estelionatários de marketing profissional que migram como aves de rapina, das grandes religiões universais para as grandes teorias econômicas mundiais, tornando realidade o tele-transporte, a serviço de uma materialização de moléculas de DNA, classe “171”.



Se for inevitável ouvir um formador de opinião, eu prefiro ouvir atentamente a um vendedor-ambulante de uma praça central.


Pelo menos com esses ainda dá para pechinchar.


Sérgio Lisboa.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

OPERAÇÃO PAPEL HIGIÊNICO

Por uma daquelas circunstâncias do destino, que fizeram o mega-enrolado Daniel Dantas ter o mesmo nome do ator, outros indiciados no processo tiveram seus homônimos em outras profissões, inclusive de escritores, ou a pior classe deles: a de cronistas.

A PF entrou na casa do cronista e apreendeu seu HD, onde tinha inícios de crônicas, daquelas feitas durante uma sessão de vinhos argentinos de dez reais.

Inclusive ele tentou protestar contra os agentes, alegando que eles deveriam investigar essa conspiração argentina contra nós, derramando no mercado, vinhos com alguma propriedade alucinógena que, de alguma forma, removia as nossas cataratas e nos fazia enxergar o que realmente estava acontecendo no país. Não ajudou muito a sua situação inicial.

Esses inícios de crônicas (confundidos com indícios telefônicos) só não foram “deletados” porque ele se embebedou tanto que a prioridade era limpar o vômito do teclado, no dia seguinte.

São inícios e, ao mesmo tempo, restos de textos, que ele fez logo após discutir com a sua mulher sobre a importância de uma reunião de Tupperware em casa, em contraponto às iniciativas ambientais mundiais contra o uso de plástico no meio-ambiente.

Com o argumento de sua mulher de que o pau de macarrão dela ainda era de madeira, mostrando toda a sua preocupação com o meio-ambiente, ele acabou cedendo, até porque ela contribuía e muito, para a preservação da fauna, com a criação de novos galos, mesmo que fossem na testa dele. A coisa só se agravou quando ele quis saber se aquela madeira do pau de macarrão era madeira legalizada.

Já na Polícia Federal, o mais engraçado foi o cronista ter que dar o seu depoimento explicando o que ele queria dizer com aquele início de texto em que compara a Madre Teresa com a inflação do país.

Não convenceu muito ele explicar que ambos só ajudaram os pobres quando estiveram por baixo. Pelo menos, um cara do Pelotão de Choque (parecia ser do Pelotão de Choque) não sentiu uma energia positiva na explicação.

Ou aquela em que ele faz um discurso inflamado contra a liberdade de ex-pressão, ou seja, contra o reaproveitamento de torturadores da ditadura, como roteiristas de programas de auditório.

Não foi convincente quando, tentando remendar, disse que as dançarinas do programa são perfeitas para programas.

Hoje em dia é preciso ter cuidado até com o nosso nome, pois sempre vai ter alguém investigado com um nome idêntico, que fará com que acabemos explicando tudo o que fizemos nos últimos anos, inclusive o fato de aumentarmos o consumo de papel higiênico.

A Receita Federal pode provar que o aumento do consumo desse material de limpeza não condiz com a nossa renda declarada.

Sérgio Lisboa.

terça-feira, 15 de julho de 2008

UM BOM PARTIDO NO SUPERMERCADO



Eu li numa dessas revistas especializadas (sempre tem uma revista especializada para ensinar a ter as coisas que ninguém nunca consegue e só você vai conseguir) que para se achar um bom partido, tem lugares próprios e específicos, provados cientificamente.


O bom partido que eu estou me referindo aqui, é um bom namorado, um bom marido e não um bom partido político, até porque esse termo já é um termo impossível, grafado com “vício de origem”.



Uma das dicas da revista é procurar numa seção de vinhos de um bom supermercado, não em um “atacadão”, pois lá só vai encontrar pinguço pegando vinho de garrafão, um tinto e um branco, para misturar em casa e fazer um rosé “pra muié”.



Outro lugar aconselhado são as seções de livros, pois parte-se do princípio de que quem se preocupa com a leitura é uma pessoa culta, fina e que tem muito para conversar e ensinar. Só é preciso ver qual corredor de livros essa pessoa está, pois se for alguém interessado em “Jack, O Estripador” ou “ A Biografia De Xuxa”, ou até mesmo as crônicas de “Bruna Surfistinha”, é melhor sair de fininho e ir em outro tipo de estabelecimento.



Se você quer achar alguém com dinheiro no supermercado, por exemplo, é só ficar junto à peixaria, mas colado aos camarões e salmões. Não desgruda deles. Quem chegar e comprar um desses pode ter certeza que algum dinheiro a mais essa pessoa tem. Mas observe bem cada movimento da presa, pois ou você passa o resto da vida comendo do bom e do melhor ou vai ter que se virar na zona para sustentar um pobretão metido a rico.


Se nunca aparecer ninguém, o que é mais provável, você corre o risco de, assim como tem a “Maria Gasolina” e a “Maria Chuteira”, ser conhecida por um termo mais nobre, como a “Maria Salmão”. É bem mais chique!


Apesar de todas essas dicas, eu me atrevo a sugerir para quem quer conseguir um bom partido, e que esse seja simples, carinhoso, fiel e firme em suas convicções, além de ser um amante à moda antiga, fique de prontidão na seção de farináceos, e agarre o primeiro homem que botar a mão em uma caixa de Maizena.


Só tem um problema: ele pode ser um debilóide que adora mingau e mora com a mamãe e leva para ela fazer para ele ou deve ser casado e com filho.


Ninguém disse que seria fácil.


Sérgio Lisboa.






sexta-feira, 11 de julho de 2008

SORRISO DE CRIANÇA



Hoje eu fui ao shopping levar a minha sobrinha naqueles brinquedos de bolinhas e labirintos, de escorregadores e tubulações.


Eu achei bem didático esse brinquedo, uma vez que ele antevê situações que as crianças enfrentarão no futuro, com muitos labirintos, escorregões e entradas pelo cano.



Enquanto ela se divertia por lá, eu fiquei do lado de fora, numa verdadeira alegoria da própria vida: as crianças e os jovens fechados em seu mundo de fantasia e nós, os adultos, do lado de fora, sentindo a brisa fria da realidade soprando em nossos rostos, livres, preocupados e solitários, quando na verdade, queríamos estar presos e seguros a um grupo, protegidos nem que fosse por um olhar vigilante que nunca nos perdesse de vista.



Sentei num café, onde havia várias mesas, praticamente ocupadas e, por incrível que pareça, um sofá, com uma mesa, completamente vazios.


Em cima da mesa uma revista de circulação nacional, cujo título era: ”A vida começa aos 50”.


O que me fez pensar que eu devia passar a maior parte de minha vida sem me preocupar com nada, para só após os 50, pensar em viver.


Sentei sozinho naquele sofá, com uma mesa na frente só para mim.



Enquanto sorvia o meu café, que veio com um copinho de água bem pequeno, capaz de matar a sede de um beija-flor, se não for verão e um pau de canela para ser usado como colher e mexer o café, além de uma bolinha doce, que mais parecia um haxixe, que não me atrevi a tocar, deixando-a como enfeite do café.



Olhei para aquelas atendentes tão jovens, com um futuro tão incerto, sendo monitoradas por um gerente tão jovem quanto elas, só que aprendera a fazer cara de sério para impor um respeito à sua função, mas que naquele momento se juntou a elas numa cumplicidade nunca vista, como que a dizer que estavam todos no mesmo barco.


Pensei em escrever algo sobre eles ou sobre aqueles tipos que passavam por todos os lados.



Aquele sofá só para mim, aquele café, aquela infinidade de personagens e aquela paz, tudo parecia um cenário montado, ideal para uma crônica, bastando apenas escolher o tema.



Mas ao olhar para o lado havia uma menina, que duvido tivesse mais do que quinze anos e um carrinho de bebê com um bebê-menino, certamente com menos de um ano de vida.


E aquele bebê me olhava e sorria, com um sorriso tão forte e tão espontâneo, que eu não vi mais nada ao meu redor.


Ninguém mais viu a nossa troca de olhares e de sorrisos, só nós dois. Eu e o bebê. Nem a menina que o acompanhava notou a nossa interação.



Então, inexplicavelmente, comecei a derramar lágrimas, não por tristeza, depressão ou algo assim. Eu tinha paz, eu tinha conforto e tinha o sorriso de uma criança desconhecida. Naquele momento eu tinha tudo.


Não sei ao certo onde a vida começa, se é aos 20, 40, 50 ou 90.


Só sei que ela passa, magicamente, pelo aval sincero de um sorriso de criança.


Sérgio Lisboa.



terça-feira, 8 de julho de 2008

CANDIDATOS

O repórter foi entrevistar uma prostituta candidata à reeleição deste ano, que começou muito cedo a sua profissão não muito recomendável (esta expressão serve para quaisquer das duas profissões dela) por isso não teve a mesma sorte de muitos de nós que é não ganhar dinheiro, digo, de ter estudado.

(Repórter) Soube que a senhora saiu num jornal de grande repercussão.

(Candidata) Eu recebi um elogio de um jornal pela minha “autuação” no horário eleitoral gratuito.

(Repórter) Imagino! Esse jornal devia ser “autuado”.

(Candidata) O jornal disse que nos horários eleitorais gratuitos a minha “autuação” foi considerada tão boa quanto às falas de uma atriz pornô.

Eu estou me referindo às falas! Não estou me referindo às outras “autuações” das atrizes pornô, que daí, moléstia a parte, eu daria melhor!

(Repórter) Tenho certeza! Você não tem projetos?

(Candidata) Sim, projeto de aumentar a minha casa e fazer mais um puxadinho.

(Repórter) Não tem programa?

(Candidata) Tenho, é vinte real. Boquete até faço por cinquinho. Desculpa! Foi força do hábito.

(Repórter) E plataforma? É modelo Anabela de marcas paraguaias. Prefiro essas porque ninguém consegue falsificá-las. As outras eu não gosto, pois apertam meus calos. Sabe como é: político que se presta tem muito calo para pisar neles. Sem falar em joanete de usar sapato apertado e dançar em quermesse de pobre.

(Repórter) Algum projeto assistencial, tipo bolsa-família?

(Candidata)Bolsas só Luis Vulcão.

(Repórter) Não seria Louis Vuitton?

(Candidata) Por acaso você usa bolsa? Você deve ser desses Xerox que cortam dos dois lados.

(Repórter) Não. Eu acho que sou um Gillette e copio dos dois lados.

(Candidata) O quê?!!

(Repórter) Nada não! Não te dói a consciência?

(Candidata) O quê que é isso?!!

(Repórter) Qual o teu projeto para a proteção à criança?

(Candidata) A melhor proteção da “criança” ainda é a camisinha.

(Repórter) Você está associando o termo “criança” ao órgão sexual?

(Candidata) Eu estou falando com um poliglota das cavernas? Eu utilizei um cogumelo. Já ouviu falar? São palavras de duplo sentido.

(Repórter) Não seria um cognato? Uma ambigüidade?

(Candidata) Aí você já está misturando massa corpórea com o baixo ventre, metendo o umbigo no meio.

(Repórter) Apesar de tanto absurdo que eu ouvi, até que enfim uma coisa mais saudável e consciente, que é o uso de preservativo nas relações sexuais.

(Candidata) Relações sexuais? Para mim todas as relações são sexuais, principalmente a relação de nós políticos com o povo.

(Repórter) Qual a mensagem que a senhora deixa para o seu eleitor?

(Candidata) Meus queridos! Eleição e meretrício não tem muita diferença: você é obrigado a escolher os candidatos que estão ali na sua frente. Escolhe um, dá o teu dinheiro para ele, que ele vai fazer com você o que sabe fazer de melhor.

A “sastifação” é garantida!

Sérgio Lisboa.

sábado, 28 de junho de 2008

PRAGA DE MÃE



Minha mãe, nas poucas vezes em que pudemos conversar, me dava alguns conselhos definitivos, tais como: se um dia eu estivesse apaixonado por uma mulher e quisesse esquecê-la, eu deveria imaginá-la sentada no vaso sanitário com uma tremenda diarréia.


Confesso que deu resultado naqueles tempos de amor não correspondidos, mas levei um tempo para superar isso e não prejudicar outros relacionamentos posteriores, bem correspondidos, ao ficar imaginando a mesma cena com todas as outras mulheres que eu encontrei em minha vida.



Em alguns dos meus romances eu não precisei usar a técnica de minha mãe, pois algumas pretendentes ao meu coração, logo depois de uma refeição romântica, davam um sonoro arroto, daqueles de ruborizar vikings.



Outros conselhos que recebi de minha mãe foi com relação às drogas que, ao invés de termos um papo consciente alertando sobre os perigos do envolvimento com essas substâncias e das conseqüências nefastas tanto físicas, sociais, psicológicas, etc., ela simplesmente fuzilava: - Só o que me falta você estar fumando cocaína!


Na realidade esse comentário dela, direto e objetivo, não deixando margem para nenhuma réplica até que surtiu o efeito necessário, pois do meu lado, sempre que estive próximo de alguma droga, eu mesmo questionava a mim e aos outros: - É só o que falta!


Depois é que eu fui ver a visionária que era a minha mãe, ao prever que a cocaína fumada, chamada “crack”, seria o grande flagelo de nosso tempo.



Outra dica de minha mãe, ainda sobre mulheres (por que será que mãe adora alertar os filhos sobre mulheres? Será que elas sabem o que seus pobres e ingênuos meninos vão sofrer no futuro?) é que ela, ao constatar que eu era muito ansioso e apressado para conseguir as coisas, não sabendo esperar a hora certa, desta vez não previu e sim vaticinou, com uma praga típica de mãe:


- Quando você casar, meu filho, devido a essa sua pressa, sua mulher não pode usar calcinhas, pois você não sabe esperar!


Adivinhem!


O que a minha mulher poupa em calcinhas ela gasta em sapatos. Casei com uma centopéia das pernas arejadas.


Sérgio Lisboa.

















PAI-DE-SANTO NÃO ENTRA EM FRIA



Eu li numa dessas publicações jurídicas que a Justiça deu ganho de causa a um pai-de-santo por serviços de limpeza e descarrego prestados a um frigorífico.



O frigorífico havia contratado o profissional espiritual para os trabalhos em sua matriz e duas filiais ao preço de R$15.000,00 a mão-de-obra e R$ 1.800,00 para os materiais utilizados.


Não foram especificados os materiais utilizados, mas pelo preço cobrado e como se trata de um trabalho em um frigorífico, certamente foram usadas sedas francesas com cores quentes e muitas meias de lã uruguaias, para combater o pé-frio do negócio.



O dono da empresa alega em sua defesa de que o serviço não surtiu nenhum efeito, pois a sua urucubaca, além de não diminuir, ainda aumentou, pois a clientela deixou de comprar o seu produto devido ao forte cheiro de charutos e defumadores.



O pai-de-santo, por sua vez, alega em sua defesa que a energia negativa no local era muito forte, em função de tantas almas penadas rondando a empresa e tantos espíritos de bois, frangos, carneiros, porcos, eleitores e outros animais, que não aceitavam a sua desencarnação dizendo que ainda tinham muito o que pastar.


(Escrevi “eleitores” acima, mas quis dizer “leitões”).



Por uma questão de segredo de profissão, o pai-de-santo guardou o que presenciara para si, mas encontrou vagando por ali, espíritos de gatos que miavam se lamuriando porque ali não era o seu lugar. O dono do frigorífico, ruborizado, confidenciou ao pai-de-santo que havia diversificado o negócio, vendendo churrasquinho em frente à empresa, com carne vinda de um fornecedor duvidoso.



Dizem que o pai-de-santo pensa em ingressar com uma nova ação, visto que após esse serviço, em virtude da frieza das instalações, contraiu uma gripe que perdura há meses, já dando sinais de evoluir para uma pneumonia.



O dono do frigorífico, por sua vez, pensa em entrar com um recurso contra a decisão judicial, alegando que o juiz estaria impedido de julgar por concurso de interesses, uma vez que a sentença foi dada por meio de um “despacho”.


Sérgio Lisboa.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

O ESPÍRITO DA MATÉRIA

Por que a gente aprendeu tanta coisa ao longo da longa vida escolar?

Já foi dito por um grande mestre em educação que, se os alunos não conversam no recreio sobre o que acabaram de ouvir em sala de aula, alguma coisa está errada.

Aprendeu-se a dividir, mas depois a vida não perdoa quem não pensa só em somar.

Aprendeu-se sobre química, sempre numa visão matemática, somando-se os elementos, mas nada sobre ficarmos completamente a mercê de alguém, por pura química.

Sobre física nos disseram que dois corpos não poderiam ocupar o mesmo lugar no espaço. Vai ver que nunca fizeram amor.

Aprendeu-se sobre a história de grandes homens e conquistas, só mais tarde é que fomos descobrir que tudo não passou e até hoje não passa de ganância econômica.

Aprendeu-se a ler, mas não a interpretar.

Aprendeu-se a escrever, mas não o que é importante escrever.

Aprendeu-se a decorar ou memorizar e isso nos fez esquecer de interiorizar o conhecimento ou de assimilar a lição.

Não estou fazendo nenhuma crítica a um dos mais importantes agentes desse processo que é o professor, pelo contrário, ele também é uma vítima dessa ditadura que impõe uma enxurrada de carga horária e de disciplinas, cada vez mais distante da realidade em que vivemos.

De todas as coisas que aprendi na escola, talvez a mais repetida delas, tenha sido a tabuada, com suas multiplicações decoradas tipo, “dois vezes dois é igual a quatro”. Me lembro, como se fosse hoje, que o meu professor fez questão de frisar que era importante lembrar, pelo menos essa multiplicação: “dois vezes dois é igual a quatro”.

Talvez, como uma espécie de guardião de um “Código da Vinci” educacional, passado de mestre para mestre, a tabuada fosse o mais forte sinal do que a vida nos reservaria no futuro: verdadeiras “tabuadas” no lombo, que acabariam nos deixando literalmente de quatro.

Sérgio Lisboa.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

QUAL A SUA IDÉIA DE PARAÍSO?



No imaginário popular a idéia de paraíso é como aquele cenário dos “telletubbies”: Campos verdes, muitas flores, pássaros e coelhos passeando e seres alegres e saltitantes andando de mãos dadas como verdadeiros amiguinhos.



Uma vida linda, sem assaltos, sem Faustão, sem cólicas e sem imposto de renda.


Os nascimentos e as mortes surgindo à nossa frente com uma naturalidade sublime.


Você deve estar se perguntando, como assim nascimento e morte? Claro! Estamos falando de um paraíso aqui na terra, enquanto estamos vivos. Um cenário ideal de perfeita harmonia entre os homens e entre a natureza. Não o paraíso religioso onde não existem mais dor nem morte. O paraíso da boa vontade entre os homens e em vida.


(Eu só nunca entendi porque os “teletubbies” moram em iglus se lá é sempre primavera).



Outros dirão que não é esse paraíso que eles imaginam para si. O que eles queriam era um shopping center ao lado da casa deles, um carro com motorista nem que seja só para sair de uma garagem e entrar na outra e muita gente pobre e ordeira em volta dele, para morrerem de inveja de tudo o que ele tem e, ainda assim, não lhe arrancarem nada.



Um terceiro mais comedido e mais justo diria que o cenário ideal de um paraíso seria todos terem acesso a tudo o que gostariam e não faltasse nada para ninguém.


Desde que não quisessem ter bombas atômicas, pois para isso seria necessário algumas regras que seriam cobradas por...sei lá! Seria criado um órgão para definir e cobrar essas regras (olha o perigo aí, gente!)



Realmente não é fácil. Se definir o que é o paraíso já é difícil, o que dirá concretizá-lo. Mesmo assim, a gente não deve desistir da idéia de uma vida plena, com igualdade de direitos, sem necessidades não atendidas, sem sofrimentos, sem medos, sem ansiedades, sem programas de auditórios e sem campanhas políticas.



Como o meu paraíso ideal é parecido com o cenário dos teletubbies, vou treinando, desde já, a cumprimentar alguém quando chego e quando me vou, fazendo mais ou menos assim: Ooiii!! Tchaauuu!!


O duro desse meu paraíso é ter que dar aqueles pulinhos que eles dão. O resto é fácil.


Sérgio Lisboa.






domingo, 22 de junho de 2008

A ÚLTIMA FRONTEIRA

Teve um episódio da série Jornada nas Estrelas, o antigo, com Willian Shatner e Leonard Nimoy, em que um irmão mais afastado do Spock, tinha uma técnica em que ele arrebatava seguidores com uma coisa de magia que consistia em tirar a dor das pessoas, na medida em que elas lhe falavam sobre o que lhes doía no passado.

Mais ou menos o que os psicanalistas fazem hoje com a gente e, principalmente os pastores modernos que se proliferam tão rapidamente quanto a necessidade das pessoas.

Fale-me de sua dor, que a sua dor o libertará.

Quando alguém aceitava a sugestão e falava do que tinha engasgado em sua garganta e no seu peito, trazendo consigo uma mágoa e uma angústia tão peculiares a todos nós, ele repassava aquele filme diante da pessoa, dando-lhe a chance de mudar a sua frase naquele momento devastador, de mudar a sua atitude ao rever a sua patética atuação na única fala mais importante que a vida lhe dera e, como que por encanto, a pessoa se libertava, ao mesmo tempo em que se transformava, contraditoriamente num seguidor cego dos passos daquele libertador de sua dor.

Não muito diferente de como as coisas funcionam hoje.

Infelizmente, acho que precisamos urgentemente de guias, sejam eles espirituais, artísticos, políticos ou qualquer tipo que nos façam acreditar que é preciso acreditar que tem que ter alguém que nos faça acreditar, não importa em quê.

O capitão Kirk, o nosso herói, o homem que detinha em si mesmo, a última fronteira da razão, o equilíbrio e a coragem que, audaciosamente, nenhum homem jamais experimentou foi, naquele episódio, confrontado com o nosso personagem que tirava as nossas dores, que nos traria o alívio, que faria com que acreditássemos que um novo mundo é possível, e, se quiséssemos, em suaves prestações.

E, ao ser abordado pelo tal ser “iluminado”, esse disse para o nosso herói: “Fale-me de sua dor, que eu a tirarei e serás um homem livre!”

Foi quando o Capitão Kirk, respondeu como um penetra na festa da mesmice:

“Eu não quero que tires a minha dor! Eu preciso dela, pois é ela quem faz o que eu sou!"

E o homem foi embora.

Fico feliz em saber que não foi totalmente perdido aquele tempo em que eu e a televisão fomos confidentes.

Sérgio Lisboa.

sábado, 21 de junho de 2008

AMOR MAIOR QUE O TEMPO

Giancarlo e Marlúcia namoraram quando ela tinha dezesseis e ele dezoito anos.

Foi um namoro rápido, porém intenso.

Ela estava noiva de outro rapaz, mas se apaixonou por ele.

Por essas circunstâncias da vida, eles se separaram.

E nunca mais se encontraram.

Vinte e poucos anos depois, o destino os colocou frente a frente.

Estavam lá, Giancarlo e Marlúcia.

Ela separada e com dois filhos.

Ele casado e com três filhos.

Ela, surpreendentemente, confessou a ele que nunca o havia esquecido, que casara e se descasara, que tentou e desistiu, mas que nunca, nem por um instante, deixara de pensar nele e que nada deu certo em sua vida, pois tudo o que sempre quis foi ficar com ele.

Ele depois dela, casou com a primeira que apareceu e ficou até hoje.

Vinte e poucos anos depois.

Ele, que também nunca a tinha esquecido, estava num misto de alegria, surpresa e preocupação. É, preocupação.

Hoje ele estava casado. Era um homem comprometido.

O passado bateu à sua porta e o pegou de pijama e chinelos. Barba por fazer.

Ela começou a lembrar cada detalhe, cada instante, cada momento que passaram juntos, numa máquina do tempo maravilhosa, mas perigosamente estonteante.

Lembrou daqueles amassos na parede da escola, daquele perfume diferente que ele usava, que nunca mais tinha saído, da primeira blusa que ela esteve com ele.

Lembrou de cada intimidade, fazendo com que ele revivesse cada momento de sua juventude com aquela namorada que fora a mais inesquecível que ele tivera.

E agora? Pensou ele.

Foi um amor de juventude que nunca esquecera e que se materializava em sua frente, muitos anos depois, mas tão linda como sempre foi.

Ele também, não mudara muito.

Parece que ambos se guardaram como que parando o tempo para se reencontrarem.

Ela, livre e desimpedida, confessando seu eterno amor ali, diante dele e ele casado, comprometido e atordoado com aquela situação que os sarcásticos deuses do amor lhe aprontaram.

Ele então foi para casa naquele dia, vivendo aquela história mágica e ao mesmo tempo atordoado, quando a sua esposa lhe pergunta o que é que ele tem. Ele tomando uma coragem que nunca teve até então lhe diz: - Querida, estou sofrendo com um dilema!

Ela então, não deixando que ele continuasse, fuzila: - Dilema? Dilema é coisa de frouxo. Por isso é que eu tenho que decidir as coisas por aqui!

-Compra a máquina de lavar e esquece essa história de sair para pescar com os amigos!

Sérgio Lisboa.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

TE LIGA!



De todas as invenções do mundo, desde os primórdios, antes mesmo da invenção da roda, ou seja, desde a invenção do eixo da roda, a minha mulher é eternamente agradecida a uma só invenção e a um só inventor: Grahan Bell.


Ele mesmo! O homem que inventou a máquina de gastar sem sair de casa. O homem que inventou a máquina de brigar com a família a quilômetros de distância. O homem que inventou a invasão diária das tele-marketing. O homem que inventou o seqüestro-relâmpago praticado por um homem preso e acorrentado num presídio de segurança máxima. O homem que inventou um localizador de marido no happy-hour. O homem que inventou algo para facilitar a comunicação entre as pessoas que estão longe e complicar a comunicação para os que estão perto. O homem que inventou o telefone.



O telefone. O velho conhecido telefone.



Eu sei que hoje tem o MSN, o Orkut, o e-mail e tudo o mais que também aproximam os de fora e afastam os de dentro. Mas o velho telefone continua ainda como o grande vilão dos distanciamentos dentro das nossas casas. Seja fixo ou móvel.


Sim porque o problema não está na tecnologia do aparelho ou na forma como ele permite a movimentação, pois se tratando de telefonemas dentro de casa pode ser até o fixo sem fio.



Lá em casa é tão certo quanto notícia ruim do governo: quando saio e todos estão na porta sorrindo e abanando para mim, como um comercial de margarina da família feliz, e eu, quinze segundos depois de ter saído resolvo ligar para casa, adivinhem? O telefone está ocupado!



Essa semana o recorde foi superado e ficou em nove segundos. Eu tenho certeza que eles podem dar mais de si, no que diz respeito à velocidade do uso desse aparelho tão importante, mas que foi transformado em uma máquina de trocar banalidades.



Um amigo meu contou que esses dias pediu para a filha dele que falasse com quem quisesse, o tempo que quisesse, mas pelo amor de Deus, não usasse o telefone para trocar receita de bolo.


Foi quando ela interrompeu a sua ligação, se virou para ele, tapou com a mão a parte de baixo do telefone, virou os dois olhos para o teto e demonstrando uma impaciência digna de uma “funkeira”, fuzilou-o com uma AR-15:


- Pai, não estou trocando receita de bolo. Não sou mais criança. O assunto aqui é sério. Estou ajudando a Lurdinha, que está desorientada, a como fazer um aborto!


Sérgio Lisboa.




quinta-feira, 19 de junho de 2008

EU, ROUBÔ

“The Trons” é uma banda de rock da Nova Zelândia, formada por robôs. Eles têm até um vídeo-clipe, cujo nome da música é "Sister Robot". Possuem também, até página na internet, que define o seu estilo como de influências do Velvet Underground e Yo La Tengo.

Os músicos-robôs são um tanto arredios com os fãs, mas seus empresários garantem que não é estrelismo e sim, que eles, por natureza, evitam relacionamentos mais sentimentais.

O que não difere muito dos roqueiros de carne e osso. O único problema é que a música, embora um tanto sem vida e muito repetitiva, ainda assim é muito melhor que muito banda por aí. No clipe, o tecladista com o rosto de um alto-falante, está vestido com uma camisa branca e uma gravata. E só. O guitarrista é um porta-casacos e seu rosto também é um alto-falante.

Eles não são robôs inteiros, com braços e pernas, como um boneco gigante, possuindo apenas um alto falante e alguns dedos metálicos, tanto para o teclado, quanto para a guitarra e a bateria toca sozinha. Mas mesmo assim a fábrica de mitos que o imaginário associado ao capitalismo industrial conseguem produzir, já elegeu o vocalista da banda, como os olhos mais lindos do cenário pop e o bumbum do tecladista o maior objeto de cobiça da última revista People.

Já foram flagrados em festas que são verdadeiros bacanais onde rola de tudo, desde jovens modelos de ipod e Mp7, até prostitutas mais experientes, tipo Windons 98, incluindo sessões de consumo de drogas mais pesadas como pó de silício e injeções de laser em seus circuitos.

Já há rumores, de um de seus integrantes, até de ter um caso com a própria placa-mãe, o que foi veemente desmentido pelos empresários.

Outro escândalo que não está sendo fácil desmentir é o do baixista que após anos de casamento com uma geladeira, não agüentando mais a sua frieza, resolveu ficar com alguém “mais quente” e tem sido visto freqüentemente aos beijos com um aquecedor. Por enquanto são apenas boatos.

Esse grupo estava pensando numa turnê para fazer shows aqui no Brasil, mas por enquanto, não tem nada confirmado, até mesmo porque as “raves” com seus sons “tecno” e as festas “funks” já são embaladas por robôs há muito tempo. Dizem as más línguas que até seus freqüentadores, com o tempo, estão todos se “robotizando”.

Talvez o melhor para eles conseguirem sucesso mais rápido por aqui, seja aproveitando o ano eleitoral e ser contratado para showmícios, até porque é a forma mais coerente do candidato tentar demonstrar uma emoção um pouco maior do que o artista.

Mas isso não é garantido.

Sérgio Lisboa.

sábado, 14 de junho de 2008

HOMOMILITARISMO

A tentativa do Exército Brasileiro de punir ou melhor, de fazer sumir os protagonistas de um romance gay de seus quadros, tem chegado a beira do ridículo.

A aversão, o preconceito, o embaraço, causam mais desdobramentos “trapalheônicos” do que qualquer tentativa mais equilibrada de enfrentar a situação.

A história nos mostra que em todos os lugares onde existe a clausura, o rigor, a disciplina irracional, a negação do individualismo, ali sempre residirá a contrariedade àquela imposição estabelecida.

O homossexualismo é um tabu tão grande em nosso país e seu preconceito está tão enraizado em nossa cultura que precisaremos de mais um milênio para que haja, de fato, algum avanço.

A própria mídia, como sempre, um prato cheio para os humoristas mais atentos, estampa em suas manchetes: “Sargento Gay foi torturado”, “Militar homossexual está preso”, etc.

Eles nunca dizem “Político ladrão consegue se reeleger” ou “Jornalista corrupto faz mais uma matéria tendenciosa”.

As acusações do exército em relação aos envolvidos no caso são risíveis. Os militares os acusam de alteração no uniforme, ocultar informações sobre o companheiro e ausência ao serviço. Se ocultar informações sobre o companheiro fosse crime, o presidente Lula devia pegar cem anos de prisão. Quanto à ausência ao serviço é só deixar um camburão na sexta-feira em Brasília.

Que o exército tem uma disciplina própria e uma legislação diferenciada, isso todo mundo sabe.

Só que essa instituição que, sem dúvida nenhuma é o baluarte, o estandarte, o bacamarte de nosso país, tem como responsabilidade a garantia dos poderes constitucionais, entre outros.

E a constituição não admite torturas, perseguições, preconceitos e cerceamento de defesa.

Ás vezes é preciso que uma minoria, para ter sua voz ouvida, não grite no maior microfone disponível, mas que toque uma melodia no mais afinado, caro e intocado instrumento exposto em um museu.

É mais difícil de ser arrancado de suas mãos, sob pena de danificá-lo e enquanto isso não acontece, sua música continua a ser ouvida por todos.

O único risco é que eles, inteligentes que são, vão acabar prendendo-o por tocar música em público, sem estar em dia com a mensalidade da Ordem dos Músicos.

Sérgio Lisboa.

ALIMENTOS SEXUAIS



A cebola e o alho ingeridos regularmente podem ser muito benéficos para o coração, uma vez que quem ingere esses alimentos acaba ficando com um bafo desgraçado, impedindo a aproximação de quem quer que seja, muito menos de um par romântico disposto a beijá-lo, o que lhe garante uma imunidade amorosa e, por conseqüência, não sofrendo das coisas do coração.



Ovos e tomates podem ser usados como atenuantes do stress, já que eles servem perfeitamente para ataques a políticos em comícios, exteriorizando a sua indignação com as atitudes desses cidadãos e liberando a bílis.



Laranjas podem ser usados como elemento motivador de auto-estima, pois dão uma sensação de que o indivíduo possui em seu nome, grandes valores em sua conta corrente. O problema é que essa sensação positiva, gerada por laranjas, dura muito pouco tempo e pode formar uma nova doença chamada SDS (Síndrome do Deslocamento Sucessivo).



Mandiocas em estado cru podem ser usadas como substituto sexual, atenuando algum eventual jejum e trazendo um certo alívio por um determinado período. A recomendação desse tubérculo é para o sexo feminino, mas o uso do mesmo fica a critério de quem melhor se adapta a dieta.



A casca da banana tem sido a grande responsável por uma melhoria de vida, segundo os ortopedistas. Ela, pelos tombos que gera nas pessoas e conseqüentemente suas inúmeras fraturas, tem aumentado às consultas a esses profissionais, gerando maior renda para eles e uma óbvia melhoria de vida para esses médicos.



Pepinos e abacaxis, além de mudarem a rotina diária, são recomendados para aumentar a atividade física, pois já está provado cientificamente que sempre que aparece algum deles, as pessoas saem correndo sem olhar para trás.



A maçã, muito lembrada como símbolo do amor, realmente tem esse poder de manter uma harmonia sexual entre os casais, principalmente os que estão juntos há muito tempo, pois segundo alguns casais entrevistados, ela garante uma distração para a esposa, enquanto esta estiver embaixo do marido.


Sérgio Lisboa.










sexta-feira, 13 de junho de 2008

FRASES DE FILMES

Uma das coisas que mais me chama a atenção em um filme e não sai mais da minha cabeça, nem sempre são os cenários maravilhosos, a música envolvente, a fotografia deslumbrante, a atuação estonteante de um grande ator, nem mesmo um diálogo fantástico de um roteirista de primeira linha.

O que mais me chama a atenção em um filme e, geralmente em filmes banais, filmes de adolescentes, filmes de ação, aqueles filmes que não tem nenhum outro compromisso senão o de divertir, é aquela única frase, dita no único momento do filme em que os personagens não estão correndo, nem dependurados num abismo, nem salvando o mundo, enquanto palitam os dentes.

No filme de puro entretenimento e fantasia, “Superman”, o antigo, com o falecido Christopher Reeve, a Margot Kidder, personagem da Lois Lane, ao esperar a chegada do herói, que não veio naquela noite, revela: “como é triste ver o dia amanhecer, quando se passou a noite toda chorando”.

Não é uma frase assim tão profunda, mas nunca mais saiu da minha cabeça. Às vezes penso em rever esse filme só para reencontrar essa frase.

No filme “Indiana Jones e a Caveira de Cristal”, tem uma hora em que um personagem, referindo-se a um amigo comum que tinha morrido, diz para o Harrison Ford, o seguinte: “Chega uma hora em que a vida pára de nos dar para começar a nos tirar.”

Nunca tinha pensado a vida sob esse ângulo.

No meio de filmes tão banais, tão recreativos, tão leves, produzidos para dar risadas e trazer apenas alguns momentos de descontração, sempre acaba me marcando como uma mensagem mais forte, mais profunda, uma frase perdida (por acaso?) no meio de uma perseguição ou tiroteio de um filme de ação.

Muitas vezes essas frases podem até ter sido tiradas de um almanaque de farmácia ou de um livro motivacional que encalhou na livraria. Penso que, como esses filmes não tem nenhum compromisso com um roteiro mais elaborado, tanto é verdade que os roteiristas desses filmes nem vão à cerimônia do Oscar, a explicação deve ser outra.

Como nesses filmes o roteiro é a parte mais insignificante de todo o projeto, seus roteiristas escolhem a dedo uma única frase capaz de marcar um espectador mais sensível, que coincidentemente também gosta desse tipo de filme. É a forma deles mandar um recado para o mundo, dizendo que foram obrigados a escrever todo aquele roteiro ridículo, mas que, com aquela única frase, mostram a todos que seu potencial é muito maior.

Também é verdade que em um filme tão fútil e descartável, qualquer frase um pouco mais elaborada, soa como um achado poético.

De qualquer forma, sempre que sento para assistir a um filme de puro entretenimento, fico aguardando ansioso o momento daquele único diálogo, com aquela única frase, que vai me acompanhar pelo resto da minha vida.

Sérgio Lisboa.